Janeiro,26 de março de 2017
"Uma rosa nem sempre significa amor. Ela pode ser a representação da dor"
-Qual função das mitocôndrias turma? - Minha professora de biologia pergunta. Ela é uma senhora de cabelos grisalhos que sempre está cortado na altura dos ombros, sua blusa vermelha simples descombina perfeitamente com sua saia azul florida - Anda, ninguém sabe responder? - Diz fechando ainda mais sua cara, que por sua vez, faz com que suas rugas fiquem ainda mais evidentes.
-Luan, responde você então querido- Matilde joga a vez para mim.
-É, bom, as mitocôndrias tem a função de fazer a respiração celular
-Parabéns querido. Está vendo turma? Vocês deveriam ser como ele, estudioso, um menino com o futuro garantido- Começa seu discurso abrindo um enorme sorriso amarelo em minha direção- Você ganhou dois pontos na média pela resposta correta
"Aff, que nerd mais irritante"
"Tinha que ser o puxa saco"
"Além de quatro olhos é espinhudo"
"Por isso que ele não tem amigos"
"Ele é rico, o pai dele deve muito bem comprar as professoras"
Escuto o pessoal da sala cochichar e meu coração se quebra com cada palavra que ouço. Por que eu? O que eu fiz para merecer essas coisas? Eu não pedi para nascer assim. Lágrimas começam a brotar em meus olhos e eu as limpo. Não me permitirei chorar, tenho que ser forte, eu sou forte, repito esse mantra até meu coração acalmar suas batidas descompassadas.
A professora ignora ou simplesmente não escuta as ofensas direcionadas a mim. Não posso contar a ela, ou eles irão me bater.
-Turma, podem beber água e ir ao banheiro. Cinco minutos- fala olhando em seu relógio de pulso.
Estou morrendo de vontade de ir ao banheiro mas não me permito tal feito. Não posso me dar ao luxo de ficar sozinho com eles. Me debruço sobre a mesa e fico divagando na minha vida.
Nunca conheci a minha mãe, ela morreu no meu parto. Meu pai me culpa pela sua morte, me privou de ver as fotos da minha mãe. "Você a matou moleque, não merece saber como é o rosto de minha esposa" diz toda vez que pergunto como era minha genitora. Lágrimas brotam novamente e, dessa vez, dessa vez eu as permito sair. Dessa vez choro em silêncio debruçado sobre a mesa da escola. Dessa vez, deixo as lágrimas limpar minha alma.
-Hey, Laun, toma aqui, pegue, rápido - A voz melodiosa que faz meu coração bater mais rápido diz.
Seco minhas lágrimas e olho o rosto da Rafaela. Seus olhos verdes esmeralda prende meu olhas ao seu, sua pela branca faz um incrível contraste com seus cabelos amarelos claros. Ahhh, como ele é linda.
-O papel Luan, pega o papel- sussurra balançando um pequeno papel branco amaçado em suas mãos de princesa.
Não entendo nada, mas mesmo assim meu coração se acelera, mas dessa vez, de felicidade. Rafaela me notou, o amor da minha vida me notou. Sinto minhas bochechas corarem e um enorme sorriso brotar em meus lábios. Finalmente, finalmente minha vida vai mudar, eu vou ter amigos!
Com todo o cuidado do mundo eu desembrulho o papel e em letras delicadas encontra-se um breve textinho.
"Luan, não queria falar isso em voz alta, sou muito vergonhosa para tal atitude mas, eu gosto de você. Sou apaixonada pelos seus olhos azuis, pelos seus cabelos pretos, que mesmo bagunçados dão um incrível destaque para seu rosto. Admiro muito a sua inteligência, você é um máximo! Gostaria de ficar com você depois da aula, esperem todos ir embora primeiro, seu lindo"
Meu coração salta com cada palavra lida, minha felicidade não pode ser contida no peito. Já não consigo mais prestar a atenção nas aulas, não vejo quando acontece a troca de professores. Só quero que o final da aula chegue logo.
