Capítulo 2

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Estava no buzu com os fones plugados no meu Samsung mergulhada na música da Iza ''pesadão'' , me remexia até um pouco porque a batida é bem envolvente e de certa forma a letra é minha realidade ,pras pessoas que moram em favelas como eu sofrem muito preconceitos pela sociedade , é como se fossemos o lado negro da nação ou seja os excluídos , além do mais minha cor de pele não ajuda muito ;negra , favelada e pobre ,no mínimo é ladrona , é isso que sempre pensam , não que eu me importe , para mim tanto faz , no entanto não significa que não deixe de doer.

Puxo a cordinha quando chego no meu destino , me espremendo pelos corpos tentando me esquivar quando é impossível . Quando me vejo fora da lotação , respiro fundo soltando uma lufada de ar recebendo o vento que é bem vindo , embora esteja um calor sem fim – preciso mesmo de um banho de praia urgente , então o diabinho sopra no meu ouvido '' Até parece que você tem tempo pra isso'' – Então resisto a vontade de lhe dar o dedo do meio ,onde as pessoas que passam por mim poderia achar que estou louca , então me concentro em apenas rolar os olhos e subir ladeira a cima até chegar na quitinete em que moro com meu padrasto .

Como já estava acostumada a subir isso aqui desde que me entendo por gente , não me surpreendo quando chego em tempo recorde , um pouco ofegante e mesmo assim passei cumprimentando os vizinhos ;por ser o lugar que é , quase todo mundo se conhece . Nem dei espaço pra começarem a indagar da minha vida , e nem fiz questão pra parar e bater um papo , ainda tinha muita coisa pra fazer e tenho que estudar pra uma prova que farei amanhã no primeiro horário . Quando chego em casa , arrasto as chaves da minha bolsa a destrancando e jogando minha mochila em cima do sofá pequeno que mal cabe na pequena sala , fazendo uma careta quando dou de cara com meu padrasto Kenedi esparramado no outro sofá de braços abertos , sendo que um se arrasta quase pelo chão , está de boca aberta e o mal cheiro de bebida e álcool inunda por toda a sala.

Marcho até a cozinha apertada pegando tudo que preciso pra fazer uma faxina na casa , aproveitando do desmaio alcóolico dele . É sempre assim , vive nessa vida e nunca toma vergonha na cara pra se levantar e procurar algo bom pra se fazer na vida , ao invés de passar a semana dentro de um bar enchendo a cara . Se não fosse por minha madrinha , eu realmente não sei o que seria de mim ; por os Scozari serem um casal de juízes , eles conseguiram passar minha guarda pra minha madrinha Ester me salvando dessa vida ao lado de Kenedi , ele é um bom homem , só esta perdido na vida , desde que minha mãe nos abandonou.

Quando estou pegando a última remessa de lixo e jogando na lixeira, encontro uma garrafa vagabunda de 51 debaixo do forro do sofá ; isso foi mesmo uma tentativa de esconder a cachaça? – Minha mente é sarcástica . Então Kenedi resmunga algumas palavras incoerentes e abre os olhos se deparando com os meus irritados pra ele . O mesmo faz uma careta se ajeitando pra sentar no sofá, mal dando conta de fazer isso , enquanto eu fico olhando seu ''espetáculo'' bebum .

- Que horas você chegou?- Sua voz sooa embolada , passo por ele levando o lixo pra cozinha pra pôr num saco maior pra jogar fora.

- Ah tempo suficiente – Jogo uma cartela de aspirina pra ele , este olha pra sua mão de testa franzida e pra mim de volta

- Pra que isso ? – Arqueo uma sobrancelha pra ele

- Vai precisar de alguma coisa pra sua ressaca . Ou talvez nem precise mais , já que a bebida faz parte de seu sistema digestivo .

Ele comprime os lábios numa linha fina ficando em silêncio e baixando as vistas , pela minha alfinetada

Bufando vou até a geladeira velha , crendo que ela tem bem a minha idade , pegando a garrafa com uma caneca que fica numa bandeja acima dela e trazendo pra ele .

Construindo o Amor ( DEGUSTAÇÃO )Onde histórias criam vida. Descubra agora