sei com seu preconceito do caminho que eu quero passar com a minha cor

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Eu queria, eu queria poder calar a boca,
queria poder não ter do que reclamar,
queria não ter motivos para incomodar,
mas a minha pele arde
e a tua branquitude me dilacera a carne.
Eu queria não ter que ouvir e dizer "Vamos amigo, lute! Senão acaba perdendo o que já conquistou"
Eu queria poder sossegar.
Eu queria poder reclamar sem ter que ouvir "A luta não acabou, e nem acabará. Só quando a liberdade raiar"
Eu queria poder parar, queria poder ver a liberdade raiar.
Eu queria poder dormir, queria poder fechar os olhos.
Queria que a luta não parecesse tanto um paliativo;
que só protela a crise maior, torna o mal mais flexível.
Queria realmente um alívio.
Eu sei que minha existência é resistência,
e minha resistência te tira a paciência,
mexe com tua conveniência.
Eu resisto por existir, e para continuar existindo eu resisto.
O afronte não é singelo, não é romântico.
O orgulho que temos de nós é belo, mas é ato político, é mais que simples aceitação.
Eu sei que os versos soam lindos,
as palavras te causam encanto,
mas essa luta toda existe porque meu povo morre pelos cantos. E tudo isso é fruto de muita dor,
não é crise, tristeza inerente de poeta naturalmente desolado;
é a fumaça do trago amargo,
é luta escrita com suor, lágrima e sangue nesse eterno diário.
Liberdade, liberdade. Meu povo clama.
• Deise Oliveira 🌼

× Créditos na imagem; artista desconhecido.

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