Capítulo 1-Parte ll

2 0 0
                                    

-Não se sabia da ação dos caçadores há mais de cento e vinte anos. - Lúcio disse admirado e surpreso.            
― Caçadores? - Perguntei totalmente confusa olhando cada um dos membros do Conselho que respondiam com um olhar preocupado.            
― Por que não nos contou Juan?
- Crison quis saber.
― Achei que não fosse tão importante.  - Ele disse de uma forma debochada e Luther lançou um olhar furioso para ele.     ― Você vê um ser que não é visto há mais de cem anos cujo único objetivo é nos caçar e acha que não é importante?  - Juan apenas deu de ombros e Luther pareceu ainda mais furioso, fiquei com medo.    
― O que pretendem fazer a respeito? - Perguntou Juan olhando para George em uma forma de desafio. Aquilo me deu asco, definitivamente Juan era o pior deles.               
― Este Conselho não reconhece a ação de nenhum caçador, nenhum deles entra em contato conosco há mais de um século. George falou pegando uma pasta que continha fotos de algumas das pessoas dadas como desaparecidas e dados de pessoas mortas em circunstâncias misteriosas. Eu já tinha visto aquela pasta, a foto de Caroline estava lá.    
― Mas se um deles apareceu é porque o trato que fizeram com os vampiros foi quebrado e ele não vai parar até que isso pare.    
Ele disse empurrando a pasta sobre a mesa, ela deslizou até parar na frente de Luther que a pegou. Abriu-a olhando as fotos com uma expressão ilegível. O silêncio era pesado enquanto olhava as fotos e depois passava para os outros. Porém foi quando a pasta parou nas mãos de Juan que a bomba explodiu.    
― E o que vocês queriam? Que morrêssemos de sede?Juan perguntou com sarcasmo e eu não acreditei na audácia dele. Definitivamente eu não havia mesmo gostado dele.   
― Não somos presas de vocês, somos seres humanos e queremos respeito pela nossa vida.  Eu falei incomodada com a pergunta dele, não era bem isso que eu pretendia falar, mas achei melhor não demonstrar meus verdadeiros sentimentos por eles. Eles pareciam tão sofisticados e civilizados e eu não queria ser mal educada.            
― Não, vocês são comida só isso. Ele resmungou em voz baixa, mas todos ouviram pois a expressão de incredulidade foi geral na sala tanto no lado deles como no nosso. Senti meu sangue ferver, ah não aquela foi demais.     ― O quê? Como se atreve a dizer isso? Quem você acha que é, seu imbecil?     Disparei furiosa, mas ele pareceu não se impressionar com a ira que certamente estava clara na minha expressão e riu de forma debochada. Parecia surpreso com minha reação, já que devia estar claro para todos o quanto eu estava com medo de estar ali, medo demais até para falar.     ― Está nervosa humana? Isso até a deixa mais atraente, digamos... Deliciosamente apetitosa.  Juan provocou mordendo o lábio inferior fitando meu corpo até onde a mesa permitia, estremeci entre o medo e a raiva.
― Está me ameaçando? - Perguntei tentado conter meu tom de voz já que era uma reunião. Minha primeira reunião, meu ingresso oficial no Conselho.    
― Quem sabe seja só um aviso.    
― Chega! - Lúcio exclamou batendo a mão com força na mesa - Não vamos admitir ameaças contra nossos membros aqui em nossa frente, o que é isso? Sempre mantivemos o respeito durante as reuniões.   
― Juan! - Crison chamou a atenção dele - Estamos em uma reunião, não queremos brigas. Não toleramos esse tipo de comportamento, entendeu?   
― Não vê que nunca será possível a convivência pacífica entre nossos mundos? Somos superiores. - Juan argumentou, encolhendo-se um pouco na cadeira, com certeza tinha medo de Crison.   
― Mas temos mantido essa paz há mais de um século, quer estragar tudo? Luther Moreton parecia furioso com a atitude de Juan o que me surpreendeu, será que eles tinham mesmo respeito por nós? Mas por quê?  
  ― Mas se querem que tentemos deter os novos transformados não acham justo que também façam alguma coisa para deter seu Caçador?   
Ele perguntou com a voz um tanto áspera e eu me perguntei se ele não havia ouvido que ninguém ali sabia sobre o tal Caçador ou era um completo idiota mesmo, acho que é a segunda opção.         
― Está muito enganado se pensa que vamos fazer algo para deter um humano que tem nos defendido de vocês. - Assegurei sentindo que ele estava me tirando mesmo do sério, Juan virou a cadeira na minha direção e me olhou de um jeito difícil de descrever, mas parecia que acabava de deduzir algo.    
