Isabelle e Miguel

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Ele estava sentado em frente a parede de vidro de seu quarto, tendo a vista privilegiada do amanhecer. Observava a água do mar ir sendo manchada por borrões alaranjados enquanto o céu passava de um azul sombrio para uma profusão de cores quentes, que mais tarde se tornariam um azul suave e, pelo visto, livre de nuvens.

Já havia ingerido suas aspirinas e agora estava com um copo de café bem forte na mão. Não era comum acordar tão cedo em um sábado, mas não conseguia dormir de jeito algum. Sua cabeça poderia explodir a qualquer momento e ele não entendia o porquê. Estava habituado com doses absurdas de álcool nas festas que ia e mal bebera dois copos de uísque na noite anterior.

Virou-se para trás, encontrando a menina que dormia em sua cama. Não sabia quem era ou como havia ido parar ali, já que era regra que nunca deveria levar ninguém para sua casa. Ser filho de um dos homens mais poderosos do Rio de Janeiro exigia que tivesse alguns cuidados, especialmente em relação ao seu endereço.

Se levantou soltando um suspiro, caminhando para a escrivaninha apinhada de lixo em seu quarto. Abriu uma das gavetas, apanhando um bloco de papel e um lápis bem apontado. Pegou uma prancheta escondida atrás do armário e puxou a cadeira de rodinhas, sentando-se ao lado da cama e ajeitando todos os materiais.

~*~

A boate Olimpus era quase seu segundo endereço. Nem precisava mostrar o RG para o deixarem passar, e a conta no nome de Miguel Zapatta já deveria estar em alguns dígitos naquele mês. Já cogitava até pedir que lhe dessem um camarote fixo ou que batizassem uma ala da parte VIP com seu nome.

Naquela noite agitada do dia dos namorados, o jovem milionário tinha duas acompanhantes, mas, pela primeira vez, não ficaria com nenhuma.

− Se animem, garotas, é noite de festa. − gritou Miguel, abraçado com as duas enquanto iam caminhando para o camarote que ele havia reservado − Hoje tudo pode acontecer.

− É essa a minha preocupação, Miguel. − suspirou uma delas, se desvencilhando dos braços dele e sentando no sofá.

− Bonequinha de pano linda do primo, não te trouxe aqui para ficar emburrada. Você e a Bru pediram que eu as levasse em algum lugar legal hoje à noite, e cá estamos nós três, na melhor boate do Rio.

− Odeio que você me chame de boneca de pano.− reclamou a prima, revirando os olhos.

− Não é minha culpa que seu nome seja homônimo da Emília do Sítio. − ele aporrinhou, dando um leve beliscão no queixo da moça − Agora, se as senhoritas me derem licença, vou dar uma volta na festa. Quem sabe não encontre mais pessoas para nos acompanharem em nosso castelo VIP?

− Seu primo é um grandessíssimo babaca quando quer, sabia?

− Quando não quer também. Mas é meu primo, o que posso fazer?

Riu do breve diálogo que ouviu ao deixar a pequena área cercada e começou a descer as escadas até a pista, que obviamente estava apinhada de gente. Bombados de academia, meninas quase sem roupa e gente sem o menor atrativo. A nata da sociedade carioca estava nos camarotes e áreas VIP, mas Miguel era generoso. Ele sempre perambulava pelo meio da "plebe" e trazia alguns daqueles desajustados para sua companhia.

− Esse lugar é novo. − comentou consigo mesmo, observando um pequeno balcão rosa e cheio de neon, destoando até mesmo da decoração de dia dos namorados da boate. Foi até o local, estranhando que estivesse tão vazio.

− Miguel Zapatta? − a atendente o chamou, atraindo sua atenção e lhe arrancando um sorriso safado. − Deseja alguma coisa?

− Seu telefone? − a moça riu, corando − Como sabe meu nome?

A Fonte de AfroditeOnde histórias criam vida. Descubra agora