Lumia

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E não havia dormido nada. Estava sentada na cama bebendo a quarta xícara de café. Eu não conseguia entender o que havia me deixado com insônia.

Ainda estava escuro dentro do quarto e a pouca quantidade de luz que entrava pelas persianas indicava que o tempo estava nublado. E também, é claro, o fato de a ponta dos meus dedos estavam congelando.

Bebi mais um gole de café e levantei. Me escorei na janela e acendi um cigarro. O dia estava realmente nublado, mas mais parecia melancolia do que simplesmente nuvens negras.

Nunca acreditei em coincidências...

Eu precisava fazer algo que me fizesse esquecer qualquer sombra de tristeza do meu ser. Eu precisava espairecer.

- Nicolas, vamos sair hoje? - Disse num suspiro fingindo animação

- Agora? - Ele disse como quem fala enquanto dorme, com a voz embargada.

- Claro que não. A noite. Vamos beber.

- Sabe que horas são?

- 11:47

- Justamente. Ainda está de madrugada.

- Deixa de ser preguiçoso. Não é uma opção, você vai. Vou arrumar uma gatinha pra você e talvez eu de uns beijinhos.

- Já entendi tudo... - Ele riu preguiçoso - Tudo bem, mas dessa vez eu escolho. Não quero bebida quente e música ruim como da ultima vez.

- Fechado.

- Lumia?

- Com certeza

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Eu estava animada, de verdade. Pela primeira vez em meses eu estava afim de sair com o Nicolas. E ele merecia também. Estava me aturando esse tempo todo com dores de cotovelo e reclamando da vida.

Eu me olhava em frente ao espelho e via como o tempo havia me castigado. Olheiras que não tinham fim.

A maquiagem negra ressaltava o azul dos olhos. Meus cabelos soltos estavam jogados no ombro. O batom vermelho realçava meus lábios. O vestido preto justo acentuava as curvas. O salto vermelho completava tudo. Eu tentava esconder as tatuagens na coxa, mas nao estava adiantando.

A campainha tocou e eu sai, indo ao encontro de Nicolas. Ele usava uma blusa xadrez azul, calça justa preta e a barba estava por fazer. Ele abriu um sorriso

- Hoje tem! - Disse irônico. Eu ri e o empurrei de leve, fechando a porta e indo em direção ao seu carro, ele logo veio atras.

A porta do Lumia estava lotada. Sai do carro num pulo e entrei lá. Muita gente dançando, música extremamente alta. Eu sentia cada partícula do meu corpo vibrar conforme a música.

A sensação que aquilo me trazia era maravilhosa. Mas por dentro eu sabia que nada estava mudando. Eu continuava vazia.

Um olhar no fundo do salão me chamou atenção. Ela dançava com dois rapazes, movia seu corpo no ritmo da música. Ela me encarava, mexia eu seu próprio cabelo e cantava silenciosamente a música que tocava.

Seus cabelos loiros estavam bagunçados e ela parecia não se importar.

Percebi estar sendo vigiada constantemente.

- Ela ta te olhando desde que chegamos.

- Acho que é pra você, Nicolas.

- Tenho certeza que não. - Eu também tinha. Bebi mais um gole do que tinha no meu copo quando ela se afastou dos rapazes, ainda me olhando e sumiu na multidão. Eu cutuquei Nicolas, só para ele saber que eu estava saindo de lá, e fui atrás dela.

Ela parecia se divertir me vendo segui-la todas as vezes que eu conseguia vê-la.

Chegamos ao final na boate, um beco sem saída. Ela estava encostada em uma das paredes, com o pé para trás, na parede.

Eu parei de frente para ela. Sentia seu cheiro doce e também álcool. Ela sorriu de lado e ergueu a sobrancelha. Eu me aproximei colocando uma das mãos na parede, ao lado de sua cabeça.

Seus lábios envolveram os meus, suas mãos a minha cintura, as minhas, sua nuca. Eu pressionava meu corpo sobre o dela e suas mãos desciam pela minha cintura até a barra do vestido, depois subindo minha perna para sua cintura.

Ela descia os beijos até meu pescoço mordendo-o de leve, me fazendo suspirar em seu ouvido.

Aquilo era maravilhoso... Todas aquelas sensações eram novas e ao mesmo tempo nostálgicas. Eu já havia me sentido assim antes, mas parecia a primeira vez...

Desci minhas mãos de sua nuca para os seios e puxava ela ainda mais para perto.

Ela parou o beijo e me encarou sorrindo. Apertou minha coxa, ainda eu sua cintura e a tirou. Segurou meu queixo e mordeu meu lábio inferior, saindo logo em seguida.

Eu fiquei parada ouvindo o barulho de seu salto ficando cada vez mais baixo atrás de mim.

Voltei para a parte principal da boate onde a música voltava a ser alta.

- Tão rápido? - Nicolas me pegou de surpresa passando o braço pelo meu ombro e andando para perto do bar.

- Até demais.

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