― Então... você sabe sobre ele não é? Deve ser amiguinha dele ou quem sabe algo a mais.  Ele insinuou com malícia e eu entendi o que significou aquele olhar. O inconsequente pensou que eu sabia sobre o Caçador.    
― O que está insinuando?Perguntei entre os dentes percebendo que o medo que antes estava sentindo havia sutilmente se transformado na raiva que buscava me dominar.    
― Que sabe onde está o Caçador, que sabe quem ele é. - Ele esclareceu sondando minha expressão, senti Savanah segurar meu braço com delicadeza.    
― Pois está enganado. - Rebati, tentando manter a compostura.    
― Lavígnia, acalme-se. - Savanah me advertiu.    
― Tudo bem, mas não podem esperar que fique calma depois do que ele disse.Eu falei corajosamente olhando para eles, pela primeira vez desde que entraram eu olhei diretamente em seus olhos.    
― Tem razão senhorita Durani e pedimos desculpas pela grosseria de Juan. - Crison falou.   
― Juan, peça desculpas à senhorita Durani ou vai sair agora mesmo.     Luther ordenou olhando para Juan e naquele momento seus olhos claros ficaram levemente avermelhados, estava com raiva.    
― Mas eu estou certo Luther, se eles querem que os ataques parem eles também tem que fazer alguma coisa para deter esse Caçador, antes que ele venha atrás de nós.    
― Cale a boca, você não não tem a menor ideia do que está falando. Não somos nós que estamos por trás dos ataques então como vamos fazê-los parar? - Sofia se pronunciou e Juan revirou os olhos numa atitude total de desrespeito.    
― Peça desculpas a ela. - Luther repetiu e a expressão em seu rosto era assustadora, embora fosse claro para todos que ele lutava para se controlar. Juan encolheu-se na cadeira e virou-se para mim.    
― Eu sinto muito pelo que disse, me desculpe senhorita Durani. - Ele disse, obedecendo a ordem de Luther, mas algo em seus olhos me dizia que ele não sentia nada.    
― Tudo bem. - Concordei esforçando-me para que meus olhos demonstrassem que não estava tudo bem coisa nenhuma. Creio que ele percebeu pois levantou o rosto em desafio e seus lábios finos e vermelhos se apertaram numa linha reta.     
― Bem... Repito que não sabemos nada sobre os caçadores há muitos anos e vocês sabem muito bem disso.     George disse misterioso e eu percebi os olhares que eles trocaram como se soubessem exatamente do que ele estava falando, ali tinha mais do que aparentava.  
  ― É claro que sabemos.
Danúsia afirmou e eu fitei-a tentando entender do que falavam. Mas seus olhos passaram pelos meus tão rapidamente, que não percebi nada.    
― Mas isso não muda o fato de um deles ter aparecido.Lúcio falou e eu lutava para manter a concentração ao que falavam, o que era bem difícil com Juan me encarando o tempo todo, evitei ao máximo não olhar para ele.     
― Não temos como encontrá-lo, a família Von Otman não entra em contato com o Conselho desde 1836. - George observou, juntando as sobrancelhas.     ― Mas acho que não teremos problemas se ele estiver atrás dos novos transformados.  Conjecturou Crison e vi pelo canto do olho que Juan desviou os olhos de mim e o olhou, estava contrariado ou era impressão minha?     ― O que nos leva de volta à questão, quem está criando novos transformados? - George perguntou, tamborilando os dedos na mesa.
― Exato, vamos ter uma conversa com nossos filhos e podem ficar certos de que lhes informaremos, se descobrirmos alguma coisa. - Luther planejou.    
― É o mais sensato a se fazer, pois mais cedo ou mais tarde o Caçador vai chegar em vocês e aí teremos um grande problema. Lúcio falou e eu estreitei os olhos mais confusa ainda, afinal de contas o que tinha de errado um humano matar vampiros quando eles matavam humanos? Alguém tinha mesmo que fazer alguma coisa.   
― Com certeza. - Crison disse mais para si mesmo do que para todos, pois olhava fixamente para a mesa.    
― Bem... Se não temos mais nada a falar, foi um imenso prazer reencontrá-los. Luther disse levantando-se e os outros fizeram a mesma coisa, olhei para minha família que também se levantou e os imitei.  
  ― Acho que isso é tudo, mas não esqueçam de investigar quem é o responsável pelos novos ataques, sabem o que está em jogo. - George os advertiu e Crison o olhou com preocupação.    
― Faremos todo o possível para continuarmos mantendo a paz.     Todos assentiram e viraram as costas para sair, nós fizemos o mesmo e não sei porque me virei para olhar para trás e dei com Juan me encarando. Senti um espasmo de medo me dominar, os olhos dele estavam levemente avermelhados e claramente obstinados. Engoli em seco e levei o maior susto quando senti alguém segurar meu braço. George parou ao meu lado e olhou para Juan como se quisesse fuzilá-lo e me conduziu para a porta.     
― Você está bem? - Ele perguntou olhando em meus olhos, pareceu que me analisava com cuidado.    
― Es-estou. - Minha voz me traiu e eu me odiei por isso.    
― Acho que me precipitei ao trazê-la aqui.   
― Não, eu... estou bem é que não esperava discutir com um deles só isso. - Assegurei enquanto andávamos em direção ao elevador.   
― Acho melhor você tirar mais algumas semanas de folga antes de voltar para o trabalho. - Sugeriu meu avô.   
― Não, não isso não.- Eu me sobressaltei e depois olhei para baixo mordendo o lábio.   
― Você precisa descansar, por as ideias em ordem. - George sugeriu quando entramos no elevador, lancei um olhar para Savanah.    
― Está tudo bem Lavígnia, pode ficar fora o tempo que quiser, Sabrina está se virando bem sozinha. Ela garantiu referindo-se à minha colega de trabalho. Meu avô havia arrumado um estágio para mim na Secretaria da Segurança, pensando que assim eu me manteria ocupada e não passaria mais tempo pensando no que tinha acontecido com Caroline. Eu trabalhava na administração e cuidava de algumas questões que Savanah me passava já que um dia eu teria mesmo que assumir o cargo que agora ela ocupava. Mas como me formei no mês passado, trabalharia na administração em tempo integral. Não voltei mais ao trabalho depois da formatura já que estava uma pilha de nervos por causa daquela reunião, e minha irmã tinha voltado para Manaus no Amazonas onde faz faculdade. Eu sabia que George queria que eu descansasse, mas eu tinha certeza de que se ficasse em casa sem fazer nada, podia entrar em depressão de novo.   
― Mas eu quero voltar, vai me fazer bem. - Eu insisti e ouvi George suspirar.     ― Tudo bem, mas não tenha pressa para nada está bem? Sabe que o emprego é seu. - Não entendi  muito bem o que ele quis dizer, mas mesmo assim concordei.   
― Está bem, mas eu tenho algumas perguntas.    
― Sobre eles? - Revirei os olhos, quem mais poderia ser?  
― Claro.-Afirmei e vi que eles trocaram um olhar cauteloso, mas as portas do elevador se abriram já no estacionamento. Eu achava um exagero, mas quando ocorressem aquelas reuniões eu teria que voltar para casa em um dos carros oficiais como os outros membros. Eles eram do governo, mas eu não. Era meio como que entrar para a máfia. Vi os carros parados um ao lado do outro, todos Mercedes pretos dirigidos por um segurança armado com outro do lado do passageiro. Eu sempre odiei ter vigilantes na minha casa, mas meu pai sempre me dizia que era para nossa segurança tê-los por perto. Sendo assim Lucas e Jéferson trabalhavam durante a noite e Júlio durante o dia. Ainda achava um exagero, mas meu avô não permitiu que eu me livrasse deles. Ainda mais pelo fato de que Mariana e eu morávamos sozinhas, já éramos bem grandinhas para isso, mas meu avô sempre foi tão super protetor quanto meu pai. Resumindo, ele não deixaria eu me livrar dos vigilantes.    
― Eu sei que tem muitas perguntas Lavígnia, mas vamos com calma. - Avisou ele.   
― Está pensando que vou entrar em pânico e fugir para um lugar em que eles não existam? - Perguntei com ironia e o vi rir, assim como Savanah.          
  ― Isso mesmo. - Ele disse quando chegamos perto dos carros, Lúcio e Josué já haviam saído.    
― Acho que posso aguentar.    
― Então vamos marcar uma reunião para que saiba de tudo.    
― Está bem. Mas quando será? - Perguntei me sentindo meio aérea como se estivesse em outro mundo, outro planeta.     ― Logo.     Foi tudo o que ele disse, entrei no carro depois de me despedir deles com um aceno. A porta do carro se fechou e vi quando eles também entraram juntos em um mesmo carro. George parecia não querer me contar mais nada. Suspirei profundamente enquanto via as luzes da cidade passarem rapidamente pela janela escura do carro, eu estava perdida e me sentia terrivelmente sozinha. Mariana, minha prima, havia vindo morar na minha casa depois que minha tia Savanah casou-se com outro homem depois do divórcio com o pai de Mariana. Foi muito bom isso ter acontecido pois sem meu pai e Ágatha tudo seria bem mais difícil, cheguei mesmo a pensar em ir morar com meus avós, pais da minha mãe em Bom Jesus. Minha família e eu sempre íamos para a casa deles no Natal e eu passava o verão lá algumas vezes. O carro parou e a porta se abriu, nem me dei conta de que já tinha chegado em casa.    
