Peço desculpas pela demora de postar, não pude no domingo, e, durante a semana, não postei por motivos óbvios. Devo explicar que Os sete quadros não é bem um capítulo de continuidade, mas é um episódio anterior ao final. Como Nirvana terá uma espécie de continuação, eu vou demorar um pouco para atualizar o próximo capítulo. Então é isso, avisos dados. Xêros!
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Certa vez, uma criança me questionou o que era uma marca em meu braço, eu lhe respondi que era uma cicatriz, mas ela não sabia o que era uma cicatriz.
Eu me sentia exatamente assim, eu não sabia qual o sentido daquilo, mas era claramente perceptível sua textura, cor e cheiro.
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Nirvana
Os sete quadros
Entre três dias antes e o dia 22 daquele mesmo mês
Chanyeol sempre gostou de pintar. Em nosso apartamento, há um quartinho que ele fez de ateliê assim que nos mudamos, e, acreditem, eu gostava mais de vê-lo ali ao vê-lo no escritório. A pintura era sua distração, sua escapatória, seu prazer. No início, alguns pequenos cavaletes ocupavam o espaço, com quadros lindos de paisagens campestres e urbanas, flores, frutas... era um festival de boas pinturas. Tempos depois, meu namorado me tirava dos afazeres da casa para poder me olhar, inspirar-se e me pintar. Eu me sentia bem de frente para os seus olhos e pincéis, mesmo que às vezes despido.
Anos depois, ao fundo do quarto, um armário embutido na parede estava sempre trancado. Perguntei a Chanyeol o que havia ali, ele me disse, sorrindo largamente, apenas que era um novo projeto e que era surpresa para mim, então não mais perguntei, afinal, eu sempre confiei muito em meu namorado.
Quando tudo aconteceu, a primeira coisa que fiz foi abrir aquele armário. Meu sorriso ia de orelha à orelha.
– Chanyeol! – chamei, obviamente não tendo uma resposta. – Amor, onde você deixou a chave?
Lembrei que havia visto uma chave em sua mesa do escritório, então saí saltitante pela casa. Estava mais do que feliz, pois logo veria o último projeto de Chanyeol. Ele vai amar se eu fizer uma exposição com todos eles!, pensei quando toquei a peça de metal. Levei-a até o ateliê e pus na fechadura. Estava um tanto rígida, mas a girei e girei e girei, conseguindo abrir as portas grandes de madeira. O cheiro de tinta era característico daquele ambiente, mas o odor proveniente das telas cobertas que vi dentro do armário era diferente. Aquele cheiro de morte. Puxei o tecido que cobria um cavalete e outras telas apoiadas no chão e encarei uma quantidade exata de seis quadros empilhados e um sobre a plataforma.
No primeiro, vi um borrão bem grande na tela que estava apoiada sobre a estrutura, cores vermelha e marrom se misturavam, era agridoce e nada uniforme.
No segundo, vi um rosto angelical, sereno, cobrindo toda a superfície da tela de tecido de algodão.
No terceiro, vi o meu rosto. Tão angelical e sereno quanto o anterior, mas havia uma lágrima escorrendo do meu rosto, enquanto um sorriso largo adornava meus lábios.
No quarto, vi um dorso nu, de costas. Cabelos curtos e mãos delicadas sobre os ombros. Vendo o perfil, identifiquei ser mais uma pintura minha, mas nesta, uma coroa de flores roxas, azuis e pretas contrastava belamente com os fios negros. Tudo estava em um lindo aquarela.
No quinto, vi um sofá. O nosso sofá. Duas pessoas estavam sentadas e abraçadas. Supus que éramos nós dois, então sorri.
No sexto, vi um chão claro, semelhante ao carpete de nossa casa. Acima do "solo", no entanto, a pintura estava escura, e uma porta ao centro. Uma silhueta se destacava dentro dos tons que, naquele meio, ficavam claros gradativamente. O rosto era visível. Pela altura e traços pouco marcados, imaginei que fosse eu. Minha expressão era séria, talvez confusa. Mas não tinha alegria alguma naquela imagem. Talvez Chanyeol me visse daquela forma.
No sétimo e último, vi um fundo escuro. Aquilo me incomodou um pouco, lembrava o quadro do cavalete, só que com uma imagem clara ao centro. Parecia um quadro Barroco, trabalhado no claro-escuro, diagonalidade e uma pose de divindade daquele pintado ao centro, posso dizer que era um tipo de devoção de Chanyeol. Era eu, mais uma vez. Contudo, a imagem era horrenda. Mesmo com a torção no pescoço, pude ver boa parte da face. Eu não tinha olhos, apenas duas crateras negras no rosto, das quais escorria sangue; da minha boca saíam pedaços grandes de tripas, meus braços estavam delicadamente costurados um ao outro e elevados, como se estivesse rezando; e, apoiados sobre eles, estavam meus órgãos, saindo do meu peito e abdômen, que estavam abertos. A coroa de flores estava sobre minha cabeça outra vez. A pintura era harmônica, e, mesmo que horrenda, estava bela.
Eu entendia o sentimento que Park Chanyeol teve ao fazer tal arte.
Eu havia dado vida à sua tela, com seu próprio corpo, com seu próprio sangue.
Deixei as portas do armário abertas e os quadros descobertos.
Saí do quarto sorrindo.
Chanyeol estava mesmo lindo daquela forma.

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Nirvana
FanfictionNirvana é o estado de libertação do ser humano dos bens materiais, prazeres carnais e todo carma existente. Byun Baekhyun o alcançaria, se conseguisse fazer Chanyeol sumir de sua vida.