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❝ I'm still screaming that I need you ❞
O outro lado da cidade é como se fosse um conto de fadas, um mito. Nossos pais dizem que não há nada além de lixo, escombros e casas vazias.
Eu sei que é mentira. Eu sei que pessoas moram lá. Eu sei que ele mora lá.
Todas as noites, à meia noite, ele me liga. Sempre que o relógio gira seus ponteiros e posiciona os dois no número doze, o meu telefone toca. Sua respiração serena é sempre a primeira coisa que escuto, depois é o som de um pequeno sorriso formando em seu rosto, e finalmente, seu "Oi" arrastado com a voz rouca e baixa.
Ele nunca me fala sobre si mesmo, eu sou o que fala a todo momento, o máximo que ele já falou sobre sua aparência foi a cor dos cabelos, um vermelho vivo. Ele já me contou também como era o lugar que vivia, como era o outro lado da ponte, e é exatamente do mesmo jeito do que desse lado. Tem carros, lojas, shoppings, restaurantes, pessoas... Nada a ver com o que meus pais descreveram.
Neste momento, eu corro da chuva, a procura de algum lugar pra me proteger. As ruas de East estão vazias, todos dentro de suas casas, embaixo de seus cobertores, confortáveis, na companhia de alguém, enquanto eu me sujeitava a pegar uma seria gripe pra poder ter a minha companhia.
Muito bem Jeon Jungkook, você é o máximo.
Faltavam alguns minutos para meia noite, e hoje eu estava mais animado do que o normal para falar com ele. Algo dentro de mim dizia que algo estava prestes a mudar, que uma revelação iria ser feita. E o que eu mais queria era saber mais um pouquinho sobre ele, queria saber suas manias, onde estuda, se tem irmãos. Mas acima de tudo, queria saber seu nome.
Quando o relógio badalou pela primeira vez, o bolso do meu casaco tremeu e acendou.
Sempre pontual.
Levei o celular à orelha em segundos, falando um "Oi" afobado demais.
Então eu ouvi sua respiração, depois o som do sorriso se formando, e por final...
"Oi"
Meu estômago fez uma dança animada dentro de mim, o coração marcando o ritmo.
"Por que você nunca se atrasa?" assoprei, sentando na calçada em frente a uma conveniência, a plaquinha de "Fechado" enfeitando a fachada escura.
Ouvi sua risada rouca. Um arrepio percorreu minha espinha e não era culpa do frio.
