Capítulo 1-A Reuniao

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Como se começa um pesadelo?              Eu sei como. É quando descobre-se que uma lenda não é exatamente, só uma lenda. Ou quando, mesmo sem querer, desvenda-se um terrível segredo. Bem... comigo foram as duas coisas. Descobrir algo assim realmente mudou tudo, um dia eu simplesmente era mais uma pessoa entre os milhões de pessoas no mundo. Mas no outro, era uma das guardiãs desse segredo. Lógico que eu nunca tinha, ao menos, parado um instante sequer da minha vida para me perguntar se por acaso, isso em alguma hipótese pudesse ser real. Porém, tudo em que eu acreditava, tudo que pensava ser real ao meu redor. Minha própria realidade, não passa de um mundo paralelo à outro. Que o nosso mundo nem sequer imagina que realmente exista. E nem podem mesmo descobrir, pois para eles, isso tem que continuar sendo apenas mais uma lenda. Mas agora sei que o problema das lendas, é que às vezes... elas são reais. Pelo menos uma, sei que é real e a mais terrível. É claro que não posso contar a ninguém. Mas a pior parte foi descobrir que minha família, uma parte dela pelo menos, cuida para que isso continue sendo um segredo. É estranho demais eu sei. Mas não faço ideia de como eles se envolveram com isso e agora, por mais que eu odeie, também estou envolvida. Atualmente apenas cinco pessoas da família, incluindo eu é claro, sabem disso. Formamos uma espécie de Conselho, cujo principal objetivo é, além de esconder isso de todo mundo, vigiar. Não entendi como, para que eles não façam mal às pessoas. Porém, acho que o Conselho não tem muito poder para evitar que eles façam o que existem para fazer. Se tivessem, talvez, eu jamais teria descoberto tudo isso. Não teria passado pelo que passei, não teria pesadelos e ainda teria uma vida normal. Bem, pelo menos normal como eu achava que era.  Era janeiro, verão e férias antes do último ano de faculdade. Deixei minha melhor amiga, Caroline, me convencer a trocar minhas habituais férias em Bom Jesus na serra pelo litoral norte. Torres, para ser mais específica, a única praia realmente bonita em meu estado, Rio Grande do Sul. Naquela noite saímos para passear de bicicleta, aí está o primeiro ponto que eu devia ter observado, coisas ruins acontecem quando você se torna desobediente. Meu pai, Otávio, jamais permitia que minha mãe, minha irmã e eu saíssemos de casa depois que o sol se punha. Eu odiava, nunca havia encontrado a explicação para aquilo, mas minha prima – que morava em minha casa desde os treze anos, depois de não aceitar o divórcio dos pais – também reclamava da mesma coisa no tocante a sua mãe. Minha tia, Savanah.Mas eu estava longe de casa – bem longe na verdade, pois entre Porto Alegre e Torres tem no mínimo uns bons 300km – meu pai não poderia me impedir, então, eu desobedeci. Naquela noite, finalmente encontrei a razão para a ordem – antes injusta e infundada - do meu pai, fuja do escuro pois o que habita nele é... a morte. Sim, a morte, personificada em uma forma sobrenatural e inacreditável no mundo civilizado. Vampiros. Se você chegasse em mim um dia e me dissesse que eles existem, eu provavelmente riria de você. Mas agora, não. Já voltávamos para a casa quando ele apareceu, de longe uma pessoa normal, jeans e camiseta azul, mas de perto, um monstro de olhos vermelhos. Ele parou nossas bicicletas e olhou de uma para a outra, como se escolhesse quem seria sua vítima, e então a pegou. Tentei ajudá-la – você não percebe o perigo quando age por instinto - mas ele me atingiu tão forte, que tive a sensação de voar no ar até bater em uma árvore.O mundo girou e minha visão foi escurecendo, mas a última coisa que vi, foi quando ele abaixou a cabeça em seu pescoço, houve um grito agoniante e então tudo se apagou. No dia seguinte,      três rostos preocupados me fitavam quando acordei num hospital. Meu pai, Ágatha e Mariana. Para eles, eu tinha tido muita sorte em