Capítulo 1 - Palestra da Harley (parte 1/3)

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Apartamento da Doutora Quinzel, sexta-feira, 07:00 am, Gotham City.

Em Gotham, espreita-se um certo ar melancólico todas as manhãs que me causam náuseas. Mas, especialmente, hoje eu não estou incomodada com essa atmosfera asfixiante da cidade mais corrupta e com altos índices de criminalidade. Estou pronta para respirar outros ares além de Gotham City. Como Doutora em psiquiatria, fui convidada para ser uma das palestrantes em Seattle. No qual, deverei comparecer para explicar alguns transtornos de personalidade e o que leva criminosos a chegarem ao extremo de violarem às leis. Minha tese desenvolvida na minha pós-graduação era de que alguém só quebra as regras da sociedade quando comete crime ou quando está apaixonado.

Então, especialmente hoje, o meu dia começou mais cedo do que de costume hoje. Tive que fazer os últimos preparativos para a minha viagem e verificar duas vezes se estava com toda a documentação pronta. Minha mala estava perto do hall de saída, preta-básica, com meu nome e telefone escritos no pequeno crachá. Porém, era minha bagagem de mão que me preocupava, pois não haveria regras de aeroporto que fizessem me separar do meu laptop. Toda a minha pesquisa, meus slides e cronogramas de tópicos palestrais estavam ali, não poderia dar o luxo de ficar distante dele por um raio de dois centímetros sequer. Olhei para a roupa que vestiria logo quando terminasse o banho e gostei do que vi. Assim que saísse do aeroporto, o motorista do organizador da palestra, Ian Mark Fisher, um dos sócios dos laboratórios mais famosos de pesquisas de Seattle, iria me buscar. Alguém ficaria encarregado de levar a minha bagagem para o hotel que reservei para me hospedar.  Dessa forma, minha blusa vermelha com minha saia preta e saltos pretos, darão a seriedade e o conforto que irei precisar para este evento.

Puxei a liga que prendia o meu cabelo e deixei meus fios loiros descerem retos abaixo de meus ombros. Precisava me apressar, meu táxi chegaria às 8:30 a.m e deveria está pronta antes disso. Retirei toda a minha roupa e joguei no cesto de roupa suja. Sempre preferi tomar banho com água quente, considero relaxante para qualquer ocasião e, além disso, adoro as espumas que formam na banheira, quanto mais, melhor! Porém, justamente hoje, o estilo de banho que tanto gosto será adiado para mais tarde em um outro local.

 Sinto a água quente me envolver como um abraço e descer como toques suaves pelas minhas costas, escorregando rapidamente por todo o resto do meu corpo. Fecho os olhos para aproveitar o pouco tempo que me resta debaixo da minha ducha. Lembro-me de quando recebi a notícia de ter conseguido uma bolsa de estudos para a universidade de Gotham. Eu estava exatamente assim, tomando uma ducha, quando meu telefone tocou e era o reitor da universidade, avisando que os fundos para alunos ginastas da família milionária Gordon havia me parabenizado com as minhas ótimas notas e desempenho como ginasta e me dariam uma bolsa. Fiquei sem acreditar, eu não falei por minutos com o reitor, o pobrezinho pensou que havia algum problema de comunicação. E agora alguns anos depois, estou formada e sendo uma, Doutora reconhecida.

Enxuguei meu cabelo com a toalha e depois com o secador. Me vesti o mais rápido que pude, usei um pouco de maquiagem e me fitei por um momento. Sem nenhuma olheira ou sinal de cansaço aparente, sobrancelhas bem feitas, lábios bem vermelhos e carnudos. Causaria inveja na filha do milionário Gordon, Bárbara Gordon. Ri com o pensamento que tive. Fiz o meu habitual coque e coloquei meus óculos. Eram 8:25 quando acabei de receber a ligação do porteiro do meu prédio avisando que o taxista acabara de chegar. Olhei-me no espelho pela última vez e estava satisfeita. Peguei minha bagagem de mão, a outra mala e tranquei a porta. Apertei três vezes, consecutivas, o botão do elevador. As portas se abrem e eu entro rapidamente. Meu vizinho Tony, um rapaz baixinho e de cabelos castanhos longos e retos até os ombros entra também me desejando um eufórico bom dia.

— Bom dia Tony Tigrão! - brinco.

— Vejo que está animada Harle - disse ele ao chamar pelo meu apelido. - Hoje é o dia da sua palestra?

— Sim! - confirmo e começo a explicar.- Estou partindo agora mesmo para Seattle e pretendo voltar em breve, mas não tão breve assim. Acho que será o momento perfeito para descansar um pouco e ficar longe do trabalho.

— Vamos sentir sua falta, principalmente o Ovinho, ele adora se consultar com você - explica ele.

Sorrio com seu comentário.

— O Ovinho ficará bem! - afirmei.- Tive três horas a mais com ele nessa semana que viajaria.

— Fez a coisa certa, ele ainda não sabe lidar com essa baixa autoestima.

Tony estava me dando tchau quando as portas se abriram no terceiro andar para ele sair. Escutei um tchau assim que as portas fecharam e voltei a sentir o elevador descendo novamente. Chegando a minha vez de descer.

— Tchau Doutora Quinzel! - ouvi Bob, o recepcionista, dizer e retribuí a despedida.

Louis, o porteiro, abriu a porta para mim, me acompanhou até o meu táxi e colocou a mala no porta-malas do veículo. Mais outra despedida seguida de um abraço e entrei no automóvel. Informei para o motorista com sotaque espanhol que gostaria de ir ao aeroporto. Ele assim confirmou com vários "Sí, sí" e ligou o motor.

Estava tudo calmo quando a estação de rádio começou a dar mais uma notícia sobre a cidade melancólica. O detetive Bruce Wayne, da polícia de Gotham, havia pego mais dois criminosos do grupo da Coringa. Bianca Steeplechase, a lunática, criminosa mais perigosa de toda Gotham que dava problemas para a Batwoman. Porém, voltando as informações, ao que parece, o detetive Wayne estava reunindo mais homens para caçar a Coringa e livrar Gotham de mais uma lunática que fugira outra vez do Asilo. De fato, sempre tive curiosidade de estudar o cérebro e o comportamento da Coringa. Claro que se fosse presa pelo detetive Wayne ou pela Batwoman, ela acabaria como todos os outros, no Asilo Arkham para os criminalmente insanos. 

O taxista comemorou a prisão feita pelo detetive. A família de Bruce Wayne, pelo que os repórteres escreviam em suas manchetes, haviam perdido toda a fortuna durante a grande depressão americana, sendo comprada a mansão por sua prima de primeiro grau, Kate Kane. Dizem também que Wayne era um prodígio na captura de ladrões na academia de polícia. Haviam boatos de que seu grande sucesso era por causa da mulher morcego. Eu nunca tive uma preferência sobre esse assunto. Sempre gostei de pensar um pouco mais além, um pouco distante daqui.

Segundo a teoria de Hugh Everett, o pai dos multiversos, existe um de nós para cada versão da Terra. Gosto dessa teoria, pois adoro imaginar que a minha outra, Harley Francis Quinzel, possuí uma vida mais divertida do que a minha, talvez mais insana, mais agitada e repleta de aventuras. Talvez, a minha outra Harley tenha alguém para dividir os momentos de alegria ou de tristeza, já que essa  aqui não têm. Não sei como deve ser essa outra "Eu", mas eu realmente torço todos os dias por ela. Apesar de ser bem sucedida profissionalmente, sinto que tenho uma vida tediosa sem aventuras ou romances inusitados. Por isso, essa ida a Seattle é a minha chance de poder ter um pouco da agitada vida da minha outra, Harley, de qual mutiverso que ela seja!

Meu taxista me deixou pontualmente no aeroporto como previ nos meus cálculos. Se tudo desse certo, como parecia está, eu chegaria ao hotel às 6 p.m, e ainda teria tempo de jantar em um belo restaurante da cidade com uma linda vista! Ele retirou minha mala do seu carro e eu o paguei. Não lembro a última vez que vi o aeroporto de Gotham tão lotado assim. Se ocorresse um ataque terrorista, ninguém sobreviveria.

— Controle sua imaginação Harley! Não ocorrerá nenhum ataque terrorista, você vai para Seattle, fará sua apresentação, voltará para o hotel, tomará um banho de banheira quente e irá sair para jantar! Tudo está devidamente planejado sem imprevistos - pensei comigo mesma.

Caminhei para as portas automáticas quando uma ruiva passa um pouco apressada por mim, quase me desequilibro do meu salto.

— Cuidado! - falei.

— Desculpe! - disse sem se virar e continuando em um trote rápido.

— É por isso que odeio aeroportos e suas correrias! - reclamei. - Preciso encontrar o meu portão de embarque. Seattle, espero que seja capaz de suportar a Doutora Quinzel! - sorri ao caminhar para o portão e observar que eram 10h a.m, como o previsto.

E foi à queima roupaOnde histórias criam vida. Descubra agora