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Alice descia as escadas distraída enquanto o som do piano dentro dos seus fones de ouvido preenchia sua mente. Suas botas estavam molhadas, assim como seus cabelos. Seu guarda-chuva amarelo escorria água deixando pequenas poças pelo chão. Chegou a plataforma do metrô e não precisou esperar nenhum segundo, já estava embarcando através de empurrões. Encontrou um lugar vago ao lado de uma simpática senhora e tirou seu romance surrado da bolsa, aumentou a música e encarou a capa do livro. Não tinha vontade de ler as mentiras sobre o amor. Com certeza ninguém sentaria no assento livre a sua frente e trocariam olhares apaixonados sem nem ao menos se conhecerem. Suspirou exasperada enquanto o jogava de volta na bolsa.
A música acabou e por alguns segundos antes que apertasse o play novamente pôde ouvir o barulho da chuva, assim como a voz abafada do alto falante "Estação Vila Mariana". Seu coração disparou e as borboletas do estômago começaram a dançar. Alice ergueu os olhos bem no exato momento em que o garoto da mochila vermelha entrou, ela viu o momento em que varreu o ambiente procurando um lugar, ela viu o momento em que ele a olhou e depois notou o lugar vago a sua frente, ela também viu o momento em que ele decidiu caminhar em sua direção antes de apertar o play de seu celular e desviar o olhar rapidamente para a janela.
Pelo canto do olho Alice notou o garoto se ajeitar no assento, pousando sua mochila no chão, ela simplesmente não podia acreditar que logo hoje que o mundo resolveu cair e seu cabelo não se importou em permanecer decente ele estava sentado bem em sua frente. Absorta em suas lamúrias, Alice não percebia que o garoto estava falando com ela, por isso estremeceu quando sentiu uma mão fria, roçar seu rosto enquanto seu fone de ouvido era gentilmente puxado.
-Você vai estourar seus tímpanos com essa altura, eu aposto que o vagão inteiro está ouvindo sua música.
Alice o encarou boquiaberta querendo apenas que um buraco se abrisse e ela caísse nos trilhos enquanto o trem a fazia em pedaços. Imediatamente pausou sua música e arrancou o outro fone, percebeu que seus tímpanos realmente doíam, e o casal do assento ao lado a encarava incomodados. Engoliu em seco e sentiu seu rosto esquentar, provavelmente estava da cor da mochila do garoto agora, e ela não podia desejar momento mais oportuno para morrer.
-Me desculpe.
-Parecia ser uma música bonita, mas não acho que vale a pena ficar surda.
Alice assentiu sem graça e voltou a encarar a janela.
-Então, valia a pena?
-O quê? – Alice o observou confusa.
-Ficar surda. Pela música.
Ela apenas encolheu seus ombros timidamente.
-Eu posso ouvir?
Alice arregalou os olhos, isso não podia estar acontecendo. A senhora que estava sentada ao seu lado a fitou com um sorriso estranho e se levantou para desembarcar na próxima estação. O garoto imediatamente sentou ao seu lado e a encarava pacientemente. Ela engoliu em seco e lhe entregou um fone, encaixou o outro em seu próprio ouvindo, e olhou nervosa para o garoto antes de apertar o play. Ele retribuiu o olhar com um aceno de cabeça a encorajando. Então Alice apertou o play e prendeu sua respiração enquanto o piano e a voz da Kate Nash traziam a paz na qual já estava familiarizada.
Ambos fitavam ora suas próprias mãos, ora a janela, permanecendo sempre muito quietos. O coração de Alice batia tão forte que ela tinha certeza que sofreria um ataque cardíaco e morreria pateticamente no metrô, ao lado do garoto da mochila vermelha, ouvindo a música mais triste e linda do seu celular.
Quando enfim a música acabou, Alice mordeu os lábios insegura, esse tipo de música não se compartilha, é muito pessoal, o que ela estava fazendo?
O garoto sorriu enquanto a olhava com intensidade, e ela sentiu seu coração vacilar ao o ouvir dizer:
-Vamos ficar surdos juntos.
E apertou o play mais uma vez.
Já aqueceu algum coração hoje? Deixe seu voto e comentário e estará aquecendo o da autora, obrigada <3