prólogo

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Era uma noite fria

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Era uma noite fria.

As gotas de chuva engrossavam a medida em que meus passos aceleravam. Eu estava correndo como um fugitivo sem rumo passando por casas e mais casas e a intensidade da tempestade se juntava aos meus batimentos descompassados. Meu coração estava prestes a saltar pela boca e minha respiração era tão forte que ameaçava quebrar as costelas.

Era o inferno na terra.

Meus músculos doíam e as poucas pessoas com quem eu esbarrava me olharam como se eu fosse louco. Talvez eu realmente estivesse louco naquele momento.
Não havia sentimento algum além de desespero, e eu queria que aquilo me matasse enquanto eu corria por vários quarteirões, porque eu sempre fui um covarde.

"Podemos ser humanos e monstros ao mesmo tempo."

Eu não era o tipo de cara que negava emoções que qualquer ser humano poderia emitir dependendo da situação, mas ali, no meio da chuva, enquanto eu corria para o centro com as pernas quase dormentes e meus pulmões queimando com a falta de ar, eu desejei ser um desalmado.

Eu queria deixar minha humanidade para trás e frear a corrida. Respirar fundo e voltar para casa andando como se nada estivesse acontecendo. Mas não. Eu não conseguiria nem se eu quisesse muito, e eu queria tanto.

Quanto mais quarteirões eu atravessava, mais barulhos eu escutava. Murmúrios, passos em meio a poças d'água, gritos, pessoas indo e vindo. Cochichos, falácias. Tudo o que eu odiava.

"Vamos alugar um trailer, viajar e jogar cartas como fazem todos os velhos deste país."

"Eu juro que larguei o cigarro."

"Ela diz coisas horríveis, você não aguentaria um segundo com ela."

"Você é o Luke de sempre."

"Eu confio em você, Luke."

"O verdadeiro inferno é aqui. As pessoas só creem em algo porque torna tudo mais suportável."

"É hora de parar, Luke."

As vozes começavam a ficar cada vez mais barulhentas e minhas memórias tinham gosto de sangue, eu não sabia distinguir a realidade e meu surto em meio ao desespero. Me aproximei o suficiente para ver uma multidão cercando o que era exatamente o que eu temia: uma cena de acidente. Quando meu telefone tocou, uma hora antes de eu sair correndo feito um lunático, eu estava bravo demais para pensar em qualquer coisa que estivesse ligada a  ela.

Eu empurrei as pessoas como se elas fossem insetos e o local estava cercado por duas ambulâncias e dois carros destroçados.

— Não, não, não!

Era o inferno na terra.

Quatro corpos no chão. Um na ambulância que estava saindo em direção ao hospital.

E o meu estava perto de ser o próximo em uma maca.

Então eu corri de lá, como se isso fizesse o tempo voltar. Eu queria retroceder, não ter ficado bravo. Ser razoável, compreensivo, dócil. Eu teria sido melhor, eu teria sido o que sempre fui.

Ás vezes as coisas mais banais causam danos irreparáveis, e você precisa lidar com sua merda como uma pessoa de coragem. Ou que tenha dignidade, pelo menos.

Naquele momento, eu não tinha coragem e muito menos dignidade, e nem mesmo força para lidar com o sentimento que tomava conta do meu peito. Eu me sentia um poço prestes a transbordar, e a água que escorria pelo meu corpo já não parecia mais água, eu estava suando sob a chuva.

Tudo menos a chuva.

E eu sou um erro.

Daqueles terríveis, que nem o tempo pode curar a culpa por tê-lo cometido. Me sinto como um barco naufragado no oceano, que está prestes a me engolir. Eu sou um emaranhado de coisas horríveis e não merecia um terço do amor que recebi.

Eu nem ao menos existo.

Uma tragédia. Eu me definiria assim também, a pior e mais elaborada de Shakespeare, um egocêntrico pessimista, banhado na própria ruína. Ou na própria inexistência.

É triste, eu sei. Mas talvez, todos sejamos inexistentes. Ou apenas sombras invisíveis que nunca vão saber declarar amor ao seu verdadeiro Eu. Escondidos em uma máscara, uma armadura, uma longa e extensa capa. Todo ser humano é assim.

Somos corpos dentro de uma alma que luta para sobreviver. O verdadeiro desafio está dentro de nós, o mundo só coloca seus ingredientes para alavancar acontecimentos catastróficos.

Não me culpe, isso já me basta. Eu já me torturo o bastante para até o fim dos meus dias, eu não preciso de mais julgamentos.

E eu continuava correndo. Correndo feito um louco. Eu repetia isso como um mantra. Louco, louco, louco!

"Estou correndo das pessoas ou de mim mesmo?"

Corra, Luke. Corra.

Você vai carregar esse peso.

Mas eu preciso voltar um pouco.

Minha vida nem sempre foi assim, carregada de má sorte e uma cena de horror de modo que me fizesse querer sangrar pelos ouvidos até a morte. Eu preciso dizer sobre as coisas bonitas. Preciso contar tudo que antecedeu aquela noite chuvosa. Preciso contar algo que fez meu coração sentir segurança e tranquilidade. Algo que me fez desaparecer no meio da minha própria confusão.

Da minha desordem.

E eu posso dizer que:

Houve um momento.

Houve um alguém.

Houve felicidade.

💭

Então, gente! esse é o prólogo

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Então, gente! esse é o prólogo. Quero pedir desculpas pela demora e por postar tão tarde, mas é que eu tô ansiosa aaaa!!!

E aí, o que acharam? o que vocês esperam? eu quero saber tudo 🥺

e por favor, votem e comentem o que vocês acham, quero muito saber a reação de quem estiver lendo e cada feedback vai me motivar muito mesmo :((

bom, eu acho que é só. até sábado, quando eu voltar com o capítulo um 🤍💭

Em Sua Des(ordem)Onde histórias criam vida. Descubra agora