Estava na frente do prédio de Heidi já há quinze minutos, tomando coragem para subir. Com o coração na mão, comecei a entrar no prédio, em direção ao elevador. Por que eu estava tão nervoso? Era Heidi, minha melhor amiga desde sempre.
Quando cheguei na frente da porta dela, respirei fundo antes de bater. Espero que tudo corra como planejei. Porque na minha cabeça o plano era o seguinte: convenceria Heidi de que tudo foi um tremendo engano, e que devemos esquecer o que aconteceu. Afinal somos amigos, e eu não queria perder a amizade dela. Não queria perde-la por nada nesse mundo. Suspirei pela última vez enquanto tomava coragem para bater na porta.
Bati duas vezes, esperando ela abrir. Estava tremendo, nervoso, sofrendo por antecipação. E quando ela abriu a porta, fitei aqueles olhos grandes e castanhos. Fiquei hipnotizado naquele momento. Heidi piscava, meio sem entender a minha súbita perda de fala.
"Oi Tom...entra..." ela desviou os olhos dos meus, quebrando nosso contato visual. A obedeci e fui entrando em seu apartamento.
Eu já estive aqui várias vezes. E todas as vezes eu me sentia em casa. O apartamento de Heidi não era muito grande, mas era aconchegante. Olhando a decoração da sala, um filme passou na minha cabeça. Lembrei dos momentos que tivemos juntos, antes de toda essa confusão de ontem. Ela estava parada bem na minha frente, com a expressão séria. Seu cabelo estava preso em um coque, mas alguns fios teimosos corriam por seu rosto. Heidi cruzava os braços em frente ao seu corpo pequeno, cobrindo suas curvas, que ela tentava esconder embaixo de um moletom. Me olhava de um jeito desconcertante, como se pudesse ver a minha alma.
"Heidi...eu sei que você está querendo uma explicação... Bom, o que aconteceu ontem... o que nós fizemos..." ela continuava me encarando, e aqueles olhos brilhavam como dois diamantes. Paralisei por um momento, não conseguindo terminar o que tinha começado. O que estava acontecendo comigo?
Virei-me rapidamente em direção à janela. Precisava de ar. Não estava conseguindo respirar. Passei as mãos pelos cabelos, desesperado com essa situação. Eu não sabia o que fazer, o que dizer. Já não sabia mais o que eu realmente queria. Senti uma mão pequena encostar na minha. Aquele choque elétrico percorreu todo o meu corpo. Encarei Heidi assustado, e saí apressadamente em direção à cozinha.
"Tom! Fala comigo..." escutei ela sussurrar, implorando por uma explicação.
"Vou pegar uma água, já volto." respondi, abrindo a geladeira, pegando a garrafa e tomando em um só gole seu conteúdo.
A esta altura eu já tinha perdido todo o meu autocontrole. Minha pulsação acelerada não me deixava negar para mim mesmo que as coisas entre mim e Heidi tinham mudado. Mas como explicar isso à ela? Voltei para a sala em passos lentos, e me deparei com ela sentada no sofá, fitando a janela. A cada passo dado em sua direção, meu peito ficava mais apertado.
Sentei-me ao seu lado, e ela me encarou novamente. Mas desta vez seu rosto estava diferente. Pela primeira vez nesses anos todos em que conheço Heidi, ela parecia...vulnerável.
"Não sei direito o que te dizer agora, porque na verdade nem eu sei o que está acontecendo comigo. Eu não sei por que fiz aquilo ontem..." comecei tentando convence-la e a mim mesmo de que não foi nada demais. Tentei reunir mais coragem para continuar o discurso, mas seus lábios me atraíam de um jeito louco. Não estava conseguindo pensar direito enquanto a minha atenção estava toda naquela boca. Mordi meu lábio, tentando segurar aquela vontade maluca de chegar mais perto, como ontem.
Levantei e comecei a andar na sala, de um lado para o outro. Consegui ver pelo canto do olho que ela me olhava assustada, como se não me conhecesse mais.
"Como posso te explicar? Eu não consigo. Eu mesmo estou tentando entender o que está acontecendo comigo."
"Eu também não sei ao certo o que falar agora...você me beijou, eu te beijei de volta, estávamos muito bêbados, não estávamos pensando direito na hora..."
"Sim...estávamos muito embriagados mesmo né? Olha o que a bebida fez com a gente... Eu acho que vou dar um tempo para a vodka..."
Heidi levantou-se e veio em direção à mim. Comecei a ficar nervoso novamente, a medida que ela se aproximava. Antes que ela pudesse chegar mais perto, fiz um gesto para que ela parasse onde estava.
"Eu acho melhor a gente esquecer o que aconteceu ontem. Vamos fazer de conta que não foi nada demais. Passar uma borracha por cima de tudo, ok?"
A expressão no rosto de Heidi era de total confusão. Depois de alguns segundos me olhando sem dizer nada, ela finalmente concordou. Talvez eu estivesse mesmo fora de mim, mas ela parecia um pouco decepcionada.
"Tá tudo bem?" perguntei, soltando um meio sorriso.
"Posso te abraçar?" ela perguntou, com aquela voz de gata manhosa que ela costumava usar quando queria alguma coisa. Não consegui resistir àquela cara linda, e a chamei para um abraço.
Apertei aquele corpo pequeno junto ao meu. Em um primeiro momento, senti meu corpo tremer ao seu toque. Foi uma sensação de alívio. Senti ela me abraçar apertado e apoiar a cabeça em meu peito. Estávamos em silêncio, curtindo o momento. Mas eu podia sentir seu coração batendo freneticamente, assim como o meu estava. A apertei ainda mais contra mim, e a minha respiração subia e descia em um ritmo acelerado.
Em um impulso, comecei a acariciar seus cabelos macios, fazendo movimentos leves. Meu coração iria explodir a qualquer momento. Esses novos sentimentos estavam confundindo a minha cabeça. Naquele momento ali, abraçado à Heidi, eu não queria estar em nenhum outro lugar do mundo. Pois estar com ela em meus braços agora parecia o melhor lugar onde eu poderia estar.
"Tom?" ela falou baixinho, levantando a cabeça, me dando um olhar que fez meu coração derreter.
"Hum?" falei, encarando aqueles olhos, que agora eram tão hipnotizantes e estavam me chamando como uma oração
"Eu te amo." ela disse. Mas até então nós já havíamos dito isto um para o outro milhares de vezes. Só que agora era diferente. Eu me sentia diferente. Já não tinha mais certeza de nada.
Eu não consegui dizer de volta. Esse amor fraternal que tínhamos, eu já não poderia dizer com tanta certeza que era somente isso, pelo menos da minha parte. Algo em mim estava mudando, mesmo que eu quisesse negar. Aquela mulher linda que eu abraçava, me amava como um irmão. Mas e eu? Estava sentindo coisas por ela que nunca pensei sentir. Desejo. Atração. Tesão. O que era tudo isso?
Precisava de mais tempo para descobrir. E nesse meio tempo, nada poderia mudar. Eu tinha Alec, e o amava. Pelo menos eu acho que ainda o amo.
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Eu beijei uma garota [DEGUSTAÇÃO]
Roman d'amourEM BREVE NA AMAZON!!! Viver uma nova experiência sempre deixa marcas. Algumas são superficiais e apagam com o tempo. Outras são profundas, e difíceis de serem esquecidas. Um beijo. Um único beijo pode mudar tudo? Tom Wolfrang é um rapaz de 27 anos...