Capítulo 1 - No divã com a alma

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"Coleto pétalas para compor minha florDe diferentes perfumes" 

Alma era a médica das mentes, excelente manipuladora das situações alheias, sempre tendo um remédio para as misérias do cotidiano: os ouvidos. Era boa em ouvir e pouco opinava. Contudo, era do tipo cujo tiro era certeiro ao fim do discurso emocionado de um confessor ou confessora. E, como sacerdote do psico, sua bem-sucedida escolha profissional, atendia a clientes de todo tipo e todo tipo de mazelas, até mesmo aquelas mais desprezíveis. Inclusive, dentre estas menosprezáveis, certa vez, houve algo que lhe chamara a atenção. No entanto somente quando houve a incidência das consultas serem no mesmo dia é que Alma atinou para um detalhe em comum entre três de suas pacientes...

PACIENTE #1

- Já faz um ano, mais ou menos, que ele desapareceu. Eu não to conseguindo ⇀diz a mulher, podando as lágrimas ⇀ esquecer aquele olhar me encarando, aquela voz falando no meu ouvido, e o toque... A conexão entre nós era perfeita, como nunca houve antes ou, sequer, depois com qualquer outro homem. E ele ainda era romântico... Eu gostava quando ele me dava poemas de presente e recitava, apaixonado, todos os versos, um por um, na cama, depois do sexo.

PACIENTE #2

- Eu sinto que já me recuperei da depressão, sabe...? Mas, ainda assim, vêm umas ondas que parecem que me derrubam novamente num mar tão fundo de infelicidade em que eu só penso em afundar cada vez mais e mais, sem vontade de emergir...

- E você atribui isso a quê?

- Acho que, como você já sabe, eu acabei acumulando algumas infelicidades no passado, acho que foi a soma de tudo. Mas, apesar de todos os problemas, o que mais pesa é um vazio que foi deixado e que eu não vejo perspectiva de preencher, sabe...? Quando eu to lá, afundando naquele mar, bem lá no fundo, onde eu não quero chegar, mas chego, eu vejo a cara dele...

- E o que você sente?

Ela hesita por uns instantes em responder.

- Raiva - diz, por fim.

- E por que você ainda tem esse sentimento? - Indaga, calmamente, Alma.

- Por que é o que se sente quando você tem a sensação de que algo foi arrancado de você, sem aviso prévio, sem indícios sutis de que há um fim próximo. Não houve algo gradual, foi totalmente repentino... Não sei... só sei que não foi justo...

- Mas e quanto às lembranças boas? Não há nada de bom que se possa tirar delas e fazer superar o mal que restou no final?

A garota sorri. Algumas lágrimas começam a brotar. E, então, desabrocham.

- Sim, eu tenho boas lembranças... Os poemas...

PACIENTE #3

- Excelente amante! Difícil encontrar um homem como aquele. Cada noite era diferente. Só o olhar dele, a quilômetros de distância, tirando a minha roupa, já me deixava louca. E, quando ele se aproximava e me tocava, já era o suficiente pra me levar ao grau mais elevado do prazer. O engraçado, ou melhor, o triste dessa situação é que, depois dele, nunca mais eu me senti completa, ou realmente realizada, com outro homem. É estranho dizer ou admitir isso, mas a verdade é que, sexualmente, eu era feliz, mas, depois dele, eu nunca mais tive uma felicidade sexual plena.

- Mas você não tentou procurá-lo e saber o que aconteceu pra ele ter sumido assim, tão de repente?

- Ele era um rapaz muito bonito, galanteador... Mas era, também, muito reservado quando eu tentava perguntar algo sobre sua vida pessoal. Parecia que ele omitia muita coisa. E eu não sou nova. To um pouco velha pra ficar me iludindo com garotos. E eu conhecia bem o tipo dele. Quando percebi que seria só sexo, eu aceitei o contrato, pois até o ônus valia a pena.

Violetas VelhasOnde histórias criam vida. Descubra agora