-Galera, podem guardar o material e ir embora, já são meio dia e quinze- A professora gordinha de física que usa saia rodada verde e uma camiseta amarela anuncia.
Finalmente, finalmente chegou a hora. Guardo meu material às pressas, chupo uma bala de menta para disfarçar o bafo e pego a rosa vermelha que está em minha bolsa. Sempre carrego uma na esperança de criar coragem e poder me declarar, e hoje, hoje vou poder dizer o quanto a amo.
Continuo sentado e levanto apenas quando todos os outros vai embora. Caminho com passos lentos, com o coração na mão. Ensaio rapidamente e mentalmente um discurso e o recito abaixando a cabeça e estendendo rosa em sua direção. Estou nervoso, muito nervoso.
-Ra...Rafaela eu te amo. Sempre te amei, você imagina o quanto. Quando eu li o seu bilhete eu meu coração deu piruetas de felicidade. Você deu um novo sentido a minha vida. Você é a minha luz na escuridão- digo o discursinho tremendo igual vara verde.
Silêncio.
-Fico imensamente feliz com isso Laun – Diz depois de um tempo- Você não imagina o quão babaca você é - Coloca suas mãos na rosa e começa a amassa-la lentamente- Acha mesmo que alguém como eu iria ficar com um nerd como você. Olha para mim- exige erguendo meu rosto já em lágrimas- Achou mesmo que eu ficaria com você? Tadinho, é muito inocente, olha lá na porta e sorria, você está sendo filmado seu babaca.
Meu coração se quebrou, uma surra doeria menos que essas palavras, que essa humilhação. Pego minha bolsa e saio correndo. Esbarro nos meninos que estavam filmando mais eu não ligo. Não ligo mais para minha vida, não ligo mais para nada. Só quero meu quarto, meu silêncio. Só quero a morte.
Corro pelos corredores da escola buscando da saída. Saio em disparada, esbarro em vários alunos que gritam "cuidado", "devagar moleque" mas nada respondo só corro até chegar na limousine que me espera.
-O que foi pequeno Luan?- o motorista pergunta preocupado.
-Nada seu Jorge, só dirige até em casa em silêncio, por favor.
Em menos de quinze minutos chegamos a grande mansão. Passo pela porta e sigo até a entrada ignorando os chamados de Jorge. Subo rapidamente as escadas em direção ao meu quarto, pego o meu celular e olho meu facebook.
"Nerd escroto tentando se declarar para mim"
Essa é a primeira publicação que vejo.
Essa chacota foi a mão que puxou o gatilho da arma que estava na minha cabeça.
Caminho até o banheiro do meu quarto, tiro meu tênis, meu uniforme e minha calça ficando apenas de cueca. Ligo a torneira da banheira, coloco "Patience" de Guns N' Roses e deito na banheira. Pego a navalha de barbear do meu pai que uso para aparar os pelinhos que começaram a nascer na minha barba e corto os meus pulsos. Faço dos cortes profundos em cada braço e espero a morte. Vejo a água transparente da banheira assumir um tom vermelhado. Lembro dos acontecimentos da minha vida e sorrio, acabou, estou livre!
Não me lembro muito bem do que aconteceu. Só me lembro do meu pai fazendo os primeiros socorros aos prantos, sim ele é médico. Sim, por incrível que pareça ele estava chorando.
O vídeo foi apagado, os responsáveis, simplesmente expulsos da escola.
Infelizmente, eu não morri mas, minha alma está morta. O luan antigo morreu dando espaço paro um Luan frio, calculista que prometeu fazer todas as mulheres sofrerem. Elas são como as rosas, perdem sua beleza com o tempo e por isso, fiz uma promessa de usá-las e jogá-las aos ventos com pétalas de rosas que você descarta após usar.
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A rosa que eu te dei
Romance"Te dei uma rosa como prova do meu amor. Você a despedaçou, jogou suas pétalas ao ar levando consigo meu coração " Laun é um menino que não chama muito a atenção por onde passa, tem 15 anos, usa óculos e aparelho, tem espinha por todo rosto, seus...