Capítulo I

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Sinto meu sangue ferver e minha vista embaçar.  Lágrimas escorriam pelo meu rosto e minha vontade era de matá-lo.

Meu pai havia acabado de matar o meu namorado. Aquilo havia mesmo acontecido?

Estava na janela de meu quarto, e desço rapidamente já não enxergando mais nada. Como ele havia descoberto sobre o meu namoro? Eu nunca sequer tinha dado indícios disto. Mas agora não era o que importava. Meu namorado estava morto!
Chegando na sala alguém me agarra fortemente e sinto algo furar meu pescoço.
Meus olhos estranhamente ficam pesados demais e se fecham, sem minha permissão, fazendo outra lágrima escorrer. Tento me afastar da pessoa que me agarrava mas era inútil, meu corpo já não respondia meus comandos. Minha audição focava somente uma voz, na qual estava aos gritos, e não consigo reconhecer.

[…]

Acordo com esta mesma voz ecoando em onde quer que eu esteja, mas agora não gritava. Lentamente, vou abrindo meus olhos, olhando em volta e estava em meu quarto novamente, e a voz estava por trás da porta.
Me levanto um pouco tonta e sinto como se estivesse dormido por dias, me sentando e tentando recuperar meu equilíbrio. Após alguns segundos me levando e vou até a porta, encostando meu ouvido na mesma, para escutar melhor sobre o que falavam.

- Não irei deixar que ela descubra. -a maçaneta se move lentamente. - Está tudo sob controle. Não precisa se preocupar.

Esta voz era de Grayer, um dos irmãos Alencar.
Eu realmente nunca entendi o porque dele ser amigo de meu "pai". No passado, meu pai matou Hayden, pai deles, mas se perguntá-los sobre isto, eles dizem somente que "ficou no passado" e rapidamente mudam de assunto.

- Espero que assim seja.

A voz foi tão fria que quando a escutei, logo reconheci. Rômulo Donner (ou se preferirem, o cara que dizia ser o meu pai).
E então, a conversa se encerra. Vejo a maçaneta se mexer novamente, mas não se abre. Ouço passos indo em direção as escadas. Tiro meu ouvido da porta, mas, no mesmo instante, a mesma se abre, me levando de encontro com o chão e Rômulo aparece por trás da mesma.

- O que escutou? - Seu olhar flamejante se fixou nos meus.

- Nada com o que precise se preocupar. - Falei me levantando do chão. - Nunca se preocupou mesmo.

- O que estava fazendo atrás da porta? - Parecia que estava em um interrogarório.

- Estava procurando um brinco. - Dei uma desculpa esfarrapada. Ele pareceu não acreditar e eu não liguei, fazendo-o sair do quarto.
passo o olho pelo corredor, me perguntando sobre o que eu não poderia descobrir, e vejo Grayer subindo as escadas.

- São que horas? - Ele me parecia pensativo, observando cada canto de meu quarto.

- Tenho cara de relógio? - Disse seca e entro novamente, fechando a porta. Estava tentando recuperar minhas energias para conseguir acreditar que Rômulo havia mesmo matado o meu namorado.

- Fique acalma. Quando o sol de pôr, o Sr. Danner quer que você esteja no quarto. Sem falta. Você não irá sair mais dele até o amanhecer. - Ele falava por trás da porta, calmo, como se nada tivesse acontecido. Seus pés andaram para outra direção, saindo da porta do meu quarto, me deixando sozinha com meus pensamentos.

Ficar acalma? Como eu poderia simplesmente me acalmar? Eu acabei de perder o meu namorado e ele quer que eu me acalme?
E, como uma onda, meus sentimentos me afogaram, e eu não queria me salvar.

[…]

Cada segundo passa mais devagar quando se está triste. Todos os milésimos parecem milênios.
Eu preciso espairecer, pensar em outra coisa, mas parece que é impossível.
Me levanto, ainda morgada, e vou até a janela, e vejo o corpo de Henry, caído sobre o chão frio, com o corpo na mesma temperatura. É difícil pra mim, eu o amo... ou costumava amar, quando ele era vivo.
Quando me dou conta estou chorando novamente, com o sangue fervendo e coração acelerado. Tudo o que eu tenho agora é ódio. Ódio desse cara que diz ser meu pai. Ódio de Rômulo Danner.
Caio na cama e me deixo levar pelas lágrimas novamente, tentando respirar em meio de soluços. Escuto passos se aproximando de meu quarto, mas me recuso a levantar a cabeça.

- Para de palhaçada. Você não sabe nem o significado da palavra amor. Tem apenas 16 anos. - Senti o cheiro de álcool de longe.

- E acho que nunca irei descobrir. Tudo o que sinto é ódio. Ódio de você. Eu te odeio - Nunca falei isto em voz alta para ele e minhas palavras pareciam não machuca-lo, e nem tocá-lo de alguma forma.

- É? Que bom, só assim não preciso fingir que me importo com você. - Assim que ele deixou o quarto, suas palavras foram se repetindo em minha cabeça e me machucando como nenhuma surra faria.

E, hoje, decidi que tenho que sair dessa prisão de quarto. Fico aprisionada aqui desde tenho 13 anos de idade, e não aquento mais isto.
Então, como não sou idiota, não posso fazer isso de qualquer jeito. Eu ainda não sei, mas, quando for a hora, ninguém nunca se lembrará de minha existência.

Lentamente, levanto meus olhos e dou uma bisbilhotada através de meus braços e vejo o pôr-do-sol pela janela. Não sairei daquele quarto tão cedo novamente.

Por que tens que ir tão cedo sol?

Triplo GolpeOnde histórias criam vida. Descubra agora