Capítulo 5 - O dia D

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Conforme o dia do presságio ia chegando, Nym tinha pesadelos com sua morte ou pior, com a morte de Hyka.

Como Nym era muito franco com seus sentimentos Hyka via e sentia tudo. Os medos e desejos. Ele sempre acabava indo pra cabana da floresta no meio da noite.

Nym, protestava.

- É perigoso vir no meio da noite! E mais, você tem que descansar.

Mas, Hyka percebia o alívio do companheiro toda vez que ele chegava.

- Cala a boca, Nym.

O cotidiano da aldeia não se alterava. Hyka já tinha marcado uma reunião do conselho com seu irmão mais velho e agora chefe do clã.

- Malloy, me escuta! Temos que preparar a defesa da aldeia. Essas décadas de paz nos deixaram despreparados. Guerreiros tornaram-se fazendeiros, caçadores. Me escuta!! Pelo amor dos Deuses!!!

- Você sempre foi exagerado, Hyka. E aquele Nym... Só quer aparecer. Nunca fui com a cara dele.

- Malloy, isso é sério!! Me escuta! Você nunca me levou à sério por eu ser seu irmão caçula, né?!!

- Chega, Hyka!! Eu não vou causar pânico na aldeia por causa de pesadelos e suposições!!

E saiu pisando duro.

- Que merda! Me escuta pelo menos uma vez, irmão! Disse num sussurro.

Numa manhã, Hyka estava na cabana de Nym e a floresta emanava tensão. De repente alguns animais passaram fugindo, revoada de pássaros que viviam perto do mar.

Olhando para o céu Nym disse:

- Começou! Hyka, você, como mensageiro, deve avisar as aldeias e pedir ajuda. Nós somos a primeira aldeia, os invasores terão que passar por nós, primeiro. Eu vou alertar Malloy.

- Malloy não vai dar ouvidos pra nada que você diga.

- Eu não vou precisar dizer nada. Agora, vai!! Não temos muito tempo.

Hyka pegou algumas coisas e saiu correndo. Nym pegou seu cajado, olhou em direção da aldeia, suspirou e correu.

Nym chegou junto com as primeiras flechas incendiárias

Nym chegou junto com as primeiras flechas incendiárias. Malloy olhava paralisado no meio da aldeia.

Nym tocou seu ombro e ele pulou.

- Malloy, evacue a aldeia. Mande as mulheres, crianças, velhos e doentes para a floresta. Diga para usarem minha cabana como refúgio. E junte os guerreiros. Vou segurar os invasores pelo tempo suficiente.

Malloy acentiu e saiu apressado organizando os aldeões e os guerreiros. Nym correu para a extremidade da aldeia. Levantou seu cajado e o fincou na terra dizendo:

- Ancestrais, venham em meu auxílio!!

No mesmo instante o chão começou a tremer e o solo a rachar.

Longe dali, Hyka via a fumaça vindo de sua aldeia e corria mais rápido.

- Tenho que voltar a tempo.

*******

Quando Hyka chegou na aldeia a batalha estava por todo lugar. Ele corria desviando, procurando, o coração acelerado pela ansiedade.

Por onde andava, para onde olhava era só fogo, sangue e morte.

Hyka se acalmou um pouco e se concentrou nos pensamentos e sentimentos de Nym.

- Achei!! Hyka correu para onde sentiu a presença de Nym. Na extremidade da aldeia onde fica o cemitério. A parte mais próxima do mar.

Quando Hyka chegou o local era um amontoado de corpos humanos e não-humanos. A luta estava no final. Ao longe, perto da parede de pedra ele viu Nym usando sua energia restante para segurar o golpe que descia sobre ele.

O olhar de Nym encontrou o de Hyka.

- Você está aqui. Eu queria te ver mais uma vez.

Foi o pensamento que Nym enviou.

- Nããoo!! Hyka começou a correr enquanto o golpe acertava Nym em cheio. E sorrindo ele tombava numa poça de sangue.

- Por que você não usou o seu talento. Como você usou quando era criança?

Hyka estava ajoelhado no chão com Nym nos braços. Nym tentava enxugar as lágrimas de Hyka.

- Não chore... Eu estarei sempre com você.

- Por que? Por que não usou? Por que eu tenho que ficar sem você?

- Quando eu usei aquilo, matei tudo e todos à minha volta. Eu aniquilei minha aldeia. Mas, eu não sabia... Foi instinto. - Disse Nym num sussurro.

Hyka sentiu a vida de Nym se esvaindo. Ele o apertou forte junto ao corpo. Respirou fundo sentindo tudo ao redor.

- Se isso não der certo... Vou me juntar a você mais rápido do que você imaginou.

De repente uma luz, como uma explosão, envolveu os dois numa cúpula brilhante.

Depois tudo era silêncio. Hyka deixava as lágrimas caírem sobre o corpo inerte de Nym, enquanto balança pra frente e pra trás, como se embalasse uma criança pequena.

Ele sentiu uma mão pousar em seu ombro. Malloy não sabia como consolar o irmão.

- Tivemos muitas perdas hoje, mas não existiria mais nada se não fosse ele.

Hyka não conseguia falar nada. Só acariciava o rosto de Nym.

- Hyka, eu sei como se sente. Mas, a aldeia precisa de você. Tem feridos para serem tratados, mortos a serem enterrados e sobreviventes que precisam de conforto.

Hyka balançou a cabeça. Levantou carregando o corpo de Nym nos braços. Agora ele era O xamã da aldeia.

Luz e Sombra [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora