Prólogo

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Os gregos antigos acreditavam em diversos deuses, cada um responsável por controlar uma faceta de suas vidas. Era uma forma fácil de deixar a água rolar e ter a quem culpar caso algo não desse certo. Talvez, sem esse recurso, o mundo tivesse caído no caos já em seus primórdios. Se uma guerra estourava, a culpa era de Ares. Se uma navegação afundasse, havia provocado a ira de Poseidon. E se uma loucura de amor era cometida, a culpa era da geniosa Afrodite.

Ah, Afrodite... A deusa do amor e da beleza, conhecida por seus diversos amantes, mortais e imortais. Era do conhecimento geral que não era a mais comportada das divindades, mas ainda assim tinha um generoso séquito de seguidoras. Uma das responsáveis pelo início da guerra de Troia, Afrodite não via mal em causar uma grandiosa confusão, desde que pudesse formar um bom e belo casal. Esse, na verdade, era o principal motivo para seus templos estarem sempre repletos, especialmente de donzelas sofredoras, clamando por amores impossíveis.

E mesmo com o passar dos séculos, com o avanço da ciência e da cultura, e o entendimento de que as divindades não exerciam o poder acreditado sobre a Terra, o legado de Afrodite nunca se perdeu totalmente. Claro, não era mais Apolo o responsável pelo nascer e pôr-do-sol, nem Zeus quem iluminava os céus nas tempestades... Mas por que não depositar a responsabilidade das loucuras apaixonadas em alguém? Ela se tornou Vênus, e então o pequeno querubim de asas chamado Cupido, que atirava suas flechas de coração ao acaso, juntando pares improváveis e por vezes impossíveis.

Mas nos atenhamos em Afrodite: nela, e em seu desejo por formar belos pares, sem se importar muito com o que aconteceria diante disso. Com essa informação em mente, cheguemos ao início de nossa história...

Dia 12 de junho, uma sexta fresca comparada ao clima habitual do Rio de Janeiro. A conhecida boate Olimpus, situada na Zona Oeste da cidade, estava apinhada de gente. O slogan era bem claro: O dia é dos namorados, mas a noite é dos solteiros.

O DJ da noite tocava as batidas mais populares do momento, com os corpos suados acompanhando o ritmo por toda a pista de dança. O bar não esvaziava por um momento, já que várias pessoas ali buscavam em copos e garrafas a companhia da noite.

As duas jovens caçavam uma brecha no emaranhado de pessoas, na tentativa de conseguir um drink. A mais nova ainda estava um pouco assustada com o ambiente, desacostumada a locais tão cheios e barulhentos.

− Relaxa, Belle, eu já vou conseguir chegar ao balcão. − Rebecca gritou no ouvido da irmã, na tentativa que ela escutasse.

− E se nós formos até aquele ali? − a jovem loira apontou um local no canto mais reservado da boate, onde se encontrava um pequeno balcão sem ninguém por perto − Aquilo é a área VIP?

− Não sei, mas não custa tentar. − a mais velha saiu a puxando pela mão, se dirigindo a atendente com a voz elevada, tentando que ela escutasse − Podemos pedir bebidas aqui?

− Claro que sim. − a mulher deu um sorriso perfeito, que deixou as duas irmãs um tanto desorientadas.

Enquanto ela caçava o cardápio, as duas tentavam chegar a um acordo interno sobre sua aparência. Para Rebecca, a moça era loira, mas Isabelle a via com cabelos negros, longos e encaracolados.

− Ah, aqui está... Podem escolher a vontade.

As duas se inclinaram sobre o encarte rosa choque, lendo os diversos nomes de drinks. Não encontraram nada conhecido, logo imaginando que aquele bar deveria ficar vazio por ter apenas bebidas bem diferentes.

− Eu gostei desse. − apontou Belle, indicando uma opção que estava em destaque − Poção de Afrodite. Parece interessante.

− Mas não tem a descrição do que vai nele. − observou Rebecca, franzindo o cenho.

− Oh, esse é um drink especial de dia dos namorados. É feito com frutas vermelhas, vodca e açúcar, nada demais. − explicou a bela bartender, ainda lhes sorrindo.

− Então é uma caipirinha de vodca?

− Não, não, minha querida... Eu garanto que você nunca provou nada assim. − a misteriosa mulher lhe sorriu, causando um arrepio imediato em sua espinha.

− Eu quero esse, Becca, por favor. − pediu a mais nova, os olhos azuis brilhando de animação. A mente extremamente racional de Rebecca lhe mandava sair dali e de perto daquela mulher estranha e do cardápio brilhante, mas a ansiedade da irmã a venceu e ela assentiu − Oba. Então eu quero dois, por favor.

− Só um momento. − a atendente se virou para o balcão de trás, pegando os ingredientes e começando a misturá-los, enquanto as irmãs observavam a festa.

− Sabe do que, Becca? Afrodite é a deusa do amor. Vai que a poção dela faz efeito e nós duas encontramos caras bacanas. − a morena riu da caçula.

− Príncipes encantados não existem, pirralha. O que existe é um bando de caras idiotas e sem escrúpulos, capazes de fazer tudo para conseguir se dar bem com meninas doces e ingênuas como você.

− Às vezes você é cética demais, sabia? − reclamou a loira, apanhando a bebida que havia acabado de ser colocada no balcão − Passa as duas na minha pulseira.

− Oh, não... A Poção da Afrodite é por conta da casa hoje. Aproveitem. − ela sorriu, dando as costas para as duas meninas e começando a limpar a sujeira que havia feito.

− Que legal da parte deles. − Isabelle sorriu, bebericando o drink pelo canudinho, enquanto começava a voltar para a parte mais agitada da festa. Rebecca apenas negou com a cabeça, suspirando audivelmente.

− Nada é totalmente de graça, Belle, aprenda isso. Tudo na vida tem um preço, mas às vezes nós só o descobrimos depois. − profetizou, caminhando ao seu lado.

A Fonte de AfroditeOnde histórias criam vida. Descubra agora