Capítulo 1 - O começo

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A porta bateu forte. Eduarda olhou assustada e nervosa. Sempre que a Dona Mary fazia isso, ela ficava trêmula, tinha vontade de fugir dali e nunca mais voltar.

Sua mãe, Isabella morrera no acidente de carro quando tinha apenas seis anos de idade, deixando-a sozinha no mundo. O pai morrera antes, quando ela era ainda menor, e a mãe criara com carinho e bastante amor até então.

Sua mãe trabalhava no setor das melhores empresas de vendas, vivia com conforto. Uma bela casa, uma empregada, além de Joyce, uma mulher contente e bem-disposta, que cuidava de Eduarda enquanto ela estava trabalhando.

Embora a disposição no seu trabalho, desempenhando suas tarefas com o sucesso, Isabella não gostava de vida social. Não recebia amigos, nem saía para estar com eles. Preferia estar em casa cuidando da sua filha nos seus braços, contando umas histórias, brincando, assistindo tv com ela ao lado, que quase não a ligava. Isso provocava comentários de sua empregada, Jandira, que não se conformava com a vida tão simples que ela levava e comentava:

- Uma mulher, elegante, linda, com tanto dinheiro! Porque não sai para se divertir? Se eu fosse ela, não passaria o dia todo em casa!

Ao Joyce que respondia séria:

- Doutora Isabella é uma mulher ajuizada, não tem uma cabeça com a sua!

- Você trabalha com ela há mais tempo do que eu. Conheceu o marido dela?

- Não, vim pra cá logo depois que ele morreu.

- Que pena! Eu gostaria de saber como ele era. Nunca tinha visto um retrato dele. Você já viu?

- Não, mas eu acho melhor você não te meter na vida da patroa. Ela é bem discreta e não irá gostar nadinha disso.

- Você vai vê que ela não gostava dele. Não guardou nem um retrato dele!


- Ou gostava tanto dele que fez isso para poder esquecer e sofrer menos.

Quando a notícia do acidente voou , elas chocaram muito, pela morte de uma mulher tão boa, que as tratava com muito respeito, pela orfandade de Eduarda e pela perda do emprego. Ficaram inconsoláveis.

Joyce queria poder dotar Eduarda, mas não podia. Era pobre e solteira. Depois do enterro, como Eduarda não tinha parentes, e sua casa aonde morava era alugada, o Juiz mandou vender todos os bens móveis e o carro e depositar o dinheiro na caixa Econômica em nome de Eduarda, onde iria ficar todo o dinheiro guardado até que completasse a maioridade, Eduarda foi enviada para um orfanato em uma cidade do inferior. De lá, ela foi adotada por uma mulher casada com um político influente, Dora Rodrigues da Silva, que acabara de dar á luz a uma menina.

Entrevistada pela assistente social sobre as condições da doação, Dora afirmara que estava cumprindo uma promessa que fizera a Nossa Senhora do Bom Parto, portanto sua gravidez- estava com quarenta anos- fora de alto risco. Se tudo correspondesse bem, ela adotaria uma menina.

Escolheu Eduarda, o que foi tão difícil de conseguir, uma vez que os casais que desejam adotar preferem adotar bebê, e ela estava lá com seis anos de idade e nunca foi escolhida.

Eduarda já estava com doze anos quando foi adotada para casa de Dora. Sua cama foi colocada no quarto de Carla, a recém-nascida. A partir daí ela passou a ser a ama da criança. Não lhe faltavam comida, boas roupas, cursava uma boa escola e sentava-se á mesa com o casal. Aprendera boas maneiras e também descobrira que Dora era nervosa, exigente, principalmente quando recebiam convidados em casa.

Gostava de apresenta-la como a filha mais velha, contava história da sua adoção e colhia os elogios das pessoas, por não ter tido medo de escolher uma menina já crescida, criada sem orientação dos pais.

Só o amor consegueOnde histórias criam vida. Descubra agora