Lauren POVEu podia dizer que tinha retomado meu bom humor parcialmente depois daquele flagra. Ter aquele tipo de poder sobre os alunos, mesmo que fosse mínimo, vinha sendo umas das boas coisas desse trabalho chato. Ou a única. Enfim, o importante era que existia pelo menos um ponto positivo. Já era noite, meu horário já tinha terminado e eu fazia meu caminho pelos corredores de volta ao meu dormitório. Era realmente uma besteira, e, aliás, mais uma das chatisses do meu pai, fazer questão de me oferecer um dormitório e me obrigar a passar a semana toda dormindo lá. Tá, eu sabia que eu provavelmente nunca chegaria ao internato nos horários certos se ainda tivesse que vir de casa até aqui em plena sete da manhã, sem contar que meus horários na biblioteca eram praticamente integrais. Mas mesmo assim. Eu sentia falta do meu quarto, sabe?
Senti meu celular vibrando no bolso da minha calça e o retirei dali. Sorri quando vi o nome no visor antes de atender.
- Fala.
- Não vem me atendendo com essa tua indiferença não que eu sei que você ficou toda risonha assim que viu que era eu quem tava ligando.
- Cala a boca. - respondi, já rindo. - Vai. Fala o que você quer.
- Quero saber se eu tenho como ir visitar a senhorita amanhã.
- Você tem como me visitar amanhã, depois de amanhã, quando quiser. Eu vou estar eternamente enfornada dentro daquela biblioteca sem poder sair. - disse de repente me sentindo novamente irritada. - É só passar aqui, Mani.
- Pelo jeito você tá adorando esse trabalho que teus pais te inventaram, não é? - eu bufei e a ouvi soltar uma risada do outro lado da linha.
Normani, ou como eu a chamava, Mani, era minha melhor amiga. Vivíamos grudadas desde que nos conhecemos há anos atrás no colégio em que eu e ela estudávamos. Facilmente viramos amigas e nos formamos juntas no ano passado. Os pais dela eram donos de um grande restaurante na cidade e Mani, assim como eu, sempre teve tudo o que quis. Tinha a mesma inclinação que eu pra aprontar e talvez por isso nos demos tão bem logo de cara, o que é raríssimo de acontecer comigo, visto a "simpatia em pessoa" que eu exalo ser. Muitas das histórias da minha vida que mereciam ser contadas com certeza tinham a participação dessa menina.
- É. Quem sabe amanhã o dia não vai ser menos lixo se você vier mesmo até aqui me ver. - disse, suspirando.
- Fica tranquila. Amanhã passo aí à tarde pra ver qual é a desses alunos do Internato Jauregui... - só pelo tom de voz eu consegui sacar qual era a real intenção dela por trás daquelas palavras. Eu coloquei uma das mãos sobre o rosto e ri.
- Normani, você não vale um pão com alface.
- O quê?! - ela exclamou como se estivesse ofendida. - Eu estou solteira, tenho todo o direito do mundo de conhecer pessoas novas e não vejo problema nenhum em procurar num lugar onde a maioria delas é linda e rica. E, aliás, tenho novidades, por isso quero te ver amanhã, preciso te contar.
- Tá bom. - eu respondi rindo. - Pode vir à hora que quiser. Amanhã a gente se vê, então. Beijo, Mani.
Eu encerrei a chamada quando ela respondeu "beijos" e coloquei o celular de volta em meu bolso. Quando finalmente olhei ao redor, me dei conta de que não fazia ideia de onde eu tava. Eu mal percebi quando voltei a andar assim que comecei a conversar com Normani e nem vi pra onde tava indo. Aquele internato era enorme e é claro que eu já tinha andado por eles muitas vezes durante a minha vida. Mas o lugar todo já havia sido reformado inúmeras vezes e quando olhei ao redor, realmente não consegui me achar. O horário, com a maioria das luzes a essa altura já apagadas, só fez piorar.
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O Internato
Teen FictionSinopse: Não havia no país um colégio interno melhor conceituado do que o Internato Jauregui. As famílias, evidentemente poderosas, que, por uma velha tradição, faziam questão de matricularem seus herdeiros lá, dispunham de uma parcela bastante cons...