22/06/2021 – 11:15 pm
She asked me, "Son, when I grow old
Will you buy me a house of gold?
And when your father turns to stone
Will you take care of me?"Meus olhos lacrimejaram. Eu engoli seco. Minha garganta deu um nó. Meu coração se apertou ao lembrar de mamusca. Não que eu meu esquecesse dela, mas apesar da saudades que sentia, eu não tinha tempo pra ficar remoendo esse sentimento terrível, muito menos pra ficar chorando.
A ausência dela no meu dia a dia foi o pior fator que eu tive que enfrentar ao me mudar pra Coreia do Sul. Não por motivos clichês, como ela ter o poder de encontrar uma brusinha que eu não estava achando no muquifo do meu guarda roupa ou por ela preparar meu café da manhã. Eu sentia falta da minha mãe por causa das suas piadas ou expressões engraçadas, do seu sexto sentido que me alertava de qualquer merda que poderia acontecer, dos seus comentários aleatórios sobre os MV's de kpop que eu apresentava pra ela, da sua risada que sempre me fazia rir também ou da sua cantoria de Spring Day após começar a tocar no meu Spotify.
Cada detalhe dela que contribuía pra minha felicidade diária não fazia mais parte da minha rotina e eu nunca vou me acostumar com isso, passe o tempo que passar. Nós nos falamos pelo chat do Facebook todos os dias e quando dá tempo, nos vemos pelo Skype. Mas manter uma comunicação via interwebs não é a mesma coisa que conviver na mesma casa como sempre foi até eu ir embora.
A mudança de música me fez sair dos meus pensamentos. Começou a tocar Limitless e e o menino cantava a plenos pulmões. Lembrei de quando Marl me disse "Johnny sempre coloca música pra tocar enquanto toma banho e a última sempre é Limitless". Ai, minha nossa. Eu preciso ir rápido. Me dirigi até a cama de Johnny. Eu sabia qual era a dele porque ele divide o quarto com Mark e o menino já tinha me levado até seu quarto algumas vezes para jogar Just Dance. Levantei o colchão e o coloquei sobre a cabeça. Olhei atentamente, mas o CD não estava ali.
A voz de Johnny se fez ainda mais presente quando ele começou a cantar sua linha em Limitless e isso significava que eu precisava urgentemente achar a porra do Aniaceo. Arrumei a cama, já que eu tinha bagunçado ao levantar o colchão. Olhei ao meu redor e mirei o criado-mudo. Todo mundo guardava coisas importantes em criados-mudos, certo?
Caminhei até o móvel, me ajoelhei até ele e abri a gaveta. Carregador de celular, agenda, canetas, álbum de fotos e...ANIACEO. PUTA MERDA,ACHEI. Eu sei que o próximo passo teria que ser a minha ligeira saída desse quarto, mas aquele álbum de fotos estava me chamando a atenção e eu precisava abri-lo. Não estava nem no segundo refrão de Limitless, ainda dava tempo de ver algumas fotinhas.
Folheei o começo do álbum e pude perceber que nele havia apenas fotos da infância de Johnny em Chicago. Havia fotos dele em muitos pontos turísticos de sua cidade natal, como o Navy Pier, Cloud Gate e Shedd Aquarium.
Me surpreendi ao ver que, quando criança, o cabelo dele tinha fios bem mais claros que os castanhos que ele possui hoje em dia. Eu não havia percebido isso tão claramente até ver uma foto em que ele está num cubículo de vidro no alto do Willis Tower junto de algumas crianças.
Johnny é o mulequinho de vermelho
Chegando no fim do álbum, uma imagem me chamou a atenção. No canto dela marcava que foi tirada no dia 28/10/2003. Johnny tinha 8 anos. Nela estava o menino gargalhando e jogando morangote na cara de uma garotinha em uma praça que estava, aparentemente, na frente de uma igreja. Parece que desde quando era criança o menino Seo não tinha medo do perigo. Era um pequeno pecador aos 8 anos de idade em frente a um ambiente católico. Que bonito o crush filho da puta que eu arrumei.
Não deveria achar graça da foto, mas lá estava eu sorrindo como uma idiota para as peripécias de Johnny Seo. Me lembrei de quando ele disse:
"...Aah ,outra coisa. Você não é a única que tem memórias de infância com o morangote."
Pois é, parece que eu não sou a única mesmo. E logo já me arrependi de ter dito:
"...eu tô a fim de relembrar esses momentos, os quais você não deve ter vivenciado ao menos um em toda sua vidinha vazia em Chicago."
