Capítulo 01

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Um ano atrás

Gustavo Narrando:

Minha esposa e eu voltávamos de uma festa, já se passavam das 2:00 da manhã a estrada estava molhada, então estava muito escorregadio, eu estava dirigindo com cuidado durante o percurso íamos conversando.  Passamos por um trecho da estrada em que a neblina estava muito densa.

-Vá com cuidado meu amor - disse Tereza.

-Eu sempre dirijo com cuidado - disse a ela com intuito de acalmá-la pois percebi que estava nervosa e muito desinquieta. Fiquei  um pouco tenso ao volante tentando me manter alerto na estrada, de repente um luz bem forte veio em nossa direção, um barulho de buzina bem alto me assustou eu perdi a visão e acabei perdendo o controle do carro. Pronto! Nao lembro de mais nada Só vi a hora que que eu acordo em cima de uma maca onde olhava as luzes do teto em movimento, na verdade era eu quem estava em movimento sobre aquela maca sem saber pra onde eu ia. Escutava vozes que diziam:

-Acidente na BR, casal ferido, por favor preparem a sala de cirurgia. - A minha visão estava turva, só via um vulto em minha frente. Tentei perguntar onde estava a minha esposa mas a voz não saia.

-Homem ferido mulher em estado grave. - um dos paramédicos disse.

-Infelizmente a mulher não resistiu, teve traumatismo craniano. - Eu ouvia tudo que diziam tentava gritar mas a voz não saia. Precisava saber qual mulher eles se referiam. Entrei em desespero, o corredor parceria não ter fim eu estava sem forças por fim, apaguei, não vi mais nada! Acordei duas horas depois já em um quarto. Minha cabeça doía, passei a mão em minha testa em instantes tirei pois senti que em cima da minha sobrancelha direita havia um curativo, meu braço esquerdo estava todo esfolado, ardia, meu joelho esquerdo estava enrolado em uma faixa, me vi naquela situação não aguentei comecei a gritar.

-Por favor, alguém me explica o que está acontecendo? Onde está a minha esposa? Por favor me ajudem - vejo uma enfermeira entrar pela porta

-Calma senhor não se exalte, um médico vai vir falar com o Senhor - não demorou muito o doutor chegou em meu quarto.

-As notícias que tenho não são boas. - só de ouvir aquelas palavras meu coração já queria sair pela boca.

-O que houve com minha esposa doutor? - perguntei assustado.

-Infelizmente sua esposa não resistiu. O acidente de vocês foi muito grave, foi uma batida entre seu veículo e um caminhão o impacto foi tão grande que sua esposa bateu com a cabeça e houve traumatismo craniano. Sinto muito senhor ela não resistiu - Essas palavras soou como facadas em meu coração. Entrei  em total desespero. Como isso foi acontecer? Porque ela e não eu? Temos uma filha tão pequena que precisa dela. Meus gritos ecoavam por toda ala do hospital. Tiveram que me dar um “sossega leão”. Adormeci sem acreditar que minha esposa, a mulher que eu amo, acabara de falecer 

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Cecília Narrado:

A noite estava calma e eu dormia tranquilamente, quando de repente acordo com o barulho do telefone tocando. Me levanto um pouco sonolenta para atender, percebo que já não escutava mais o seu toque. Chego até a sala e vejo que Fátima, a minha irmã já havia atendido. Olho para ela e a vejo sem reação e pergunto.

-O que houve Fátima? É coisa séria? - A mesma estava parada olhando para mim. Seus olhos estavam como se quisesse chorar.

-Fátima não me olha assim, você sabe que eu não posso me assustar, meu coração pode parar a qualquer momento -  Com muito custo saiu uma palavra de sua boca

-Apareceu - ela diz atônita

-Apareceu o que? - perguntei meio sem entender

-Apareceu o seu coração minha irmã! - exclamou ela eufórica - acaba de aparecer um doador para você. Você vai ganhar um outro coração.

-Meu Deus! - exclamei eufórica - Eu não acredito depois de anos de espera eu vou receber um coração. Ai que felicidade!

-Chega de sofrimento minha irmã - Fátima me abraça - Uma nova vida espera por você. Você ganhou uma nova chance de viver.

Sim, naquele momento era só alegria, uma ambulância já estava a caminho da minha casa vindo me buscar, não demorou muito lá já estava eu, aproximadamente às 4:30 da manhã, indo para o hospital para fazer o transplante. Eu fiquei um pouco nervosa, com uma mistura de sensações. A alegria era inevitável, pois um coração, o coração que eu espero a tantos anos será implantado em meu peito, mas uma tristeza tomou conta de mim, pois não deixava de passar em Minha cabeça como que a família do meu doador está. Afinal, foi preciso ele morrer para que eu pudesse continuar vivendo. Será uma nova vida a partir de agora, chega de ir ao hospital toda semana fazer controle para saber como anda o coração, chega de vários remédios. Mas em minha cabeça volta a martelar, como anda a família do doador. Será que é de um homem ou de uma mulher? Meu Deus! Será que essa pessoa deixou filhos, marido/esposa? Eu tão cedo vou saber disso. O hospital tem normas, o doador não posso saber quem doou, e quem doou não pode saber quem recebeu, pelo menos até completar dois anos, após o transplante. Mas eu ainda vou arrumar um jeito de agradecer a família dessa pessoa por esse gesto tão lindo. Lindo não maravilhoso.

Agora lá estava eu, na sala de cirurgia, vesti a roupa apropriada, me deitei. Logo eles me deram a anestesia geral. Puhfit! Apaguei, não vi mais nada. Acordei horas depois já no quarto, ligada a aparelhos que monitorava as batidas do meu novo coração.

Cartas Para o meu coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora