Notas: QUERO AGRADECER PELA CAPA LINDÍSSIMA DA MISUZU, MARAVILHOSA COMO SEMPRE!
*aviso: história contém abuso, estupro, cenas de tortura. pessoas que possuem qualquer forma de sensibilidade a esses conteúdos, favor não ler.
apenas o prólogo é no presente.
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É incrível como as coisas vêm e vão na vida.
Uma hora está tudo bem, logo depois há um ponto final bem onde deveria haver apenas uma mancha de café, uma lágrima de um sentimento pertinente ou uma seta, apontando para esquerda, indicando que o tempo ali deveria ser regredido.
Eu só queria poder trocar o meu ponto final por uma seta dessas.
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Nirvana
Prólogo – Sanidade?
Esta tarde é chuvosa e fria. Não posso sair de casa e nem estou animado para fazer algo como assistir um filme, jogar ou ler. Não tenho diversão ou um tipo de... coisa para distrair minha mente. Pego o copo de whiskey sobre a mesa, há uma mancha na tábua de madeira sobre a qual eu apoio a peça e um pouco das minhas mágoas. Sinto o líquido descer, rasgando minha garganta, talvez seja a décima dose do dia. Levo meu cigarro até a boca e trago o mais fundo possível, sentindo os alvéolos se encherem daquela droga altamente cancerígena. Bufo. Tudo que eu gosto de fazer, e que ainda me resta, mataria-me um dia. Mas eu prefiro ficar dessa forma, morrendo aos poucos.
Olho para trás, podendo ver os porta-retratos pendurados na parede. Estão tão sujos. Chanyeol está tão lindo em todas as fotos, seu sorriso nelas ainda clareia todo o ambiente dessa casa escura e praticamente vazia. Coço minha cabeça, sentindo as unhas arranharem o couro e o ferirem também. Quero poder levantar e tomar um banho, tirar todo esse cheiro que está impregnado em mim há algum tempo. Acho que ele não sairia tão cedo, principalmente da minha cabeça. Minhas pernas estão cansadas, no entanto, e eu não quero me dar o trabalho de acordar disto que parece ser minha vida. Por mais na merda que eu esteja, prefiro continuar aqui, na minha zona de conforto. Quem visse de fora diria que sou louco, doente por viver nesse lugar como estou, ou até por ainda viver mesmo. Monstro.
Olho para cima, tentando evitar as lágrimas mais uma vez. Sorrio. Como sou patético.
Sabe quando te dizem que é melhor se arrepender de algo que você fez do que de algo que deixou de fazer? Faço-me esse questionamento, achando que o tempo vai regredir e irei resolver. Eu prefiro mesmo não tê-lo feito?
É tudo tão confuso ainda.
O dia foi parado e eu só estou esperando a noite chegar, contando cada segundo. Assim, mais um dia também se passaria, e outro, e outro, e logo estaríamos em abril. Não que seja importante, eu só acredito que as coisas vão melhorar neste mês. Ou talvez fosse por estar perto do dia em que conheci Chanyeol. Sim, é uma data importante para mim, mesmo depois de tudo.
Suspiro.
A culpa consome cada milímetro de mim. Há alguns poucos dias, eu podia ouvir a voz de Chanyeol como sempre costumava ouvir toda vez que colocava os pés dentro da nossa casa. Nossa ex casa. Estranho pensar dessa forma, porque faz tão pouco tempo que mal me acostumei com sua falta. Não por um inteiro, sei que parte dele ainda está aqui, em nosso quarto. A presença de Chanyeol permanece forte, acima de tudo. Sim, acho que ainda ouço seus sussurros, ora contentes, ora perturbadores.
Ah, sinto como se estivesse implodindo...
Dou mais uma tragada longa. O cigarro, Gudang, deixa meus lábios adocicados. Só deles estarem quentes, traz-me a sensação de acolhimento que acabava por encontrar entre os braços de Chanyeol. Sinto uma saudade absurda, mesmo depois de todas as confusões. Claro, meu corpo ainda está manchado dos seus roxos. Eu costumava gostar de alguns deles. Mas já faz tanto tempo que eles me agradavam.
Finalmente tomo coragem e ergo meu corpo. Estou sozinho e sei que continuarei pelo resto da vida ali se não fizer algo para isso não mais acontecer. Não tomaria iniciativa alguma se não ouvisse as batidas fortes na porta do meu apartamento. Quem pode ser a essa hora? Claro que eu espero por ninguém. Não mais. Nossos amigos não nos ligam há mais de um ano.
Nossas vidas perderam o brilho, tudo se tornou um poço sem volta. Consigo enxergar de fora o caos que as coisas viraram. Estou sorrindo ao ter, em minha cabeça, revividas as lembranças daquele Chanyeol sorridente e brincalhão que eu costumava conhecer, do homem que me beijava carinhosamente todas as noites e me consolava quando acabava mal em algum processo do trabalho. Eu sabia que aquele Chanyeol havia morrido há muito tempo. Ou talvez algo o matou, algum rancor, alguma mágoa, trauma... Sim, eu sei quem é o responsável primário das coisas que vinham acontecendo.
Enxugo as lágrimas, imaginando em como seria reconfortante pensar que é de Chanyeol que a droga do pedaço de madeira me separa agora. Apenas um pedaço de madeira nos separa nesse momento. Apenas um pedaço de madeira. Não consigo fazer meu rosto ficar seco.
Mais batidas violentas sobre a porta. Por mais que queira ver um rosto, mesmo que desconhecido, uma voz diz ao meu ouvido que não devo abrir a porta. Mentes... elas pregam inúmeras peças em você, independente da situação. Apago meu cigarro no cinzeiro, esfrego meus olhos e ajeito minhas roupas, ainda que não me importando com toda a sujeira contida nelas. A maçaneta fria dança em minhas mãos instantes antes de eu puxar a porta e abri-la. Sorrio, como se minha vida estivesse ótima e eu não precisasse me fazer de bobo. Não... não de novo.
– Oh, desculpe, esqueci desse... – destranco o ferrolho com a cordinha de metal, finalmente vendo quem está ali. A figura que há muito eu não via.
– Onde ele está?

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Nirvana
FanfictionNirvana é o estado de libertação do ser humano dos bens materiais, prazeres carnais e todo carma existente. Byun Baekhyun o alcançaria, se conseguisse fazer Chanyeol sumir de sua vida.