Ai. Foi pesado. Ele podia ser um cuzão desde a infância, mas sua vida, com certeza, não foi vazia. Ele dava risada enquanto jogava o morangote na menina. Ele estava muito feliz naquele momento. Ele não era vazio. Ele só era um garotinho com um coração repleto de empolgação e maldade. Fofo.
MANO. Por que eu estou defendendo um menino que quando estiver irritado pode muito bem jogar morangote na minha cara? Ele fazia isso quando era mais novo, mas nada impede que ele possa fazer isso agora. E POR QUE EU AINDA ESTOU NO QUARTO DELE? E POR QUE EU NÃO ESTOU MAIS ESCUTANDO LIMITLESS? Ao perceber que demorei mais do que devia pra sair daqui, guardei o álbum na gaveta, a fechei e peguei meu CD.
Johnny voltou a cantar Limitless, mas sua voz não estava mais abafada como se estivesse dentro do banheiro. PUTA MERDA. Ele está vindo pro quarto. Agora eu não podia ir embora, ele me veria abrindo a porta. Liandra, pensa rápido. Embaixo da cama. Eu tinha que me esconder embaixo da cama. Era a única solução. Me abaixei e deslizei até ficar sob a cama de Johnny. Que péssima decisão. Eu deveria ter me escondido debaixo da cama do Mark. Ou não. Sei lá. Não consigo pensar direito sob pressão.
Eu estava com os olhos fechados. Qualquer barulho me assustava e me deixava com o cu trancado. Comecei a me xingar mentalmente por não ter ficado no centro da cama. O menino poderia facilmente me ver na visível borda da cama que eu me encontrava. A voz próxima de Johnny me fez abrir os olhos. Ele cantava a sua única linha na famosa música Sem Limites:
dadeul kkumeul jjochasseo da sogeun chae
daebubun jagiman jinja rago hae
hogeun sumeobeoryeo deungeul dollin chae
banbokdoeneun maeildeureun janokhae
Sua voz ficava cada vez mais próxima e eu não conseguia mais fechar meus olhos. Eu precisava ver o Johnny...CARALHO. PÉSSIMA DECISÃO. Ele entrou no quarto cantando e dançando Limitless...NU. QUEM SAI DO BANHEIRO NU DESSA FORMA? CARALHO MANO. CHOQUE É A PALAVRA. Quer dizer...ELE É REALMENTE UM GOSTOSO e eu sempre falei que esse era meu sonho de princesa bem íntimo e particular, MAS EU NÃO QUERIA QUE ACONTECESSE DESSA MANEIRA. Me sinto uma criminosa invasora da privacidade alheia. Me sinto um menino punheteiro de 14 anos que espia com um binóculos a vizinha trocar de roupa.
Johnny chegou todo molhado no quarto, deixou o chão escorregadio e quase caiu ao fazer um passo da coreo de Limitless. Depois do quase incidente,ele parou de cantar e dançar na frente do espelho e começou a procurar algo.
- Aah,eu acho que a toalha tinha caído atrás da cama.
AH NÃO. AGORA FUDEU. Olhei ao meu lado e lá estava a maldita toalha. O menino veio em direção à sua cama e a afastou da parede. Apesar de o meu corpo ser pequeno, o encolhi ao máximo na tentativa de me esconder totalmente. Seo pegou a toalha e empurrou a cama para o seu devido lugar. Ok,tudo sob controle,ele não me viu,ufa. Estiquei rapidamente meu corpo pra sua posição anterior e...
- AAAAAAAAAAAAH CARALHO - Gritei após ter chutado o pé da cama bruscamente. Mano,eu sou muito idiota, eu não conseguia sentir meu pé, mas eu conseguia sentir que fudeu.
Fechei os olhos e uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Meu pé tava doendo pra caralho. Me encolhi de novo e comecei a massagear meu pé,mesmo não o sentindo. Abri os olhos e Johnny me encarou por alguns longos segundos com uma cara de bravo e confuso ao mesmo tempo e finalmente rugiu:
- LIANDRA? QUE PORRA VOCÊ ESTÁ FAZENDO DEBAIXO DA MINHA CAMA?
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Limitless
FanfictionEm 2017,Liandra e suas amigas,Grelha e Patrisca,criaram o grupo Ommaya,inspirado no idols coreanos,mas tudo não passava de uma brincadeira,totalmente sem fundamentos.Inesperadamente,um ano depois,com o incentivo e persistência de Parçana,uma outra a...