"Aquela garota... que eu teria que matar."

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De tanto pensar, comecei a sonhar. Não esperava acordar e nesse mundo continuar.

Acordei ainda pensando naquela frase. Desci ao encontro de Jonathan e decidi perguntar:

- Quem é"aquela garota"? - ele se fez de desentendido.

- Não sei do que está falando.

-Claro que sabe. -acabei me entregando. - Eu li no seu diário.

Ele abriu os olhos demonstrando estar nervoso ou surpreso.

-Ah. -suspirou, mas não era de alívio. - É só uma garota que eu conheci na faculdade.

Por que ele deveria matar uma garota que ele apenas conheceu na faculdade?

- Entendi. -decidi não insistir.

Subi para o meu quarto e visualizei todas as minhas antigas redes sociais para tentar me lembrar de algo. Nada. Nada vinha à minha cabeça. Nenhuma memória. Eu estava olhando as minhas fotos, mas aquele sorriso parecia não ser meu. Uma estranha sensação de não se reconhecer e estar presa à um corpo sem se lembrar do que passou para estar assim. Presa pelo corpo e pela alma. Um dia talvez eu posso acordar.

Distraída pelos pensamentos, não percebi a chegada de Jonathan. Sentou-se ao meu lado na cama e começou a falar:

- O que você acha de irmos à soverteria?

- Desculpe o que disse? - eu realmente não havia prestado atenção em sua chegada.

-Eu perguntei se poderíamos sair. - fez uma pausa pensativo. - Abriu uma nova sorveteria aqui perto, então estava pensando em talvez te levar lá.

- Bom, eu adoraria poder sair um pouco. Ficar em casa as vezes é entediante.

- Ótimo. Vai se arrumar que estou te esperando na sala.

Ele saiu do quarto e fui me trocar. Não me lembro de usar essas roupas. Não eram feias. Eram bem delicadas e em tons neutros. Segurando uma saia listrada e uma regata preta, fechei a porta do armário e troquei-me.

- Vamos? -disse ao me ver descer as escadas.

Assenti e saímos rumo a nova soverteria. Passamos pela porta e pudemos sentir o doce cheiro dos sucos de frutas congelados. Aparentavam estar deliciosos.

-Escolha um sabor. - disse Jonathan ao apontar para mesa coberta de sabores.

-O sorvete de morango parece estar muito bom.

- Então será ele!

Pegamos nossos potes de sorvetes e fomos comê-los. Estávamos sentados em uma mesa em frente a uma grande janela na parede quando vimos uma placa anunciando estar precisando de funcionários.

-Olha! - chamei Jonathan e apontei em direção à placa. - Eu já tenho quase dezesseis anos e acho que deveria ajudar um pouco. Talvez trabalhando eu ajude na questão financeira.

Isso era mentira em parte. Eu não estava querendo trabalhar para ajudar em casa. Eu queria esvaziar a minha mente. Ser menos dependente de alguém que conheci há poucos dias.

- Não acho necessário. Eu já trabalho e dinheiro não será problema. Não se preocupe com isso.

- Vamos tentar pelo menos? Talvez eu consiga me ocupar mais e não viver trancada em casa.

-Você está em casa a dois dias, como pode se considerar presa? - ele aumentou o tom de voz como se estivesse nervoso. Mas ainda não chegava a ser um grito.

- Desculpa, não foi o que quis dizer.

Um silêncio pairou sobre o lugar.

- Eu só não queria voltar à rotina de sempre ir à escola e voltar para casa. -disse com a cabeça direcionada para baixo, como se me culpasse. - Eu queria trabalhar, também, para me preparar ao futuro. Quando eu for independente. - menti.

- Não posso te impedir, não é? - um meio sorriso quase se formou em meu semblante.

- Acho que não deveria tentar. - sorri desafiadora. Agora já olhava para ele.

- Então nós passamos por lá. Eu te deixo ir. - sorri alegremente por impulso.

Terminamos o sorvete e saímos. Fui para a cafeteria e conversei com a gerência. Eles me explicaram sobre a concorrência de vaga e me mandariam o resultado em breve.

Durante o caminho para casa fui conversando com Jonathan.

- Jonathan.

- Oi.

- Eu estava olhando umas fotos e gostaria de rever meus amigos.

- Isso me parece ótimo. - Tirou o olhar que se direcionava para a trilha e olhou para mim. - Você pode encontrá-los na segunda-feira. Quando for para escola.

- Eu já voltarei na segunda? Amanhã? - não conseguia esconder a minha animação.

- Claro! Por que não iria? Não está se sentindo bem?

- Não . Quero dizer, sim. - ele riu. - Eu só não esperava que fosse me deixar ir.

- Não vou te deixar não ir. Você vai todos os dias mocinha!- falou como se fosse meu pai e eu ri da sua imitação.

- Tudo bem, pai. - fiz cara de deboche e nós rimos.

- Melhor continuarmos o caminho.

Chegamos em casa após um curto período de tempo e fomos assistir a um filme.

Jonathan recebeu uma ligação e me deixou deitada no sofá enquanto atendia. Não prestei muita atenção, mas ele falava algo como um "plano" e "confiança". Algumas vezes pensei ter ouvido meu nome.

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