Não sabia o que estava acontecendo, nem porque, e por uma segunda vez acordei sem saber onde estava, ou melhor sabia, estava no inferno. Muitos escorpiões! ESCORPIÕES! Meu corpo estava coberto deles, milhares! Todos picando meu corpo ao mesmo tempo!
-Haaaahaaaaahaaaaaa
Todos os pecados do mundo recaiam sobre mim, só isso poderia explicar tal punição. A dor física era execrável, a pele, os músculos, ossos. Tudo sendo rasgado, quebrado e queimados ao mesmo tempo, sentia cada parte sendo perfurada por agulhas carregadas de veneno mortal.
-Socorro- foi a última coisa que imaginei ter dito. Onde estaria minha família?★★★
- Papai ese livo tem um monte de bixinho, mai eu num sei o nomes dele!- disse fazendo bico- fala pra mim o nomes deles papai!
-Doninha o que eu falei sobre não mecher nas coisas do papai?
-Disculpa! Lê pra mim?
- Tem como escapar Poliana?
- Não - abrindo o livro na primeira página- Ese bixinho aqui ele parece um tavalo, só que ele tem o cabelo vede e ele ta na água papai!
- Sim Poli, porque esse não e um cavalo qualquer, ele mora na água e atrai as crianças para montar nele e depois ele as leva para o fundo do mar! Seu nome é Kelpie.
- E as criança fica bincando com o Telpie embaixo d'água?
- Quase isso Polis, vamos ver outro- ele não diria para uma criança que, aquele cavalinho era um ser mitológico celta e que matava as crianças.
- Olha esse papai, é um home com chife e tem fogo ainda! E como eli e gande!
- Surte o senhor dos gigantes de fogo, você não iria gostar desse bichinho filha.
- Tem cala de mal mesmo, melhor ver outo papai- disse virando a página com a maior delicadeza que uma criança de três anos possui - esse é bunitinho palece uma foormiga! Só que tem uma cor diferente e é maior! Não isso não é uma foormiga, é um escopichão, a mamãe que ele é mal e morde! - disse toda feliz por saber o nome do suposto animal.
-Essa criatura...
Daniel estremeceu só de imaginar. Os galeses o chamavam de Marworian, no entanto possuía inúmeros nomes, para diferentes povos. Simbolizava sem ressalvas o inicio do fim. Sendo o mensageiro de uma das entidades primevas, que ajudou a criar o universo, e logo depois desapareceu. Muitas mitologias crêem que está entidade espalhou sua essência para dar vida a todos os seres. E rés a lenda que a um ser em especial deixou a chave que desencadearia o apocalypse. Enfim, Marworian seria parte de um rito, como um teste para o escolhido. Apesar que com o passar das eras e a descrença dos povos a lendo foi quase que esquecida.
- Não se preocupe, nunca verá um desse, não permitirei minha flor! Nós também podemos esquecer. Somos fortes!
-Tá papai- passou mais uma página com todo cuidado, sem entender o que o pai havia dito- Ah! Esse tachorro tem téis cabeça papai!
- Ele se chama Cerberus e guarda as portas ...★★★
Em um dado momento a dor me era indiferente, morreria por paradas múltiplas dos órgãos em pouco tempo. Se eu estou com medo? A morte seria um alívio, então não tenho medo da morte, não mais. Tudo que me prendia a vida era minha família. Imaginar que a clarinha poderia estar passando por isso, minha mãe o Bento. O que eu fiz de tão vil para merecer isso? Quem era tão malévolo de infringir tanta dor ao outro?
Os sonhos com meu pai, ele queria que fosse forte, ele dizia... De súbito, aqueles bichos eram, não podia ser. Eles eram pequenos ESCORPIÕES COR PRATA! Como na lenda do papai, não podia ser! A dor estaria perturbando minha cabeça, o que era justo. Como uma pessoa poderia sobreviver tanto tampo ? A lenda que papai contou, era só uma lenda! Eu era uma criança. Nada daquilo podia ser verdade, eram mitos, todos irreais. Eram IRREAIS! IRREAIS!
Ou não? Será?
Pela primeira vez me esforcei para analisar o ambiente. Era um pequeno quarto, quase como uma despensa, as paredes eram cobertas de furos e deles saiam os escorpiões. Somente o teto era liso e parecia ter ... Uma porta, estava em um sótão! Uma cova. Estava ali para morrer!
Estava cansada de reclamar e chorar. Mas o que eu poderia fazer? Nem mesmo podia me mexer!
Eu rezei, rezei pedindo a Deus, aos deuses e orixás. Todas as que lembrei e os que não lembrei. Que me ajudassem, que olhassem por mim! Ao meu pai.
- Papai não sei o que está acontecendo, mas me ajude a ser forte, proteja nossa família onde quer que esteja. Me ajude a entender tudo isso!
A portinha do alçapão foi aberta, os olhos verdes do meu carcereiro me encaravam, eram tão verdes! E seu cabelo era cor de fogo, tinha as orelhas um tanto pontudas e nariz reto. Que cômico ele parecia um elfo!
- Esta viva, ela está viva pessoal! - escutei seus gritos enquanto ele fechava a porta, quis gritar para que ele voltasse!
Muito tempo se passou e ele não mais voltou, certo que esperaria mais até que eu morresse. Estava cansada, cansada de não poder fazer nada, de chorar. Onde estaria minha família?
Os escorpiões se foram pelos buracos da parede, fiquei tão feliz. Talvez eles não fossem mais me matar. Ainda assim deveria ter dado ouvidos ao elfo, não ficar alegre.
A forma que iria morrer era muito menos glóriosa do que escorpiões exóticos, logo que rios de água caiam pelos orifícios da parede e não demorou para que meu corpo estivesse totalmente coberto. Morreria inerte, paralisada por veneno de escorpião, e afogada em um buraco. Sem família. Sem saber porque. Sozinha.
Mamãe tinha razão eu não sabia nada sobre a realidade. Não era forte. Não era nada.
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O INÍCIO
FantasyA vida de Poliana era um tanto que pacata, família, escola, namorado, até a morte de seu pai ...E mesmo que seus sonhos fossem pura magia, nada era comparado a realidade. Cruel. Inexplicável. Surpreendente !