ter escapado de um sequestrador, e com alguns zeros a mais na conta de alguém, meu pai fez a polícia me deixar em paz e não fazer nenhuma pergunta. É claro que ele só fez isso depois que ouvir minha versão da história, de revoltado por eu ter presenciado um crime, ele passou a muito estranho. Falava no celular o tempo todo e fugia todas as vezes do assunto, quando eu repetia o que tinha acontecido, ele parecia saber de algo, nunca foi bom em disfarçar. O que ouvi de Ágatha e Mariana foi simplesmente: Você está ficando louca.O corpo de Caroline desapareceu, e a polícia deixou assim mesmo, como um sequestro. Não adiantaria investigar um sequestro, ela estava morta. Um vampiro a matou, eu vi! Mas, quem acreditaria em mim? Voltamos para Porto Alegre naquela noite mesmo, a chuva intensa que caía fez com que meu pai, perdesse o controle do carro e ele capotou quatro vezes. Perdi meu pai naquela estrada, assim como minha mãe – quando Ágatha e eu tínhamos doze anos, sim somos gêmeas mas fraternas, não somos idênticas e nem muito parecidas na verdade – morreu acidentalmente quando o carro em que estava caiu numa ribanceira. É claro que você deve estar pensando que isso é muita coisa ruim para uma pessoa só, ver a melhor amiga morrer nas presas de algo que você nem imaginava que existe e perder o pai num acidente no qual poderia ter morrido também. Mas acredite; essa não foi a pior parte.Fiquei obcecada por vampiros. Pesquisei tudo que existe sobre eles em livros, internet e cada vez mais me convencia de que o que tinha visto, havia mesmo sido verdade. Uma coisa era certa; eu os odiava. Obcecada e depressiva, esse era o meu perfil psicológico naquele maldito ano, até meu avô, George Durani, me chamar para uma estranha conversa. Meu pai havia dito a ele que eu havia descoberto o segredo, mas que segredo? Se era para ser chamada de louca mais uma vez, eu iria embora, mas então ele dissera que... eu estava certa. E mais, nossa família era responsável por guardar esse segredo havia mais de um século. Era uma espécie de Conselho formado sempre por membros de nossa família - mas não todos -  e agora como meu pai havia morrido e eu sabia que vampiros existem, adivinha? Estou nessa também. Não me pergunte como, é loucura total eu sei, mas temos que vigiá-los. Não entendi quase nada. Nem como minha família tinha se metido com vampiros e nem como podiam vigiá-los. George foi reticente, eu sei que sim. Pois em vários momentos ficou clara que a pequena explicação que me dera tinha sido – não muito bem – editada. Mas o infinitamente mais assustador, era que o Conselho se reunia de vez em quando com os líderes deles, e eu estava no Conselho e juntando os pontinhos, eu iria vê-los pois participaria da reunião que logo começaria. Então lá estava eu, antes da tal. Que eu havia batizado de reunião sombria. Meu avô disse que eles se reuniam em raras ocasiões. E aquela era uma daquelas raras ocasiões, outras pessoas além de Caroline tem desaparecido, e George parece ter certeza do que está acontecendo. E era macabro. Eu estava parada em frente à uma das janelas do Palácio Piratini, meu avô é o governador. Olhava o sol que se punha vagarosamente sobre o Guaíba lá embaixo, tingindo o céu com seus vários tons de laranja. Céu que estava azul límpido sem uma única nuvem.           
O horizonte ia enegrecendo conforme o sol se escondia atrás dele e o laranja sobre o horizonte negro estava mais forte e mais brilhante. Suspirei profundamente me perguntando se eu queria mesmo fazer aquilo. Se devia renunciar, assim como fiz com o cargo do meu pai de secretário da segurança que devia ser ocupado por mim. Mas eu não quis e provavelmente não iria querer nunca, nepotismo é uma droga. Achei melhor não fugir mais uma vez e então me deixei ficar ali, em frente à janela olhando o sol se pôr enquanto esperava que eles chegassem para a tal reunião. 
― Tem certeza de que está mesmo pronta para fazer isso?            
