"Uma Narrativa de Pablo Vickson"

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"13 de Janeiro de 2015, uma Narrativa de Pablo Vickson"

"Eu estava cansado daquilo, você não pode tocar isso, você não pode fazer isso, você não devia andar com aqueles caras, estude mais, leia mais, tenha fé. Droga, "We don't need no education, We dont need no thought control" no fim das contas meus pais queriam que eu fosse mais um tijolo no seu muro de insignificância, como isso pode estar certo? Não, Não, não está certo, por que não tenho liberdade de decidir o que fazer? Eles podem me mostrar o caminho que acham certo, aceito isso, mas me impor essa direção como a única a seguir, não, isso não posso aceitar"
"Aumentei os fones o máximo que pude, "Obey your master, Master" essa música quando toco essa música, ela mexe comigo, posso por todo meu ódio pra fora, consegui me imaginar tocando para uma multidão, aquele momento foi de pura raiva. Música sempre foi minha vida, era o que eu queria fazer, o que eu deveria fazer, então com o som ensurdecedor de "Master Of Puppets" estourando meus tímpanos comecei a escrever meu plano"
"Envie a mensagem aos meus amigos, dizia o seguinte"
"Somos os melhores cara, modéstia parte nossa banda é a melhor dessa cidade de merda, a melhor do estado, e se tocarmos nesse evento, vamos provar que nosso destino é ser a melhor do país. Temos que esperar a poeira baixar, vou ficar sob vista grossa dos meus pais por um tempo, então essa semana vou mostrar que me arrependo do que ando aprontando, e ganhar a confiança deles, tocar umas músicas pra igreja, ir aos cultos, ajudar com tarefas de casa, esse tipo de coisa, em umas duas semanas eles voltam a confiar em mim, quando isso acontecer, vou pegar a chaves da igreja de volta, então vamos para a segunda etapa, com as chaves vamos invadir o local de madrugada e roubar todo o equipamento de som, como já temos guitarra e baixo, vamos vender e pagar o meu amigo Nelson para usar a casa dele como local de ensaio e guarda o equipamento"
"Ainda lembro as reações que se seguiram"
"Isso é Insano!"
"Não vai dá certo seu maluco"
"Ficou louco de vez?"
"Tá chapado cara ?"

"A melhor foi a do Calvin"
"Levou porrada do Pastor e ficou louco da cabeça!"
"Até que eu vi uma que me deu esperanças"
"É arriscado, mas pode dar certo"
"Bem Alan era o mais analítico do grupo então se ele dizia que podia dar certo, então tínhamos uma chance de fazer dar certo"
"Passei duas semanas sem ver meus amigos, e fazendo o trabalho chato que o Pastor me dava, quando finalmente ele voltou a me dar crédito, pimba! Hasta la vista baby"
"Não pai, não sei quem pode ter feito isso, esse é um Bairro bem perigoso, pode ter sido qualquer um"
"Não mãe, claro que não foram meus amigos, eles ouvem música ruim, e tiram notas baixas, mas não são do tipo que invadem uma igreja"
"Não senhor policial, não sei de nada, não vi nada, estava em casa dormindo, não tenho o que dizer"
"Bem sofri algumas interrogações, mas nada absolutamente nada podia apontar para mim, a cidade era de fato um local perigoso, o bairro era mal falado, e assaltos não eram tão raros assim, a própria cidade se tornou tanto um álibi quanto cúmplice daquele crime, e com meus fones de ouvido em alto e bom-tom eu ouvi "Breaking the law, breaking the law"
"Meus pais dispunham de dinheiro, a igreja tinha recursos, e os fiéis, oh! Os doces fiéis, não tardaram em querer ajudar. Bem em pouco tempo haviam reposto tudo de volta, instalaram algumas câmeras, antes tarde do que nunca, para nossa sorte é claro, e o caso aos poucos foi caindo no esquecimento. Como de costume, aonde os casos assim eram a norma, quando se ouve muito sobre assaltos, invasões, roubos, e esse tipo de merda em uma cidade como a nossa, as pessoas começam aceitar com mais facilidade, elas se acostumam com o sistema, lastimável eu sei, mas era a triste realidade da nossa pequena cidade, algumas pessoas demonstravam insatisfação, mas eram poucas, a grande maioria fecha os olhos pra tanta merda. E mais fácil aceitar o lixo que vem pra todos, do que tentar limpar o lixo por todos"
"Os dias se passaram, as coisas se acalmaram, eu já podia voltar a tocar na nova bateria da igreja, que por sinal era muito boa. Ah, como eu queria estoura os tímpanos com um solo infernal, aqueles tambores clamavam por boa música"
"Tudo ia bem, já haviam se passado quatro semanas desde o grande plano ter sido um sucesso. Havia um tempo que eu não me reunia com o grupo pra tocar, falei pra eles irem praticando sem mim, até que as coisas se acalmassem pro meu lado"
"Até que chegamos ao dia 22 de Fevereiro de 2015. Se você me perguntasse algo como, quando foi que começamos a nossa ascensão? Eu certamente diria, que foi naquele dia. Sem dúvidas aquele foi um dia memorável pra mim"
"Eu consegui uma boa desculpa para passar o dia fora de casa, a muito eu não passava o dia fora, meus pais já acreditavam na mentira de que eu não voltaria a andar com os delinquentes destinados ao inferno, mal sabendo que eu era parte integral daqueles supostos delinquentes"
"Nós reunimos em frente ao nosso antigo colégio, mal dava pra acreditar que finalmente estávamos livres do pesadelo atrás daquelas paredes, havia eu terminado no ano passado, meus amigos eram um ano mais velhos, e já fazia dois anos que não voltavam lá, no momento todos frequentavam a faculdade, mas era só um pretexto para manter a paz e não ouvir protestações dos pais, exceto por Marcondes, ele não dava a mínima pra isso"
"O encontro foi empolgante, comprimentos e animação por reunir todo o bando novamente depois de tanto tempo, quando se vê seus amigos frequentemente, passar quatro semanas afastado e quase uma eternidade"
"Não esqueço daquele dia, descemos juntos rumo ao nosso destino compartilhado, a onde ninguém seria capaz de impedir nosso progresso na escalada às montanhas do rock n roll, em enquanto descíamos a rua cantávamos com sincronia perfeita, "We are the champions my friends, and we'll keep on fighting till the end"

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