Androide

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– É incrível isso que está acontecendo com o H411IB! – O engenheiro Edward comentava enquanto bebericava seu café quente no Coffee Shop da H-Borg Corporation.

– Incrível?– Respondeu seu colega James – É simplesmente apavorador. Perdemos o total controle sobre as coisas. Sinceramente, sinto uma mistura de arrependimento e culpa por fazer parte disso.

– Bobagem! Isso é uma revolução. É ver a história acontecer. É mais que isso... É fazer história... é... - Disse Ed.

– ...Tentar ser Deus. – Atropelou James.

– Isso! Ora... Mais que isso. É ser Deus.

– Você está louco! O mais perto de Deus que estamos chegando é ver nossa criação decidir por conta própria se autodestruir. - James falava tão rápido quanto os pensamentos brotavam em sua mente.

– Você não é um teísta, é? - Inquiriu Ed.

– E o que isso importa? O H411IB agora cria sua própria linguagem. Nenhum dos códigos de programação inseridos na sua inteligência artificial servem para nada. Ele está criando sua própria inteligência, linguagem e reações. Ele se tornou completamente imprevisível. Nossa programação perdeu todo o padrão, ele agora possui seus próprios gostos pessoais. Todas as linhas iniciais no nosso prompt de comando só serviram para iniciar uma cadeia de autoprogramação. - disse James.

– E isso não é o máximo? - A voz de Ed mostrava seu entusiasmo interior.

– Ed... Isso é um desastre.

– Não me venha com essa. Esse é o maior avanço da mecatrônica atual, James.

– Você não vê a expressão do H411IB quando chegamos no laboratório?

– Ele prefere ser chamado de Ralf... - Edward falava como se pensasse em outra coisa.

– Meu Deus... Isso é um pecado...

– Desde quando você virou um religioso? - A voz de Edward passou de entusiasmo para desconforto.

– Desde que eu vi a expressão na face dele. Ele tem pavor de nos ver a cada incursão em seus circuitos integrados. Cada vez que conectamos os plugs nos seus conectores eletrônicos ele grita de dor e pavor. O medo dele é real.

– Ele é só uma máquina. - Vociferou Ed.

– A dor dele é real! - Disse James socando a mesa.

– Quer dizer que se um dia seu computador mostrasse uma mensagem na tela inicial pedindo "pelo amor de Deus que você não o ligue" você daria ouvidos? Lógico que não, é só uma máquina. Assim como Ralf.

– Você se dirige a ele como um humano... Não percebe, Edward? Você também o vê dessa forma. Como pode não sentir nenhuma culpa pelo que ele sente? Ele não sabe que é um robô. Na cabeça dele, é um humano como nós, submetido a uma experiência terrível.

– Você falando assim, parece que somos uma espécie de um Josef Mengele. Droga! É uma máquina, droga. Ele não tem "cabeça"! São só circuitos. Droga James... É uma máquina.

– Era assim que se referiam aos animais antigamente nos experimentos... "É só um animal"... - James disse de cabeça baixa.

– Ralf é só um emaranhado de fios, cabos e placas. Não é vida. - Respondeu Edward no mesmo tom de voz.

– Você já viu a expressão dele? Já viu a agonia que ele fica quando tentamos acessar seus circuitos internos? Ele grita de dor. Ele pede misericórdia... Deus do céu... É como se eu tivesse dilacerando um ser humano.

– É só a programação dele. As reações que ele modificou a partir do protocolo primário. - Explicava Ed - você sabe.

– Mas para ele é Real! Merda!– James derrubou parte do seu café na mesa– Que droga!

– Você está precisando de férias, James...

– Eu não quero participar disso, Ed. E não preciso de férias. A dor dele é real. Nós criamos uma espécie de "alma" nele.

– Bobagem...

– Eu estou fora...

– Como é? James você n...

– Pedirei demissão hoje. - Interrompeu James

– Não faça isso. - Ed mexia seus braços de um jeito irregular.

– Está decidido. – James levantou-se deixando seu copo de café sujo no recipiente apropriado.

– Você ainda vai se arrepender disso, James. - Disse gritando enquanto o outro deixava a sala - Vai se arrepender muito!

Dois meses depois, uma manchete de jornal eletrônico chama atenção de James:

Androide H411IB da H-borg Corporation comete "suicídio" intrigando cientistas.

– Que Deus o tenha. - Disse sem poder segurar as lágrimas.

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