ATEMPORAL

O começo do fim

Danniel

O sol fraco ofuscou meus olhos. O celular marcava 6hrs e 59 min. Alguns segundos depois o alarme ressoava pelo quarto inteiro. Não tive coragem de levantar por pelo menos alguns minutos. O quarto pequeno e úmido cheirava a mofo e salgadinhos. Passei praticamente duas semanas das férias trancado ali. Era o primeiro dia de aula de novo. O último ano. Recebo uma mensagem:

Niall: Animado? Bom dia.

Pergunta irônica. Niall era meu melhor amigo desde que tenho consciência, não lembro da como é a vida sem ele, na verdade. Dividimos a primeira garrafa de cerveja juntos, o primeiro maço de cigarros e até o primeiro beijo com Lisa. Nunca chegamos em um consenso de quem a beijou primeiro, já que descobrimos quase dois meses depois que era a mesma garota. História engraçada.
A luz entrava pela janela iluminando o minúsculo guarda-roupa, o pequeno espelho na parede e meu videogame no chão. Camiseta branca, calça jeans, celular.

Desço as escadas devagar. Não gostaria de irritar meus avós. Nunca se sabe como velhos podem reagir de manhã.

Niall

- Merda! – Paul chutou uma lata de lixo enquanto gritava. – Por que férias não são eternas?

- Perderia o sentido, Paul – Respondi enquanto bocejava – É como a felicidade, só existe se também existir tristeza.

Paul pareceu confuso.

- Cala boca, Niall.

Reflexões não funcionam com idiotas.

Andávamos em direção a escola. Já podíamos vê-la mais a frente sendo preenchida aos poucos por um mar de adolescentes vestidos de branco.

- Acha que vai ter alguma garota nova esse ano? – Paul quebrou o silêncio.

- Não sei... Não estou tão interessado assim. Só quero que o ano acabe logo. Faculdade, essas coisas. – Era verdade. – Não tem garota nenhuma aqui que prenda minha atenção tão facilmente assim...

Me arrependi do que disse no momento em que a vi. Saindo de uma lanchonete mais a frente, uma garota de branco e jeans. Os cabelos dourados tremeluziam aos raios de sol, cheguei a confundir-me se eram realmente seus fios, os pés deslizavam pela rua quando passou seus olhos por mim. Abismos como o Tártaro de Hades: Estavam prontos para me engolir caso eu desse um passo em falso. O que era um problema, já que eu não lembrava mais como andar. E, como se não bastasse, sorriu e, naquele momento, eu tive certeza de que uma flecha realmente havia atravessado meu coração.