George me perguntou pela décima quinta vez desde que chegamos. Ele estava preocupado comigo, é claro. Mas eu sabia que tinha que enfrentar aquilo, eu queria mesmo vê-los. Precisava disso.             
― Tenho, quero vê-los. - Tentei parecer firme - Preciso vê-los... ter certeza de que isso tudo é real mesmo. - Afirmei ainda olhando para o sol que se escondia. Senti os olhos castanhos de meu avô fixos no meu rosto.             
― Não quer esperar mais algum tempo? Quem sabe mais alguns anos...
― Não, eu quero... Preciso fazer isso, tenho que ter coragem desta vez. - Assegurei-lhe tentando manter minha voz firme. Mas infelizmente deixei escapar um tom de vacilo.
― Você é tão teimosa quanto seu pai... e corajosa também. Me orgulho de você. - Ele falou depois de um longo suspiro colocando a mão no meu ombro.
― Obrigada, eu acho. - Eu disse incerta. 
― Não esqueça - Começou meio sombrio, a advertência era clara em sua voz - Tudo o que você ver e ouvir aqui não pode jamais ser revelado a alguém, ninguém em hipótese alguma, entendeu?
― Foi revelado para mim. - Resmunguei cruzando os braços sobre meu peito.
 ― Exato, ele mesmo se revelou a você. Mas você não pode revelar a ninguém.-George afirmou e eu assenti não queria prolongar aquela conversa. Estava ansiosa demais para discutir conceitos filosóficos de uma instituição secreta. Tão secreta que há mais gente no mundo sabendo da área 51 do que sobre isso.
― Não vou contar a ninguém, já entendi essa parte. E também quem acreditaria?Ele pareceu mais tranquilo depois que falei isso, virou-se para a porta e senti sua mão apertar meu ombro.
―Venha, está na hora.            
Ele me informou conduzindo-me para uma porta aberta, senti como se tivesse sido golpeada no estômago por um boxeador profissional e minha respiração sumiu. Minhas pernas travaram e se recusaram a sair do lugar por alguns instantes, George me olhou interrogativo. Eu podia sentir como ele estava tenso. Fechei os olhos e respirei fundo, fiz um grande esforço para engolir o nó em minha garganta e segui ao lado de meu avô. Quando entrei na sala - um tanto obscura do lado oposto, vi que não era somente meu avô que estava tenso, todos estavam. Senti que o boxeador tinha voltado a me golpear, meu corpo estremeceu com o medo. O clima parecia mais pesado lá dentro e estava frio, muito frio.O condicionador de ar havia sido ligado com um pouco de exagero deixando a sala bem gelada. Abracei meu corpo tentando controlar o tremor que senti. Mas talvez aquele tremor não tivesse nada a ver com o frio na sala, mas sim com o medo, em pouco instantes eu os veria. Sentei na cadeira fria de couro preto com rodinhas nos pés ao lado de minha tia, Savanah. Lancei um olhar curioso para as luzes diferentes dos dois lados da sala, no lado em que eu estava as luzes eram meio azuladas e do outro lado eram brancas e fracas. Havia uma mesa de madeira bem grande e eu via claramente no meio dela quando os dois tipos de iluminação se fundiam.
― Por que as luzes são diferentes? - Indaguei no alto de minha ignorância à Savanah, irmã do meu pai que estava ao meu lado.            
― É uma medida de segurança, as luzes desse lado são ultravioleta.  - Ela explicou em voz baixa, mas isso me deixou mais confusa ainda.           
  ― Por quê? - Insisti baixinho.            
― Porque é a mesma radiação da luz do sol não faz tanto mal para nós como faz para eles. - Savanah me disse ainda em voz baixa e me perguntei o porquê daquilo.            
― Eles não saem mesmo no sol? - Sondei curiosa me esforçando ao máximo para ignorar as ondas de tremor que corriam por meu corpo.
