Prólogo

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Era mais uma manhã de segunda-feira, a neblina tomava conta das ruas, becos e ruelas do pequeno bairro, localizado a oeste da Califórnia. Pássaros cantavam em bosques, crianças acordavam para ir a sua escolas, assim como adultos se preparavam para mais uma semana carregada em suas jornada de trabalho. Tudo parecia bem e monótono como sempre, a não ser por Leroy.

Leroy como qualquer garoto que acabou de ingressar no ensino médio, sofria um certo bullying dos estudantes mais antigos. Algo que para muitos era comum, seria apenas os trotes sofridos nos calouros, causados pelos veteranos. Ah, sem contar o fato de ser um menino gordo, de baixa estatura e com muitas espinhas em seu rosto. Isso levou ao famoso e mesquinho preconceito. Pouco importava o seu jeito dócil e amigável, ele era ignorado por qualquer um, e também era bastante humilhado. O pobre garoto não possuía descanso, não mesmo. Até seu pai, até mesmo em sua casa, Leroy era visto como um simples e abominável nada. O jeito de seu pai, ganancioso como qualquer outro médio empresário que sonha com os milhões e acaba deixando toda a família de lado, cooperou para o pior. Sua mãe já havia morrido há anos, pobre Janice, um acidente horrível de carro tirou a sua prematura vida adulta de seus sonhos. Com isso, o menino acabou ficando completamente sozinho naquele ambiente, em que o tempo vale mais que uma vida. Um garoto com baixa autoestima, sem amigos e sem uma família presente acabou por procurar por ajuda profissional, acompanhamentos médicos, porém mesmo assim, não obteve o que desejava. Leroy havia abandonado toda a sua esperança.

Isso também vale para Alysson, a menina que estava sempre ao seu lado. Linda, ruiva, de olhos castanhos mel e um sorriso deslumbrante.

Diferente de Leroy, Alysson era realmente uma menina muito atraente, infelizmente, seu jeito fechado não colaborava com sua estética. Era bela, mas nada comunicativa. Se não fosse pelas consultas em diversos psicólogos e a vergonha de ser "dedurada" por Leroy, os dois jamais seriam amigos. Leroy amava vê-la sorri, todavia por trás do sorriso, escondia-se a dor de que somente a menina sabia. Seu pai, alcoólatra, viciado em jogos e pornografia, a aliciava e sempre buscava prazer no corpo da adolescente de 16 anos.

Disso Leroy sabia, por isso, sempre buscava uma forma de conseguir arrancar o seu amado sorriso de sua fiel companheira. Ela buscou ajuda, claro que tentou, Leroy também buscou para ela, mas quem disse que deram-lhes a atenção que mereciam? Muitas das vezes, era espancada pelo pai, ou até mesmo pela mãe. Sim, na menina ela descontava todo o ódio de viver naquela miséria de vida com aquele homem que casara  proporcionou-a. Mais uma vez, em busca de ajuda e nada de bons resultados. Era mais uma jovem, cujo não enxergava mais esperanças em sua prematura vida.

Leroy e Alysson eram da mesma sala, acabaram fazendo uma forte amizade no colégio. Bem, na verdade, como foi citada acima, a amizade começou mesmo em consultórios de psicologia ou de psiquiatria. Para a menina, foi um choque ao ver o gordinho da escola sair de uma sala no consultório, a sala de sua psicóloga. "O que ele fazia aqui?" ela se perguntou envergonhada, não conseguiu disfarçar muito bem. Leroy, por outro lado, teve uma grande surpresa, mas diferente de Alysson, ele tentou se aproximar dela. Viu ali a oportunidade, resolveu não desperdiçar. 

O tempo passou, a amizade cresceu, o laço fortaleceu. Sempre juntos, um sendo o escudo do outro. Mesmo com as garotas gritando pelo colégio que “Alysson Garden namorava o gordinho sardento e nojento do colégio”, mesmo que os garotos do time de futebol pegando sempre no pé de Leroy Braview, eles não desanimaram e continuaram juntos. Porém o preço desta união acabou sendo caro, tornando-se uma ferramenta fácil de ser manipulada. Obviamente que não seria qualquer um que seria capaz de manipular os dois, a personalidade forte de Leroy não permitiria assim tão fácil. A não ser que uma pessoa, altamente fria e calculista entrasse naquele meio. Uma pessoa capaz de chegar a mente e ao coração de Leroy e em seguida alcançasse rapidamente o de Alysson. Como o temido, esta pessoa apareceu.
Os dois, Leroy e Alysson, estavam na beirada do prédio, de mãos dadas e dedos entrelaçados.  Sentiam o vento gélido da manhã de segunda-feira. A visão do terraço era muito bonita. Com um colégio enorme, no qual eles estudavam, não chegaram a explorá-lo tanto.  Alysson tremia de medo, enquanto seu companheiro Leroy parecia determinado no que iria fazer. A visão do horizonte ajudava a mente do menino se manter calma, já ela não conseguia acompanhar a beleza da paisagem com o momento.