― Obrigada.     Murmurei ao sair do carro para o segurança enorme que segurava a porta para mim, ele assentiu e entrou no carro que logo sumiu pelo portão. Olhei para minha casa branca com desenhos arquitetônicos modernos , de dois andares e cheia de janelas de vidro. O pátio era grande e cercado por um muro branco. Tinha um grande gramado e muitas, muitas flores. Minha mãe as adorava e meu pai as manteve do mesmo jeito que ela deixou e eu estava fazendo o mesmo. Minha casa ficava dentro de um condomínio fechado e estava aí o motivo de eu achar um exagero ter vigilantes. Pois o condomínio oferecia segurança vinte e quatro horas e tinha câmeras em todo o lugar. Cem por cento de segurança e cinco de privacidade. Olhei para trás e Lucas acenou para mim da guarita, respondi com outro aceno caminhando na direção da casa. As luzes estavam todas acesas e parei para olhá-las. De repente senti um arrepio por estar ali, sozinha do lado de fora.           
― Bem vinda ao mundo onde os pesadelos são reais.
Murmurei para mim mesma enquanto abria a porta. A sala estava vazia e silenciosa. Olhei para meu relógio, oito e meia. Mariana já havia saído para o curso de verão em que ela se inscrevera, a senhora que trabalhava na minha casa desde sempre já havia saído também. Subi as escadas para meu quarto e quando entrei vi que as portas para a varanda estavam abertas como eu deixei. Eu adorava o cheiro do ar quente do verão que vinha carregado com o perfume das flores do jardim. Por isso mesmo deixava as portas abertas, eram duas portas duplas de vidro e madeira, uma ficava quase ao lado da minha cama e outra no meio do quarto. O vento empurrava gentilmente as cortinas brancas e estava escuro. Porém consegui ver que minha gata, Néftis, estava deitada na cama, liguei as luzes e fui até ela. Peguei-a nos braços e dei um beijo entre sua orelhas.    
― Olá querida, sentiu minha falta?     Indaguei enquanto ela ronronava. Quando a coloquei de volta na cama, percebi que minha roupa estava cheia de seus pelos brancos. Me livrei das roupas e fui tomar um longo e relaxante banho, muito bem vindo depois da tensão daquele encontro com o sobrenatural. Vesti minha camisola de seda pink e penteei meus compridos cabelos castanhos, enquanto olhava para o espelho enfeitado com adesivos de borboletas. Eu as amava. A casa era cheia de imagens delas em todos os lugares possíveis, acima da minha cama eu havia posto um quadro com uma bela pintura de uma borboleta azul. De todas, aquela era minha favorita pois me trazia uma antiga e secreta lembrança, de um encontro que havia me salvado.Desci para a cozinha e encontrei lasanha de brócolis com molho branco na geladeira. Fiz meu prato e o coloquei no
micro-ondas. A responsável pelo jantar era a dona Márcia, ela trabalhava em minha casa há muitos anos e até mesmo a considerávamos da família. Enquanto saboreava meu jantar, pensava na reunião e em como eles haviam me surpreendido com sua elegância e aparente civilidade. Mas, mesmo que tivessem alguma estranha ligação com minha família, eu não sabia nada sobre eles; onde moravam, como se comportavam de verdade, que trato era aquele e etc. Eu não sabia se podia acreditar em tudo que os livros e filmes me ensinaram.Ao terminar de comer, lavei o prato e voltei para meu quarto, deixando as luzes da sala acesas para quando Mariana chegasse. Fui para a cama e fiquei mudando de canal com o controle remoto. Ia ser bem difícil pegar no sono aquela noite, pois muito mais perguntas rondavam minha cabeça depois de tudo que tinha ouvido há pouco. No dia seguinte eu retornaria ao meu trabalho, também voltaria à academia onde Rodrigo, um dos meus melhores amigos, já devia estar trabalhando depois de se formar em educação física. E também iria correr atrás das respostas para minhas perguntas. Tinha mais alguém que sabia da história dos vampiros e minha família, eu não entendia como ele fazia parte daquilo. Ele era mais uma peça naquele jogo misterioso e eu esperava que me contasse mais coisas do que meu avô tinha me contado. Pelo menos, eu confiava mais nele.

O meus amores mais um capítulo para vcs espero que goste bjs

Saga depois  do por do sol Onde histórias criam vida. Descubra agora