― É a lenda!Ela respondeu enigmática deixando claro que não falaria mais naquele assunto. Então olhei para os outros. Minha família que eu julgava conhecer bem, mas na verdade não conhecia nada. Fitei-os como se fosse pela primeira vez, eram um bando de estranhos. George estava sentado à cabeceira da mesa e conversava em voz baixa com Lúcio irmão dele. Meu tio-avô era  superintendente das forças policiais do estado e estava à frente de Savanah que agora era secretária de segurança. Josué meu tio, irmão do meu pai que era comandante geral das forças armadas estava à minha frente do outro lado da mesa. Ele sorriu para mim tentando me passar segurança, porém eu podia ver como também estava tenso. Perguntei-me se o clima naquelas reuniões era sempre aquele ou era porque eu estava ali pela primeira vez. Havia um grande espaço entre a última cadeira na qual eu estava sentada até a primeira cadeira do lado que eles ocupariam, um metro e meio ou dois.Olhei para meu relógio de pulso, faltavam dois minutos para a hora marcada. Meu olhar disparou para a porta do outro lado da sala, pela qual deveriam entrar. Me perguntei se eles se atrasariam ou não viriam, acho que uma parte de mim torcia para que isso acontecesse. Passei as mãos nos meus cabelos, presos em um rabo de cavalo, e olhei mais uma vez para minha roupa. Escolhi a mais formal que eu tinha; um conjunto social de calça e blazer preto. Eu não sabia como eles eram, então procurei parecer o mais séria o possível. Cruzei minhas mãos sobre a mesa e notei que, inconscientemente, as apertava. Os outros conversavam em voz baixa lançando olhares preocupados para mim o tempo todo. Todavia, mantive-me calada. Estava nervosa demais para desvendar as expressões deles, não sabia o que esperar. Olhei novamente para meu relógio e senti meu estômago se contorcer. Sete horas.
― Solte os cabelos. - Savanah ordenou se inclinando para mim.
― Por quê? - Indaguei sem entender.
― Não faça perguntas, apenas obedeça. É bem melhor assim, acredite.            
O aviso parecia muito sério então não perdi tempo em soltar meus cabelos. Ela devia saber porque estava dizendo aquilo e achei melhor não discutir. Coloquei o elástico preto no meu pulso e penteei os cabelos com os dedos mesmo colocando-os sobre meus ombros. A porta abriu-se de súbito, fazendo com que eu me sobressaltasse, notei que exceto eu - que estava preocupada com meus cabelos - todos olhavam na direção daquela porta. Minha respiração falhou e senti meu coração perder uma batida. Segui o olhar deles e então eu os vi pela primeira vez. Cinco vampiros. Três homens e duas mulheres. Eles eram completamente diferentes do que eu esperava. Eu imaginava que por aquela porta entrariam um bando de velhos decrépitos com expressão maligna, extremamente magros com cabelos brancos. Vestidos de preto, com narizes finos e olhos vermelhos. Mais ou menos como o Conde Drácula. Mas meu espanto não poderia ser maior, já que se assemelhavam muito a seres humanos à primeira vista. Sim, porque com uma maior observação ficou claro que não eram isso.A pele; branca demais. Os olhos; um tom de azul tão claro que chegava a ser assustador. O porte; elegante demais e os movimentos rápidos e inaudíveis. Todos sentaram-se, exceto um que ficou à cabeceira da mesa. As mulheres – vampiras – sentaram-se juntas do lado oposto ao meu de forma que pude examiná-las discretamente. Eram lindas. Uma ruiva e a outra tinha compridos cabelos castanho dourados. A ruiva tinha os cabelos num tom que quase chegava ao laranja, eram lisos e acabavam em linha reta na altura do busto, ela usava uma franja também reta que tocava no alto de suas sobrancelhas bem feitas. Estava elegante em um conjunto social de saia preta e blusa vermelha. A outra não se diferenciava dela em elegância ao trajar um vestido roxo bem escuro. As duas perfeitamente maquiadas e com joias brilhando em seus dedos, pescoços e orelhas.Eles; dois que pareciam mais velhos – uma aparência de quarenta anos no máximo, embora pelas lendas, deviam ter muito mais que isso – um loiro e um moreno que deixariam os galãs de Hollywood com complexo de inferioridade. Ambos usavam ternos que pareciam ter sido feitos sob medida para eles. Agora o último, bem... o que dizer? Era o que mais se destacava, não era tão elegante quanto os outros em sua calça preta e camisa social – também preta – com as mangas enroladas até os cotovelos e alguns botões abertos. Tinhas os cabelos castanhos com reflexos dourados e com um corte bem moderno, era o mais jovem certamente. Aparentava uns vinte e poucos anos.Me lembrou o Deacon Frost do filme Blade O Caçador de Vampiros 1, mas em uma versão muito mais charmosa e bonita. Porém, era seu olhar que mais incomodava. Parecia curioso, mas obstinado com algo. Sua expressão maldosa e debochada deixava claro que ele não estava nem aí para a ocasião. O moreno tomou a palavra.  
