Acertando as contas

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Parei apenas por um instante para poder recuperar o fôlego. Em seguida, continuei a correr. Quem diria que eu estava correndo de um fantasma?

Isso mesmo, fantasma. E não era ninguém fantasiado, era realmente um fantasma. Como eu sabia? Não era a primeira vez que eu dava de cara com um, mas, era a primeira vez que eu fugia de um. E pensar que há poucos minutos era eu quem perseguia, e agora, estava sendo perseguida.

Havia chegado cedo na floresta, antes mesmo de escurecer, e desta vez não tinha intenção nenhuma de matar ninguém. Eu só queria ficar sozinha na noite de Halloween, e acampar na floresta, mas aí, quando o negro já havia tingido o céu e a clareira da floresta era iluminada apenas pela luz da lua, eu ouvi não muito longe de onde estava, gritos de socorro.

Sem nem pensar, peguei minha lanterna e meu revolver e conferi quantas balas tinham. Podia apostar que algum engraçadinho queria se aproveitar de alguma garota. E eu estava certa.

Embrenhei-me de volta pela floresta, atenta para ver se ouvia mais algum pedido de socorro. Ao me aproximar de uma grande árvore eu pude ver as sombras de duas pessoas, e conforme chegava mais perto, pude notar que era um casal e que o homem estava prendendo a garota contra a árvore, claramente contra a sua vontade.

A mulher usava uma fantasia de bruxinha, com um vestido bastante curto. O homem, vestia-se de vampiro, e era mais alto do que ela. Não pude deixar de pensar na falta de criatividade para as fantasias de ambos.

— Ficou se oferecendo, e agora não quer mais? — ele gritou para ela, enquanto tentava beijá-la a força.

Silenciosamente, cheguei perto o suficiente dos dois, que ainda não tinham notado a minha presença, apontei a arma para ele e disse:

— Deixa a moça em paz!

Ele parou e virou apenas a cabeça para me olhar, e quando viu a arma apontada em sua direção, ficou todo tenso e virou-se por completo para mim.

— Cal... calma aí, moça — gaguejou erguendo as mãos em sinal de rendição.

A garota me olhava com um misto de medo e agradecimento, mas ainda estava com as costas coladas na árvore e não se mexia.

— Você, pode ir — apontei com a cabeça para ela. — Se seguir por aquele lado — indiquei o caminho contrário ao que tinha feito —, em poucos minutos estará na rodovia. — Quanto a você — fitou o homem —, é melhor nem se mexer.

A garota não pensou duas vezes e saiu, seguindo o caminho que eu havia lhe indicado. Havia um posto de gasolina há 500 metros da saída da floresta, ela ficaria bem. Quanto ao nosso amiguinho ali...

— Você é um pedaço de merda, sabia? Não é porque a garota está com um vestido curto que ela quer que você tente fazer algo com ela.

— Mas ela...

— Calado! Eu não disse que você podia falar. — Sorri um sorriso diabólico. — Você agora vai morrer.

Apesar de eu ter impedido que ele fizesse algo contra a mulher, não sei se ele merecia morrer. Talvez ele só estivesse bêbado, e nem fosse uma pessoa tão ruim. Mas eu não conseguia apenas segurar a arma sem dispará-la. Ele estava bem na minha mira, e a vontade de matar, a vontade de tirar a vida dele apenas por tirar era tão grande...

Um barulho que não consegui identificar fez com que eu me desconcentrasse e neste momento o cara aproveitou e correu, indo pelo caminho que eu tinha feito para chegar até ali. Então, corri atrás dele.

Com a lanterna em uma mão e o revolver em outra, corri atrás dele. Ele tinha alguma vantagem de distância, mas parecia perdido, e isso o atrapalhava. Eu atirei uma vez e ele deu um pulo. Eu ri. Ele estava indo em direção a clareira, local onde eu estivera antes. Seria tão fácil matá-lo ali.

Sobre O Amor E Outras CoisasOnde histórias criam vida. Descubra agora