Todas as sensações do mundo

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Eu peguei a maioria daqueles papéis e levei comigo. E ao passar dos meses ia lendo um de cada vez. Era como se ela estivesse ali comigo.

Aquilo trazia parte dela para perto de mim.

Eu ia para a faculdade, ia para o hospital e voltava pra casa. A rotina ficou assim durante meses. Nicolas me visitava as vezes, por que ele acreditava que a falta de companhia trazia depressão.

E sendo sincera, aquilo realmente parecia depressão.

Depois de todo esse tempo eu havia parado de ir ao hospital. Mas não era mais falta de ter a Manuella. Era falta de saber que ela estava bem. Era estranho, mas eu já havia me convencido de que não teria mais.

Como de costume, assim que escureceu, Nicolas foi para minha casa.

- O que vai querer para comer hoje?

- Vai cozinhar? Quem é você e o que fez com o meu Nicolas?

- Fala logo, palhaça - Ele disse de braços cruzados, virando os olhos.

- Que tal lasanha? - Sugeri

- Que tal salada, Carolina?

- Não! Quero lasanha.

- Quer ficar obesa também

- Vai continuar me amando gorda, então não tem problema.

- Talvez. - Ele riu, indo para a cozinha. Enquanto ele preparava fiquei assistindo desenhos na tv. Era incrível como eu ainda ria quando assistia os episódios repetidos de Bob Esponja.

Nicolas estava sendo o melhor amigo do mundo. Ele estava sempre do meu lado, a gente conversava sobre tudo, ele cozinhava as vezes e dormia lá quase sempre. Ele era perfeito.

Assim que ele terminou, corri para a cozinha.

- Isso ta cheirando bem.

- Claro, eu que estou fazendo. Não tem como não ser bom

- Você podia ser um pouco mais humilde - Ele riu.

Comemos em silêncio. Ele me encarava as vezes e sorria com a boca cheia, igual criança. Depois disso fomos para a sala. Ele deitou no sofá e eu deitei do seu lado, em seu peito.

Continuamos assistindo desenho e eu o via rindo quando a luz da tv iluminava seu rosto. Era, sem duvidas, o segundo sorriso mais lindo do mundo. Segundo...

- Que foi? - Ele me olhou

- O que? - Me assustei. Havia viajado naquele sorriso.

- Você ta me olhando faz um tempo...

- Tô? - Senti minhas bochechas corando e meu rosto queimando - Não to.

- Esta sim. Que foi? - ele sorriu de lado e pôs meu cabelo atrás da orelha

- Nada, cara. Impressão tua. - Abaixei o olhar. - Ele deslizou a mão pelo meu rosto e segurou meu queixo.

- Então eu estou louco - Levantou meu rosto e aproximou-se. Seus olhos se focaram nos meus. Eu sentia seu hálito de pasta de dente, o que por algum motivo se tornava sexy, o cheiro de sua nuca, o calor de seus braços, suas mãos ásperas no meu rosto. Ele sorriu e eu pude ver seus dentes incrivelmente alinhados. Aquele sorriso fez meu mundo parar. Ele encarou meus lábios e eu, os dele. E então eles se selaram.

Ele havia me beijado! E meu coração batia mais acelerado que o normal. Minhas mãos tocaram seu rosto, senti sua barba, que já estava maior que a de costume, e foram em direção ao sua nuca.

Ele me girou no sofá, ficando sobre mim. Seus lábios pressionaram os meus e o seu corpo se movia em mim. Minhas pernas subiram para sua cintura e as cruzei, forçando seu corpo contra o meu.

O beijo aprofundou-se. Eu sentia todas as sensações do mundo. Eu precisava daquilo. Eu precisava dele naquele momento.

Suas mãos desciam pelo meu corpo enquanto as minhas puxavam seus cabelos.

Ele parou o beijo, deslizando os lábios pelo meu pescoço, beijando o intensamente.

Eu me contorcia. Ele arfava em meu ouvido.

Era estranho estar beijando Nicolas. Era muito estranho.

Todo esse tempo juntos, tanta cumplicidade, irmandade. Eu juro que nunca imaginei que isso iria acontecer. Mas agora que estava acontecendo, era tudo que eu queria.

Ele voltou a me beijar e entre o beijo sussurrou

- Carol... - Ele mordeu meu lábio com força, me fazendo gemer - ...Eu te amo!

Meu coração parou por alguns segundos. Eu me senti tonta. Abri os olhos e encarei os dele, que me olhava sorrindo.

Eu não consegui dizer nada...

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