― Boa noite senhores, senhoras.             Voltou seu olhar azul para mim e depois para Savanah. Retribuí o cumprimento apenas com um leve movimento da cabeça, com muito esforço diga-se de passagem.
― Estamos honrados em revê-los. Mas antes de tudo, gostaria de apresentar-lhes Juan Cavagnaro. Mais novo membro de nossa casa.- Ele disse indicando aquele que eu achei diferente. Todos do meu lado da sala olharam desconfiados para ele da mesma maneira que eu notava os olhares deles para mim. George levantou-se imponente em seu terno italiano preto com camisa branca e gravata cor de vinho.            
― É um prazer voltar a vê-los também. Juan - George olhou para ele e fez um leve cumprimento com a cabeça que o outro não retribuiu
-- Também gostaria de apresentar alguém - Ele me indicou e tive certeza de que minha expressão estava petrificada
--Essa é Lavígnia Durani, minha neta, ela entrou no Conselho depois da morte de meu filho Otávio no ano passado.-Quando George terminou de falar, todos eles me encaravam curiosos. Obriguei a mim mesma a fazer alguma coisa, para não deixar tão claro que estava extremamente apavorada. Olhei para o que estava em pé e parecia ter uma posição de liderança entre eles.            
― Encantados é claro - Ele disse com aquela voz de locutor de programa romântico - Então permita apresentar-nos, senhorita Durani. - Ele dirigiu-se a mim com sua educação esmerada e indicou a ruiva.            
― Esta é minha esposa, Sofia Moreton. 
- Ela assentiu com suavidade e naquele momento pareceu tão humana que me impressionou.
― Crison Cavagnaro, sua esposa Danúsia, Juan e eu sou Luther Moreton.  - Luther completou olhando de forma amistosa para mim, aliás todos eles tinham uma expressão amigável. Exceto Juan, pois parecia estar ali contra a vontade ou estava revoltado com alguma coisa. Aquilo não era bom.
 ― É um prazer. - Eu menti, não era um prazer eu os repudiava mesmo sendo a primeira vez que os via.            
― Sentimos muito por seu pai. - Sofia disse, mas com uma frieza que denotava que apenas tinha dito aquilo por educação.            
― Nossas condolências.- Crison completou e eu assenti com um gesto de cabeça, fiquei impressionada admito.            
― Obrigada.- Agradeci tentando manter minha voz firme mas fracassei, pois não passou de um murmúrio. Luther tomou seu lugar na cabeceira da mesa e George também sentou-se.
― Bem vamos direto ao assunto - George anunciou com a voz firme - Temos adiado essa reunião há algum tempo pressupondo que a situação se resolveria o que não aconteceu. Pessoas têm desaparecido sob circunstâncias suspeitas nos últimos três anos. Porém a situação piorou muito nos últimos meses, suponho que saibam algo a respeito.  - Ao terminar das palavras de George eles trocaram um olhar preocupado entre si. Notei que pareciam confusos como se tivessem sido pegos de surpresa.
― Posso garantir que não sabíamos de nada até esse exato momento. - Luther afirmou.    
― E seus filhos? - Lúcio perguntou de repente e eles se olharam fazendo alguns comentários.    
― Eles conhecem muito bem o trato que temos com vocês. Não creio que algum deles violaria quase dois séculos de harmonia entre nossos mundos.-Crison disse calmamente cruzando as mãos sobre a mesa e eu abri a boca totalmente surpresa, dois séculos?    
