Socorro?

Vazio

Aria estava abraçada às laterais frias do vaso sanitário,tentando conter o som das golfadas do vomito.

O luar entrava pela pequena janela do banheiro,fornecendo assim a única iluminação,enquanto Aria vomitava cada coisa que havia comido.

Liam não se movera da cama quando Aria acordou sobressaltada,nem quando ela correu em meio a escuridão tentando discernir o caminho. Estava ali havia 15 minutos,esperando que o vômito parasse. Ofegante, Aria se apoiou sobre o vaso, contendo cada respiração.

Tinha sido apenas um pesadelo,um entre muitos,mas ainda só um pesadelo.

Por mais que tentasse,os eventos com o maldito "A" a assombravam constantemente.

Quando finalmente achou que havia acabado,se afastou com cuidado do vaso e se apoiou na parede perto da janela,onde podia ver o céu noturno e a brisa podia acariciar seu rosto suado. Aria puxou os joelhos até o peito e apoiou a cabeça na parede. Depois de um tempo,esticou o corpo e ficou de pé,deu descarga e seguiu até a pia para enxaguar a boca e lavar o rosto. Então encarou o próprio reflexo no espelho.

Aria desejou sentir raiva por ter deixado "A" fazer isso com ela,por ter dado tanto poder sobre seu psicológico e sua vida.

Mas não sentiu nada.

Já não sentia mais nada.

Liam continuava em um sono pesado quando voltou de fininho para o quarto,o corpo nú jogado sobre os lençóis. Ele jamais acordava quando os pesadelos a tiravam do sono,jamais acordava quando vomitava sua refeição. Se sabia ou se ouvia,não comentava nada.

Talvez fosse melhor assim.

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Ezra se agarrava a cada pedacinho das lembranças de Nicole,porém vivia em um conflito interno sobre acabar com tudo o que a lembrava dela,ou se apenas se afogava na tristeza e nas memórias de sua Nicole.

Os primeiros e os últimos momentos que tiveram rodeavam sua cabeça há dias,cada sorriso,cada beijo,cada briga.

Ezra estava sentado na escada do The Brew, escrevendo um capitulo para seu novo livro,pelo menos assim podia pensar nela sem parecer um pobre coitado. 

O sino da porta tocou chamando a atenção de Ezra, ainda era estranho, ver Aria entrar no estabelecimento e não sentir algo em seu peito apertar e logo afrouxar. Mas ele não sabia o porquê.

Aria se sentou no sofá e pediu um café com chantilly e chocolate,parecia calma,calma demais...

Ezra se levantou para subir de volta para o apartamento,mas olhou para ela novamente,que estava com o olhar fixo em suas mãos. Desistiu de subir e foi até Aria,parou à sua frente e abriu a boca para dizer algo,mas o som não saiu. Não sabia o que dizer.

Porém ela ainda não havia notado Ezra parado bem na sua frente,parecia perdida demais na própria cabeça,até que finalmente notou sua presença e devagar ergueu o olhar para observá-lo.

 Aria: Oi...

Ezra: Oi...Posso me sentar?

Aria: Claro.

Ezra se sentou ao seu lado observando Aria com mais atenção,não fazia muito tempo que haviam se encontrado,e ela já parecia tão diferente. Sabrina entregou o café para Aria,deu um longo gole no café e pegou a colher para comer o chantilly, assim, Ezra observava cada movimento, então, disse baixinho:

Ezra: Você perdeu peso.

Aria ergueu o olhar para ele e semicerrou os olhos levemente.

Aria: Você deixou a barba crescer.

O olhar intrigado de Ezra não se suavizou,apenas também semicerrou os olhos,como um desafio. Mas Aria recuou um pouco,com a voz fraca.

Aria: Não vejo por que está surpreso com isso.

Ezra: Bom,você já é pequena,magra dessa maneira vai parecer uma criança.

Aria: E você com essa barba e esse cabelo,vai parecer um vendedor de antiguidades afundado em dividas.

A risada de Ezra ecoou na cabeça de Aria,ela se lembrou da época em que esse som era o único que queria ouvir. Ela apontou para as folhas que Ezra levara consigo.

Aria: Ainda com problemas nos papéis do The Brew?

Ezra: Ah....não,não esses...bem,são rascunhos do meu novo livro.

Aria: Voltou a escrever?

Ezra: Tentando,me distrai de tudo...isso.

Aria: Sei disso,escrever também me ajuda a superar melhor as coisas. E a fugir delas também.

Ezra: Ainda escreve também?

O olhar de Aria caiu novamente para suas mãos finas demais,delicadas demais,e por alguma razão,estavam levemente tremendo.

Aria: E-Eu não escrevo já faz um tempo...

Ezra: Por que não precisa mais fugir da realidade?

Ela voltou a olhar para Ezra.

Aria: Todos precisam fugir da realidade de algum modo,alguns fogem usando drogas,outros descontam nas outras pessoas,outras escutam musica,pintam....escrevem.

Ezra: Então por que parou? 

Aria: E-eu...eu não sei.

O olhar,a calma,os movimentos....Ezra entendeu então,não era calma,era um vazio. Como se tivesse desistido de sentir as coisas.

Ezra: Aria,você está bem?

Aria: Sim.

Ezra sabia que era mentira,não deveria se importar,deveria simplesmente subir para seu apartamento e cuidar da sua vida. Mas se importava,se preocupava com ela.

Ezra: Aria...

Aria: Por favor,não tente me falar alguma mensagem de auto-ajuda, quando sua vida também está miserável como a minha.

Ezra sentiu algo no estômago, algo como magoa percorreu seu olhos. Com isso,Aria se levantou de súbito e pegou sua bolsa.

Aria: Desculpa. Eu preciso ir.

 Ezra apenas assentiu e deu um leve aceno de despedida,e mesmo depois de Aria ter passado pela porta e ter ido embora,ele continuou sentado no sofá,pensando naquela frase.

"Por favor,não tente me falar alguma mensagem de auto-ajuda, quando sua vida também está miserável como a minha."

Realmente,sua vida estava miserável,passava os dias tentando se distrair de seus pensamentos sobre Nicole,se embebedando e tentando criar coragem para queimar tudo.

Mas não era isso que ecoava na cabeça de Ezra.

"Por favor,...., quando sua vida também está miserável como a minha."  

".......Quando sua vida também está miserável como a minha."  

Seu estômago se revirou como se tivesse levado um soco.

".....Miserável como a minha."