- Eu ainda temo - Disse Alysson com uma voz trêmula e desesperada. Sentia-se um pingo de arrependimento com o tom que se dizia.

- Aly, lembre, esse é o caminho. A luz espera por nós. Diga-me, você ainda suporta esta escuridão que por sinal chama de vida? - Ele apertou a mão da menina. Com um olhar penetrante e convicto de suas escolhas - Lembre-se, as cartas não mentem.

- Enganar-se não quer dizer mentir – Alysson afrouxou os dedos, dando um passo para trás e vendo suas mãos se separarem. – Pode haver outro jeito, pode haver outra forma.

- Não há. Sabe bem disto, o mentor não se engana, muito menos mente para nós. Ele esteve sempre ao nosso lado. – Leroy sentiu uma pontada em seu peito, ouvir aquelas palavras de sua amiga, ver aquele gesto de reclusão o magoou. – Eu estava enganado.

- Com o que? – Alysson teve certo alívio, passou por sua cabeça que Leroy havia voltado atrás. Pobre Alysson.

- Você – Ele levantou o dedo indicador, deixando com que uma lágrima escorresse de seus olhos. Ele estava plenamente fora de si.

- Eu? Não consigo compreender Lêh! Eu jamais fiz nada contra você. Você e meu melhor amigo – o desespero acertou a menina que tremia sem parar. Os seus olhos estavam perdidos e encharcados de pavor. Ela não sabia o que fazer ou dizer.

- Abandonou-me. – Ele respirou fundo, recuperando o ar que havia perdido. – você mentiu para mim. Eu entendo, sempre fui só. Não posso te culpar, todos sempre me abandonam no momento em que mais precisei. Agora chega. Eu não aguento mais, quero acabar com isso e esse e o único jeito. 

- Mas.... - Ela começou a chorar, deu um passo a frente e abraçou seu amigo – Eu não vou te abandonar, desculpe-me. Mas eu tenho medo!

- Eu também estou com medo, mas não estou sozinho. Eu estou com você. – Ele sorriu para a garota que era dois dedos menores que ele. Um sorriso sincero e reconfortante. Como um tranquilizante, o sorriso atingiu Alysson e a fez retribuir um sorriso inocente e belo demais.

- Pelo menos, irei morrer com o meu melhor amigo. – Ela disse, abraçando ainda mais forte.

- já eu, vou morrer com a minha amada em meus braços. – Oportunista como sempre, ele roubou um beijo da menina, que com a surpresa arregalou os olhos, mas retribuiu.

- Lêh... – A resposta de Leroy foi um sorriso de canto, deixando a menina vermelha e sem jeito. Esperto como sempre, aproveitou-se do momento certo para fazer o que sempre desejou e soube provocar a menina, para que a mesma ficasse bem constrangida. Os dois continuaram abraçados, ela até mesmo encostou a cabeça no peito do gordinho. Ele a manteve próxima ao seu corpo, com os braços em volta de sua cintura, olhou para o céu com uma face alegre vendo aquelas nuvens voarem no céu azul. Com delicadeza, a menina escorreu pela beirada e levando consigo o rapaz. Em questão de segundos, os dois estavam atirados ao chão. Mortos e esmagados por conta da força e pressão exercida com a queda livre.

Ainda faltavam vinte minutos para que o colégio estivesse cheio, e consequentemente, as aulas dessem início.  Antes disso, e comum que os faxineiros e faxineiras limpem o colégio para os adolescentes. Vindo de uma porta no canto do prédio, uma porta de metal e um pouco enferrujada. Com um enorme carrinho de limpeza, composto com vassoura, rodo, panos, baldes e produtos de limpeza dentro dele, um faxineiro vinha empurrando-o. Passou pela porta com calma, a fechou e voltou o seu caminho pelo pátio da escola. O macacão estava maior que suas medidas normais, o boné estava mal colocado em sua cabeça e um chiclete em sua boca. Mascava com toda paciência, até que, de repente viu-se com dois cadáveres. O jovem casal. Levou a mão boca, segurou o grito. Ele era um bom ator. Parou com seu carrinho ao lado dos defuntos, ajoelhou-se ao lado e analisou toda a cena com muita frieza. Enfiou a mão, que por sinal estava coberta por uma luva de limpeza, em seu bolso e retirou uma carta de baralho comum. Ele sorriu e girou a carta em mãos, era um Às de copas.

- Crianças, não se preocupem. Vocês estão livres deste mundo cruel - O indivíduo ajeitou seu chapéu em sua cabeça, deixando-o melhor para a sua visão e ajustado para a sua cabeça. Aproveitou e com dois dedos laçou a carta ao meio do jovem casal, com um sorriso em seu rosto deu meia volta e ficou de pé.

- Vamos lá, Mostre-me como jogas, Cavalinho do governo... – Com uma postura soberana, com os peitos estufados e um caminhar como se fosse um desfile em uma passarela, o indivíduo afastou-se dos dois. O seu plano havia funcionado corretamente, ele era calculista, ele era frio. Ele era um tremendo jogador.

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