Capítulo II - ...mas só seis patinhos voltaram de lá

182 16 40
                                    

Uma multidão havia se reunido ao redor do quarto de Valerie. Havia um falatório murmurante entre pessoas, outras pessoas e celulares conectados a mais pessoas. Várias ligações entre os passageiros e seus parentes, amigos, conhecidos, colegas e outros personagens desimportantes para esta trama.

Alguns estavam com medo de que pudessem ser a próxima vitima. Outros, com a curiosidade habitual dos seres humanos. O fato é que o acontecimento causaria uma impressão profunda nos passageiros do Splendor — sem falar nas próximas pessoas a embarcar.

Sophie Amaud, entretanto, não parecia preocupada. A jovem caminhava pelo meio da multidão de olho em tudo o que poderia atrair a atenção de seu público. Tirava fotos do quarto, da multidão, do "funcionário gato que acalmava a multidão"... Seus leitores ficariam espantados com a notícia, e espanto era sempre bom.

— Não acha que está sendo um pouco invasiva demais? — perguntou Poitier para a fotógrafa ao ver a mulher tentar burlar a segurança para entrar na cabine de Valerie.

— Invasiva?— respondeu, ao ser empurrada de volta para a massa de pessoas desesperadas. — Não estou te entendendo.

Eric Olivier, o empregado que descobrira o corpo, era quem tentava sem sucesso manter a ordem no local. O homem estava muito pálido e gaguejava, o que não contribuía para o bem-estar coletivo. O próprio homem estava num estado lamentável, parecia estar pior que a própria sra. Berger.

A polícia já havia sido acionada para investigar a morte. Assim que o navio aportasse em Barcelona, a cabine de Valerie seria analisada em busca de pistas. A possibilidade de suicídio não havia sido descartada, mas ninguém parecia ligar. Enquanto não houvesse provas de que não havia um assassino a bordo do Splendor, o tumulto continuaria.

Como os funcionários não podiam prometer isso, o tumulto continuou.

Até que, em algum lugar no meio da multidão, entre o amontoado de cá e a turba de lá, uma voz se fez presente. Uma mão levantada e palavras aleatórias sendo proferidas têm o poder impressionante de silenciar pessoas. Pouco a pouco, os passageiros se acalmaram e olharam para a origem do som, em um misto de confusão e raiva por não conseguirem expressar seu medo.

A figura se tratava de um homenzinho de cabelos encaracolados ruivos. Porém, os pelos que cresciam em seu rosto, como o bigode em forma de trapézio e os minúsculos fios de barba, eram loiros. Eric não saberia dizer qual das cores era falsa, se não as duas.

O homem abriu caminho até onde o marinheiro se encontrava e se dirigiu à multidão. Ele se vestia de maneira extravagante: um sobretudo marrom sobre uma camisa social lilás, uma boina verde e amarela na cabeça e, por fim, um par de... pantufas? Os pés do homem estavam enfiados em duas pantufas cor-de-rosa no formato de patas de gato.

Havia uma interrogação palpável no ar: quem era aquele homem, e o que estava fazendo ali? Sem dúvida era essa a questão que atravessava a mente de todos naquele local. Por sorte, não houve uma espera muito grande pela resposta.

— Pessoal! — gritou o homenzinho, com a voz um pouco rouca. Uma entrada triunfal, sem dúvida. Ele tossiu e repetiu. — Sei o que todos aqui estão pensando. Que alguém matou essa mulher. Alguém que ainda está nesse navio. Alguém que pode estar atrás de você neste exato momento.

O marinheiro olhou para os seguranças com um olhar de "por que vocês estão deixando esse cara falar essas coisas?" Ele próprio, no entanto, estava curioso com o que acontecia, então decidiu esperar pelo fim do discurso.

— Mas digo a vocês para se acalmarem. — O homem não percebia que não estava acalmando ninguém. — Sabem por quê?

Ninguém sabia. Ninguém queria saber.

Tragédia no Sétimo Mar - Série Law [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora