Prólogo

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— Mais uma vez... — o delegado suspira, retirando de seus lábios ressecados o maço de cigarro. A sala logo se enche com o cheiro de tabaco, fazendo com que a maioria das pessoas naquela sala tossissem, ou deixassem de respirar profundamente, inclusive eu. — Ele não está respeitando o acordo! — Sua mão gorda e forte bate na superfície da mesa, reproduzindo um barulho alto. Procuro não me aproximar de sua pessoa. Quando o delegado se estressava, era para valer. E o motivo de sua irritação era um único homem. Kim Taehyung, este é o seu nome. O homem que lidera a grande máfia da Coreia do Sul.


Máfia esta que age por trás dos panos, está sempre relacionada ao governo coreano, e ninguém pode ir contra suas vontades. Há alguns anos, a máfia era vista como perigo. Apareceu no país, em Daegu, fazendo pequenas ações — apenas controlando a polícia local, impedindo que o seu grupo fosse pego. Mas, depois de alguns meses, o pequeno grupo havia crescido e se mudado para Seoul, a grande cidade do país. Começaram a fazer grandes feitos. Não só com a polícia, mas com o grande governo do país. Era ameaçador. Todavia, a máfia queria um acordo.


O acordo fazia com que o governo coreano e a polícia coreana não interferissem em seus planos; em compensação, eles não interfeririam nos planos do governo e da polícia. Era básico. A máfia poderia sim colocar as mãos no governo para fazer o que bem entendia, porém, não poderia matar os integrantes e muito menos difamar a sua imagem. E, durante esses anos, nunca houve transgressões. No entanto, alguma coisa aconteceu nos últimos meses. Os cidadãos, que antes não tinham ciência sobre a grande máfia, começaram a dar queixas, dizendo que estavam sendo atacados; atacados pela grande máfia Kim.


— Jeon Jeongguk! — O delegado gritou, despertando-me de meus devaneios temporários. Encaro o homem à minha frente, que está sentado em sua cadeira giratória, revestida de um couro bem grosso e confortável. Apesar de todo o conforto, nada o faria ficar melhor. A menos que alguém resolva a situação.


E, esse alguém seria eu. Jeon Jeongguk, investigador chefe de um dos postos oficiais da polícia. Eu era conhecido por devorador. Nem mesmo eu entendo o motivo deste apelido. Porém, o que dizem é: "ele devora os culpados, sem piedade". Ou algo do tipo. Suspiro, caminhando até a frente, deixando alguns outros investigadores para trás. Naquele momento era somente eu e o delegado Choi.


— Sim? — Pergunto em prontidão. Tinha que levar a sério. Lidar com a máfia seria algo complicado. O delegado bufa, liberando aquele ar tóxico, que se chocou contra a minha pele. Quase tossi, porém, continuei forte.


— Como assim? — O delegado indaga impaciente. — Você sabe muito bem o que tem que fazer! — Exclama, com o tom baixo, mas ainda assim, amedrontador. Muitos investigadores novatos, que não sabiam lidar com o delegado, estremeceram. Eu, no entanto, permaneci firme. O delegado não era um bicho de sete cabeças, apenas uma pessoa com sangue quente.


— Sim, senhor — digo, virando-me em direção a saída daquela sala, que por sinal estava me sufocando. O delegado dá de ombros, ignorando a minha saída.


No momento em que saio, sinto o ar puro preencher os meus pulmões. Era, de fato, horrível estar lá dentro. E não por causa do delegado. Esta era a parte mais fácil hoje em dia. O difícil era suportar os seus cigarros, que liberavam as toxinas. Eu me sentia um fumante todos os dias. Respiro fundo, tentando me purificar com aquele ar. O que é engraçado, visto que nem mesmo o ar daquele lugar era puro — eu diria que é um ar equilibrado.

No PromisesWhere stories live. Discover now