Bolhas no céu

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  Quatro pequenas bolhas voavam livres no céu, os humanos olhavam facinados, invejando sua liberdade e o modo em que planavam em harmônia, seguindo seu rumo até seu destino.
  Mal sabiam eles, que a história não era tão bela assim afinal.
  No fundo do mar, uma história bem diferente era lembrada diariamente por um cavalo marinho apaixonado.

  ×××

  Certo dia, um grande aglomerado de pequenas bolhas se formou em uma área deserta do fundo do mar. Lá, um caranguejo estava preparando suas bolhas para serem livres por alguns dias, antes de terem que sair para o mundo dos humanos.
  Cada bolinha fora liberada em algum canto do gigantesco mar. Annie, nossa caranguejinha, foi solta em um aeroporto internacional marinho.
  Ficara perdida no início, nunca havia visto tantos peixes juntos, nem nunca vira outros tão importantes como os tubarões e presidentes de outros mares e oceanos.
  Viu várias cavalos marinhos fêmeas se prostituindo por ali, provavelmente algumas "companheiras" dos grandes líderes. Todas andavam com uma bagagem vermelha, as que não tinham a bagagem, não embarcavam em um táxi especial. Annie não entendeu nada sobre os táxis e nem para onde iriam, mas estava curiosa demais pra simplesmente perguntar.
  Por puro acaso, encontrou uma dessas bagagens vermelhas em um banheiro sujo. Uma de suas habilidades como bolha, era o poder de se transformar em qualquer coisa, então Annie usou isso à seu favor, mesmo não sabendo tanto sobre.
  Ela se transformou em um cavalo marinho fêmea e seguiu pelo aeroporto até a saída com sua nova bagagem vermelha.
  Os táxis era um caos, nenhum parava para ela e quando parava, outra pegava seu lugar.
  Dois rapazes se aproximavam dela, percebera que ambos flertavam com as outras mas sem sucesso.
  — Oi lindinha, será que eu posso ver o que tem dentro da sua bagagem? — perguntou um deles, o cavalo marinho. Annie ficou vermelha de vergonha, segurou sua bagagem com força e se afastou devagar.
  — Está tudo bem, não vamos machuca-la. — disse o seu amigo, o molusco, se aproximando. — Droga cara, é a Annie! — gritou batendo forte em seu amigo.
  Travis, o molusco, se dizia amigo da nossa caranguejinha. A incentivou à dar sua bagagem vermelha à uma outra moça e a levou para sua casa.
  — Minha casa ainda está em construção mas você pode ficar lá com a gente. Várias dessas garotas passam a noite lá, eu ajudei elas com isso. — Travis explicou a Annie no caminho.
  — Sério que aquelas garotas vão toda noite e você nunca me disse? — Filipe, o cavalo marinho, disse surpreso e estranhamente contente ao amigo.
  — Não disse pois sabia que ficaria assim, nós podemos ficar com algumas, se elas quiserem. — Travis comentou entusiasmado. Filipe concordou alegre e ambos começaram a falar as coisas que fariam se elas aceitassem, praticamente se esquecendo de nossa pequena Annie.

  A casa estava realmente em construção, não havia teto ou parede pintada, eram apenas paredes com rebocos. Annie se assustou quando viu aquilo mas não estranhou, estava começando a acreditar que eram realmente seus amigos.
  Apresentaram-lhe seu pequeno quarto e saíram em seguida. Annie, já muito cansada, se deitou e dormiu.
  Annie dormiu por dois dias seguidos.
Acordou faminta, Filipe a ajudou com a comida enquanto Travis conversava com os donos da obra ao lado.

  Uma forte amizade estava se formando entre Filipe e Annie. Filipe se mostrou ser bobão e engraçado, sempre contado uma piada para ver Annie sorrir.
  Todos os dias, os dois saiam para Filipe lhe mostrar a pequena cidade, eles conversavam sobre tudo mas o assunto que Annie mais gostava era sobre a paixão que ele tinha pelas garotas.
  — Você as ama? — perguntou inocente, ainda não sabia nada sobre o mundo.
  — Eu nunca amei antes, não sei como é, só sei que não amo aquelas garotas, só quero trepar com elas. — diz sem emoção.

  Os dias foram se passando e a cada dia, Filipe surpreendia Annie cada vez mais. Uma amizade que começara do nada e logo foi se transformando em amor.
  Todos os dias, Filipe lhe trazia flores e algo que ela gostava, fazendo-a se sentir especial.
  O lugar onde estavam não era nem um pouco aconchegante, mas ela via como o melhor lugar do mundo, onde ela realmente queria estar.
 

  Annie sentia que seus dias estavam próximos, uma dor no peito e uma incansável vontade de chorar a indicava o fim naquele lugar.
  Pouco tempo antes de partir, Annie sumira por dois dias inteiros, ninguém sabia seu paradeiro ou por onde ela poderia estar. A única pista que deixou foi para Filipe, um bilhete amassado dizendo que gostava das bolhas malucas que ele fazia e que apenas voltaria se ele fizesse o que ela realmente é nas bolhas.
  Filipe ficou confuso, não entendia o que ela gostaria de ver mas começou a fazer suas bolhas. Em questão de segundo, sua boca trabalhou a montagem de várias bolhas para que formassem um cavalo marinho e então ele esperou.
  Esperou por horas para que ela voltasse mas isso não aconteceu, frustrado ele tornou a fazer bolhas, agora com outros formatos.
  Por dois dias ele tentou de tudo, fez Abalones gigantes, vários atuns, lindas barracudas, lulas enormes e até mesmo um peixe-boi, mas se esqueceu do caranguejo.

  Annie retornou quando percebeu que não havia mais tempo, Filipe estava fazendo outro cavalo marinho quando ela apareceu.
  — Esse é lindo mas ainda não sou eu. — ela disse triste, seguindo para o lado deserto do mar, onde várias bolhas se encontravam, tantas quanto da primeira vez em que viera pra cá.
  — Então o que você é? Eu faço você, eu juro! — ele perguntou, mas não obteve resposta. Apenas esperou atento, olhando curioso para ver onde ela iria.

   Annie se sentindo no limite, se jogou de um pequeno penhasco tornando a se transformar em bolha novamente, voando livre como todas as outras.

  ×××

  Talvez eu quisesse ser as quatro bolhas no céu, para ser invejado sobre minha pequena liberdade mas no fim, apenas uma prende minha atenção.
  A qual amei por dias a fio, lhe fazendo rir e amando sua gargalhada tímida, para no fim, não conseguir dizer que amava e ela simplesmente ir embora.

  Todos os dias seguintes, neste mesmo horário, Filipe torna a olhar para o céu na esperança de sua amada voltar, para que ele finalmente falasse que agora ele sabia o que era o amor e qual o sentido dele.

  Agora eu sei. Obrigado Annie, minha pequena bolha.
Obrigado caranguejinha.

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Nota da Autora

  Oi gente, tudo bem com vocês? Espero que sim. Eu sei que esse conto pareceu um pouco confuso, foi tirado de um sonho que tive bem confuso também. Espero que tenham pegado a essência da história, a inocência da Annie e o amor que Filipe desenvolveu por ela, não se esquecendo dela mesmo com sua partida.
  Agradeço de coração por ler esse conto, um grande abraço e que seu dia seja maravilhoso, apesar das dificuldades.

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