― Mas os ataques tem ocorrido e nosso legista confirmou duas mortes por digamos, seus meios de ação.-George rebateu contrariado e eles falaram entre si, mas tão baixo que eu ou qualquer outro  na reunião não poderia ouvir. Juan não desgrudava os olhos de mim e isso estava começando a me incomodar. Tentei não olhar na direção dele mas ainda assim, percebia seu olhar sombrio pelo canto do olho.    
― Não sabíamos nada sobre esses ataques eu lhe asseguro. - Luther reafirmou.    
― É realmente um pouco difícil de acreditar Luther, pois pelo que sei, vocês são os únicos por aqui desde 1836. Se há novos transformados eles só podem ter surgido, mesmo que indiretamente, de vocês. - George afirmou cruzando as mãos sobre a mesa e mais uma vez eles se olharam espantados.    
― Bem, nós realmente não fazemos ideia do que possa estar acontecendo, sempre tomamos muito cuidado.-Crison disse olhando diretamente para George. Eu procurava prestar atenção nas expressões deles, ou eram muito bons atores ou não sabiam de nada mesmo.    
― Talvez tenham deixado um escapar com vida. -Josué pressupôs e eu estranhei, voltei meu olhar confuso para ele, mas fui evitada. Eu continuava tensa e meus músculos pareciam de pedra, meu estômago ainda se contorcia involuntariamente enquanto eu lutava para controlar pelo menos minha respiração.    
― É o mais provável, talvez um dos nossos não tenha tomado o cuidado necessário. - Sofia supôs com sua voz de soprano.    
― E nossa sociedade está sofrendo novamente com os ataques, isso tem que parar. Já temos problemas o suficiente com criminosos humanos transgredindo as leis para termos que nos preocupar com um de vocês também.-Lúcio disse com a voz como a de um trovão, não dava para negar o tom de autoridade em sua voz. Aquilo parecia mais uma ordem do que um comentário.           
― Nós concordamos plenamente com vocês, pois sabem que nunca apreciamos fazer mal às pessoas boas mas sim livrá-las dos que são maus. É o nosso acordo, seus antepassados concordaram com isso.-Danúsia disse se pronunciando pela primeira vez, franzi as sobrancelhas totalmente confusa. Não entendia sobre o que eles estavam falando e confirmei que estavam mesmo me escondendo alguma coisa. Alguma coisa muito séria.            
― Sabemos disso, esse foi o trato que fizeram e admitimos que tem nos ajudado. Todavia alguém está atacando pessoas fora do trato e mesmo que indiretamente isso vem de vocês, não há outra explicação. - Lúcio afirmou e eles trocaram outro olhar preocupado entre si.            
― Está certo - Disse Luther - Sempre tomamos muito cuidado, mas creio que incidentes podem ocorrer, investigaremos o que está acontecendo.             
― Vocês querem que os ataques aos humanos parem, mas não vão fazer nada paradeter o humano que mata vampiros? - Juan perguntou surpreendendo a todos.
― O quê? - Indaguei absolutamente perdida voltando-me para meu avô, que apenas franziu as sobrancelhas e me olhou com a mesma expressão de surpresa que todos na sala.            
― É isso mesmo bonitinha, há um de vocês que caça vampiros.Juan disse de forma debochada e eu me endireitei na cadeira, ele me olhava especulativo claramente esperando uma resposta.
 ― Eu não sei nada sobre isso. - Confessei meio aturdida por estar falando com um deles, não estava nos meus planos, eu pretendia apenas escutar.            
― Luther do que ele está falando? - Indagou George.            
― Não faço ideia, Juan explique-se, por favor.  -  Luther dirigiu-se a Juan que deu de ombros.            
― Eu estava na cidade procurando alguém que esteja dentro do trato é claro, então vi outro como nós. Ele tinha pego um humano e eu estava me aproximando para perguntar quem ele era quando o Caçador apareceu e acabou com ele com apenas um golpe de espada. - terminou seu relato deixando todos boquiabertos, eu mais que todos. Que história era essa de pessoas fora do trato afinal? E que Caçador? Existia mesmo alguém capaz de detê-los?

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