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Capítulo III
Blair

Sempre que acordo com essa sensação de que me falta algo, procuro associá-la imediatamente a necessidade de dormir mais um pouco.

Fiz isso e cochilei por mais cinco minutos, e digo que foi o bastante para conseguir me levantar mais disposta. O alarme estava quebrado, mas a noção de que tinha ainda 15 minutos para chegar no trabalho estava ali, pairando em algum lugar da minha mente. Não me importava em chegar atrasada pelo menos uma vez na semana. Minha rotina matinal certamente é importante tanto para mim quanto para os clientes que vou receber até as 6 da tarde. Ninguém quer ser atendido por uma funcionária estressada.
Banho quente relaxa os músculos, um café da manhã balanceado te dá mais energia.
Eu fiz tudo e ainda assim, saí de casa no mais completo desânimo. Acho que preciso beber, tirar férias e alugar uma canoa, pescar um peixe grande, entrar em um concurso e vencer o prêmio de pescadora novata do ano.

Caminhei por três minutos e alguma coisa até chegar ao café.
Moose&Men.  Nome criativo, considerando a fixação do dono, que vem de uma família tão espirituosa que afirma com certo orgulho, sua conexão sagrada com os alces. Cheguei a tempo de receber os primeiros clientes. As ruas pouco movimentadas pela manhã faziam a cidade parecer estranhamente fantasmagórica. Pensando bem, é assim desde sempre. Não me recordo de um único dia em que não parecesse inverno naquele lugar, todo ambiente que se entra em Woodland faz questão de lembrar aos passantes que se manter aquecido é a prioridade. Embora isso, uma das diversões da minha infância era a praia gelada e vazia. Passando por lá agora vejo que nem para pescar aquele ambiente serve. Não passa do território isolado e solitário do velho e estranho Pou: um caduco corcunda, com um olho que mal funcionava e neurônios a menos do que o recomendado. Provavelmente já deveria estar morto, mas como dizem por aí, vaso ruim não quebra. Posso dizer com quase certeza, que esse velho ainda vai ficar muito tempo tomando conta daquele casebre, que está caindo aos pedaços, assim como ele.

Descansei os braços no balcão do caixa e assisti o pouco movimento do café, nenhum outro cliente entrou pela porta, o que me proporcionou alguns minutos de descanso mental, já que de alguma forma, minha mente parecia atordoada.
Talvez eu pedisse para ir embora mais cedo, embora faltassem poucos dias até a seleção de funcionário do mês e eu não quisesse ter salário cortado da carga horária que eu não trabalhasse caso fosse embora, ou os prêmios que viriam na cesta de equinócio. Os óleos essenciais de camomila eram meu principal objetivo, eu precisava ganhar na disputa daquele mês. Eu ganhava quase sempre, mas aqueles óleos eram especiais, logo, eu encontrei a necessidade oportuna de ser um pouco perfeccionista. 

Foi quando meu pensamento estava longe o suficiente, que o telefone achou prudente tocar ao meu lado de repente. Com um salto, parei de pensar no que quer que fosse e agarrei o aparelho, o atendendo com o tom de voz firme:

— Ui, isso foi um pouco duro demais, Blair. Se eu fosse um cliente, teria desligado.
— Foi mal, me pegou de surpresa. Achei que não tinha sinal no meio da floresta.
Mudei de assunto, deixando o comentário do meu chefe anotado no meu bloco de notas mental.— Não tem mesmo, estou ligando do acampamento.
— Alguma emergência?
— Nada com o que se preocupar, na verdade. Mas tem um tempo forte na nossa cola e descer a montanha é perigoso, o guia achou melhor esperar antes de prosseguirmos pela trilha.
— Isso quer dizer que vou fazer hora extra?
— Se você tiver sorte, vai ser só por mais um ou dois dias. Tudo bem por você?
— Se isso me garantir aquela cesta maneira, estou de boa.
Do outro lado da linha, com a interferência ficando um pouco mais alta, consegui ouvir a risada grossa de Sven misturando-se ao barulho de uma chuva fraca começando ao redor dele.
— Estou indo nessa, cuide bem da loja e eu penso sobre a cesta!
Ouvi o som da ligação sendo cortada, e comecei a afastar o telefone da orelha quando o ouvi chamar de novo. Estranhando, aproximei o aparelho do ouvido outra vez, ele riu fracamente, dizendo algo típico dele:

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