Tempestade

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O dia amanheceu chovendo. Eu corri para tomar um banho, enquanto Marck ainda dormia no lado esquerdo da cama. Tomei um banho quente, fiz minha higiene matinal e coloquei um blusão amarelo queimado, uma calça jeans dobrada nos tornozelos e uma pantufa- típico de dona de casa- Vou pra cozinhar preparar o café da manhã e minha mãe me liga
- Oi flor do dia, como tá se saindo aí?
-Oi mãe, com certeza as férias estão ótimas. Chamei Marck pra passar o tempo aqui comigo. Aliás amanhã é um dia importante não é?- Falo notando a amargura na minha voz.
- Não poderia esquecer essa data. Alguém ta me chamando filha, mais tarde eu te ligo.
-Ok até mais tarde. Desligo o telefone.
Olho pra janela que dá pra algumas dunas de areia e lá atrás bem distante, já dá pra ver o mar. Ele está claramente violento.
-Gostaria de entrar na tua mente e descobrir o que te deixa com essa carinha.
Olho pra trás e Marck tá encostado na entrada da cozinha com os lábios breviamente puxados pra cima. Devolvo um sorriso tímido pra ele. Depois de tomarmos o café, e montarmos um playlist de músicas juntos, vamos ao mar. A chuva está tremendamente forte. O vento está forte, fazendo as ondas se agitarem violentamente, se quebrando entre elas, e sobre a areia da praia. Estamos com roupas normais. Ele senta na areia e me abraça. Eu faço involuntariamente um carinho no rosto dele e choro. Cada vez mais perdida.
- O que vamos fazer amanhã?
- Que tal ficarmos em casa?
- Ótimo pra mim.
- Eu sei o quão importante ele foi pra ti. Mas quero que saiba que foi pra mim também. Nós vamos entregar alguma coisa pra ele eu prometo.
- Meu pai vai gostar, tenho certeza.
Ele limpa minhas lágrimas e me leva para o mar no seu colo. Deixamos nossos sapatos na areia. Eu fico abraçada nele com as pernas em volta da sua cintura. Eu sinto algo a mais por ele. Isso é só mais um motivo pra mim chorar. Ele beija minha testa e fala que temos que voltar.

        Quando chegamos em casa ele me leva para o chuveiro. Estou tão cansada. Deixo ele fazer tudo por mim. Ele tira minha roupa, me deixando apenas com as íntimas. Olho disfarçadamente pra sua calça e não vejo nenhuma ereção. Isso é bom. Significa respeito. Ele tira a sua roupa e liga o chuveiro e ficamos por um bom tempo abraçados.

         Decidimos fazer espagueti com molho e almôndegas enquanto escutamos "I just wanna live" de "Good Charlote". Ele conta piadas e faz umas danças esquisitas, enquanto eu caio na gargalhada. Consigo ver o esforço que ele tá fazendo por mim. O dia todo passa rápido e logo vamos pra cama dormir.

    
    "Alguns riscos de luz é possível de ser enxergar embaixo da água, a lua está muito clara hoje. Meu corpo tá cansado. Eu não tenho mais forças. O ser humano nunca será palho para a força da natureza. Cansei de brigar entre essas ondas furiosas. Meu corpo clama por oxigênio. Inevitavelmente eu respiro. A água invade meus pulmões. Queima eles. Meu corpo começa a pulsar. Sinto minha cabeça latejar. Eu estou sangrando. A luz já não existe mais. Pequenos reflexos apenas. A última lembrança além da dor, é o rosto de minha mulher com minha filha brincando no pátio. Estou pronto."

    Dou um salto da cama. Meu corpo tá dolorido, meu coração acelerado. Marck não está na cama. Confiro o relógio é 11:30 AM. Como dormi tanto? O que foi esse sonho? Algum tipo de visão do último momento do meu pai ? Relembro que hoje é 25 de fevereiro. Faz exatamente
4 anos que meu pai morreu.  Aprendi a lidar melhor com a situação agora, chorar vale mais a pena que tentativa de suicídio. Escuto a porta abrir.
-Oi Marck. Digo forçando um sorriso
Ele me olha sem sorriso. Ele vem com um buquê de rosas negras. Não consigo conter as lágrimas por ver a preocupação dele comigo. Ele me oferece a mão e vamos até a praia. O dia continua chovendo. A praia tá vazia. Eu subo na garupa dele e ele caminha pra dentro do mar. Largamos o buque em homenagem à ele (meu pai).
Sem choros. Sem palavras. Sem emoções. Somente o barulho das ondas e da chuva.

     Chegando em casa trocamos de roupas. Eu fico de calcinha, coloco um moletom e visto meias 7/8. Ele tá de calça e casaco.  Vou pra cozinha preparar pancakes enquanto ele lê um livro na sala.
- O que deu em ti?- Ele pergunta boquiaberto com minhas roupas.
- Ue tomamos banho juntos e ficar de calcinha é problema?
- Claro que não - Ele tosse, tímido.
- Pancakes com mel ou chocolate?
- Chocolate
-Ótimo, preparei café.

Depois de uma longa tarde conversando acabo percebendo que oque eu sinto por ele é forte. Não posso negar e entro no assunto.
- Marck.. eu acho que eu deveria te falar uma coisa..
- Não me diz que tá grávida!
- Credo que horror idiota!-
- Fala então.- Sinto meu rosto queimar e a coragem some. Ele me encara envergonhado e com medo
- Eu quero assistir Star Wars!- Digo rindo exageradamente e gaguejando.
Ele volta a cor normal e começa a rir nervoso também. Parabéns Jasmine, hoje vamos dormir olhando um filme!

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