Faculdade

190 17 45
                                    

  Fevereiro, 2016

  Takoda poderia se considerar um garoto sortudo. Esse jovem Jaguar de olhos alaranjados, cabelo preto liso, e altura mediana havia conseguido entrar no curso de belas artes em uma das faculdades mais conhecidas da capital. E como seu pai estava em uma boa condição financeira, ele conseguiu alugar um apartamento só para o filho. Mas aquilo não era um luxo, era uma necessidade.
  Ele com certeza estava ansioso. Talvez ele conseguisse finalmente fazer algum amigo. O que é irônico, pois seu nome (Takoda) Significa amigo de todos. Mas ele nunca pôde fazer amizades.
  Ele encarou o enorme campus da faculdade. Era intimidador, mas Takoda sabia que teria que  enfrentá-lo. Ele entrou lá, mas se viu perdido em meio a tantos corredores.
  Foi aí que ele esbarrou em alguém.

Takoda: Ah, desculpe, eu...

???: Tudo bem!

  Era uma moça, uma morcego que deveria ter a mesma idade que ele, com pelo azul escuro e cabelo prateados. Ela usava uma camisa laranja com uma calça jeans.

Takoda: Tô meio perdido hoje, Desculpe.

???: Tudo bem, também estamos. Me chamo Eco, e você?

Takoda: Takoda, mas por que você usou o plural?

Eco: Eu não estou sozinha.

  Ela recolheu suas enormes asas e revelou quem estava atrás delas: Dois coelhos, garoto e garota, ambos muito parecidos, com pelo alaranjado, cabelo loiro (longo na garota, curto no garoto) e olhos verdes. Takoda levou um susto ao ver que o garoto possuía quatro braços.

Takoda: Wow!

???: Me chamo Dakota.

  Falou a coelha.

???: E eu sou Kato.

  Completou o coelho.

Eco: Eles são gêmeos! Não é fofo?

Takoda: Cara, você tem quatro braços?!

Kato: Sim. Algo contra?

Takoda: Não, mas não deixa de ser legal, e diferente.

Dakota: Em que curso você está matriculado?

Takoda: Belas artes.

Eco: Que coincidência! Nós também!

Dakota: E também estamos perdidos.

Kato: Não mais.

  Ele apontou com seu braço inferior direito pra uma porta do outro lado do corredor, com o nome "Belas artes" escrito nela.

Takoda: Que coincidência.

Dakota: Né!

Eco: Bem, vamos entrando, as aulas devem começar daqui a pouco.

  E eles entraram na sala. A primeira rodada de aulas da tarde foi tranquila. Por volta das 15:00, eles tiveram um intervalo, e se dirigiram juntos para o refeitório. Takoda tentou o possível, mas não conseguiu afastar os outros. No fundo, ele até estava gostando disso, mas sabia que teria que cortar qualquer laço que formasse.
  Um Leão de pelos claros e juba preta os esperava no refeitório. Tinha um ar oriental.

???: Quem são esses Eco?

Eco: Só uns amiguinhos que eu fiz hoje na aula.

Takoda: Quem é você?

???: Sou Narciso, namorado da Eco, mas pode me chamar de Ciso.

  Ele sorriu.

Eco: Esses são Dakota, Kato e Takoda.

Dakota: Você parece estar bem feliz.

Narciso: Claro que estou! Eu consegui entrar no curso de administração, na segunda tentativa, mas consegui! E ainda foi na mesma faculdade que a minha namorada.

Kato: Bom pra você. Bem, vamos comer alguma coisa.

  Eles compraram alguns lanches e se sentaram juntos no refeitório. Enquanto comiam, eles conversaram.

Dakota: Então... De onde vocês são?

Narciso: Eu e a Eco somos daqui da capital. Já morei uns dois anos no interior, mas eu era tão pequeno que nem me lembro direito.

Eco: Eu nasci e cresci aqui na capital, mas faz uns dois anos que eu e meus pais nos mudamos pra parte subaquática da cidade. Meu pai trabalha no projeto da transoceânica, e eu... Sou uma amante da arte.

Kato: Por isso fez essa escolha de curso, né?

Eco: Sim, e vocês?

Dakota: Eu e o Kato viemos de uma cidade do interior, não muito distante. Como já devem saber, somos gêmeos. Eu escolhi esse curso porque me pareceu tranquilo e agradável. Talvez eu tente outro depois desse.

Kato: E eu adoro por a mão na massa. Acredite, arte é a melhor forma pra alguém com um par Extra de braços se expressar. Mas eu gosto mesmo é de tricotar. É bem relaxante.

Eco: Que legal!

Takoda: Desculpe se parecer insensato, mas porque você tem quatro braços?

Kato: O médico disse que é por que eu sou um tipo de quimera, meio que o resultado da fusão de dois embriões no útero de minha mãe.

Eco: Então vocês seriam trigêmeos?

Kato: Talvez.

Narciso: Braços são a única coisa que você tem em dobro?

Eco: Ciso!

Narciso: Tá bom, parei. Dakota, Kato, Takoda... Todos são nomes parecidos, fica fácil de confundir.

Dakota: Com o tempo você se acostuma, são nomes nativo-americanos. Nossa mãe é uma historiadora, e adorou esses nomes.

Takoda: No meu caso, eu sou indígena. Mas eu cresci longe da tribo dos meus pais.

Dakota: Que legal! Mas por que?

Takoda: Eles nunca me disseram o motivo, então, eu não sei.

Eco: Conte-nos mais sobre você.

  Takoda não queria acabar como o centro das atenções. Mas ele havia falado demais. O que ele poderia dizer? "Ah, meu pai é rico e me alugou um apartamento" Não. "Eu amo mitologia porque me identifico com os monstros" Não. "Ah, por um acaso, toda noite eu viro um monstro enorme" Definitivamente, não.

Takoda: Bem, eu...

  O sinal tocou, indicando o fim do intervalo.

Takoda: ... Acho que é melhor a gente voltar pra sala.

  Ele se levantou e foi na direção da sala, apressado. Os outros o acompanharam, exceto Narciso, que seguiu em outra direção, já que era de outro curso.
  No fim da tarde, quando as aulas terminaram, Takoda se apressou para ir embora, sem olhar pra trás. Ele tinha que chegar cedo em casa.

Orange eyesOnde histórias criam vida. Descubra agora