Capítulo I - Carpete vermelho

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Sabe quando o filme de sua vida passa diante dos seus olhos? A sensação é extremamente perturbadora, principalmente quando se tem um passado perturbador.

Nirvana

Capítulo I - Carpete vermelho


As coisas nem sempre foram assim, mas eu me lembro muito bem de tudo...

Eu era um jovem comum. Tinha aulas durante as manhãs e tardes, tinha dois bons amigos, saía e me divertia. Lia livros sobre agentes secretos e segredos de criminosos fictícios mundialmente famosos. Minhas músicas estavam gravadas em uma fita, bom, em várias - hoje chamamos de playlist, certo? -, e as escutava em meu walkman. Meus pais tinham um lindo piano em casa e eu sempre gostava de passar meu tempo dedilhando suas teclas, claramente fascinado com o som maravilhoso que saía dele. Fazia minhas atividades escolares, era elogiado por ser um garoto esforçado e comprometido, mesmo que pouca atenção eu chamava.

Nem sempre fui um largado, bêbado, fumante, desiludido, desanimado e estranho.

Eu gostava de escrever, mas apenas algumas poesias bonitas para uma Marília de Dirceu que eu sabia não existir para mim. Como disse, eram apenas poesias bonita, parnasianas, descompromissadas. Não tive um propósito, decerto, em minha "primeira" juventude. Clássico engomadinho; mas, pelo lado bom, nunca notado pela esmagadora maioria julgadora da qual sempre preferi estar longe. Não só no colégio.

Bom, isso foi a minha "primeira" juventude.

Era o de costume...

Minha adolescência foi boa, não posso negar.

Abril de 2003

Eu estava odiando o ensino médio.

Eu odiava os alunos do terceiro ano por serem metidos e saírem com todas as garotas, eu odiava os alunos do primeiro ano por serem populares e extremamente festeiros, pouco se importando com nota ou bom desempenho. E havia um idiota em especial que... que me irritava mais do que qualquer outro.

Park Chanyeol era popular, saía com todas as garotas que queria, as mais lindas e desejadas de todo o colégio, as de anos mais avançados, com as monitoras também; ia para todas as festas e era o centro das atenções lá. Ninguém sabia sobre sua vida pessoal, apenas o que era público, e o que mais atraía os outros: ele morava sozinho. Mesmo sendo segundo ano, Park Chanyeol era tudo aquilo que eu repugnava em pessoas do primeiro e do terceiro ano.

Vê-lo me causava ânsia de vômito.

Eu odiava absolutamente tudo que ele fazia e queria poder nunca mais me bater com ele pelos corredores.

Bom... em um certo dia, no entanto, vi o orelhudo sair de uma casa aos chutes e murros. Estava lavado de vermelho da cabeça aos pés, sem camisa e com uma porção de marcas bem grandes nas costas. O homem que lhe batia também berrava xingamentos que prefiro não me recordar por serem tão baixos. Chanyeol chorava e parecia estar quase por completo fora de si. Era tão desumano o que sofria que senti uma pontada de pena.

Talvez a reação que tive foi bastante inesperada. Provavelmente você não teria feito o mesmo que eu, não é mesmo?

- Ei! - gritei os pulmões. - Ei, você! Larga ele!

O homem havia parado de espancar Chanyeol, que se contorcia no chão de tanta dor, agonizando, e me fitou intensamente. Havia cólera em seu olhar, como se mil facas estivessem sendo atiradas em mim e me atravessassem. Suas pancadas também doíam. Exatamente iguais às que meu colega de escola recebia.

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