Capítulo I

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Kai sentia a frieza daquele metal alvo que estava juntando suas mãos, era desconfortável, em seus pulsos marcas vermelhas já se formavam em decorrência de o quão apertadas estavam aquelas algemas. Ele sentia que sua juventude estava sendo roubada, sentia-se como o pior dos assassinos, mesmo que nada daquilo fosse verdade. Ele queria acreditar que era mentira, mas tudo levava a ele, todas as evidências, todas as provas, sua consciência o acusava e sua memória não o ajudava, ele estava extremamente confuso e atordoado, e não conseguia ver as coisas com clareza, da forma que havia acontecido.

- Como esse rapaz foi capaz de fazer uma coisa tão horrível assim? – Sussurrou um dos policias, ciente que Kai não estava ouvindo.

- Isso não temos como saber – respondeu o policial que estava a dirigir a viatura.

- Olha para ele, não tem cara de que seria capaz de algo assim, parece tão calmo e além do mais não teria motivos, ele vivia muito bem – retrucou o policial, dando uma mordida em sua rosquinha.

- Há meu amigo, não se iluda, o mal vem disfarçado das formas mais belas, afinal, o próprio diabo já foi um anjo.

Kai foi retirado de seus pensamentos quando a viatura estacionou no meio fio, ele observou aquele temido lugar pelo vidro escuro do veículo, sem ao menos acreditar que aquilo realmente estava acontecendo. Um dos policias abriu a porta do carro para que Kai saísse, ele hesitou, mas o policial o pegou pelo braço e puxou-o para fora. Ao soar da sirene o grande portão de metal se abriu de forma lenta, aos poucos Kai pôde ver onde estaria fadado a passar vários e vários anos. Uma lágrima desceu de seu olho, ele sabia que estaria adentrando os portões do inferno, mas em nenhum momento resistiu, seu advogado o aconselhara a cooperar, apenas limpou a lágrima de seu rosto e seguiu para dentro daquela enorme prisão. Ele passou a observar cada detalhe daquele lugar, e a cada centímetro a mais ele sentia um enorme desespero, só o que queria era fugir, correr o mais rápido possível sem olhar para trás.

- Essa será sua roupa a partir de hoje – falou um homem alto e de terno, se tratava do diretor daquele lugar. – Troque-se, pois você será levado imediatamente a sua cela – ele era indiferente.

Kai pegou as roupas de suas mãos sem nada falar.

- Onde eu posso me trocar senhor? – Kai perguntou aflito, sua voz vez ou outra falhava, se mostrava um tanto nervoso.

- Ali tem um banheiro, você tem cinco minutos – falou sério – Policial Daniels acompanhe-o.

Sem delongas, Kai entrou naquele minúsculo lugar e começou a trocar suas roupas, agora, ele vestia aquele velho e conhecido uniforme laranja, a única roupa que ele usaria ali dentro. Era evidente a tristeza em seu rosto, não só por estar prestes a ser trancado em uma jaula como um animal, mas pelas coisas que o levaram a estar ali, mais uma vez as lágrimas começaram a brotar de seus olhos, e pelo pequeno espelho que se encontrava em cima da pia, pôde observar o quão diferente ele estava, os olhos verdes brilhantes agora estavam mortos, seus cabelos loiros estavam completamente bagunçados e sem forma, as olheiras eram mais evidentes e o cansaço era notado sem muita dificuldade, por um instante Kai viu outra pessoa refletida no espelho, teve medo, mas em um piscar de olhos havia sumido e só quem ele podia ver era uma triste versão de si. Kai não era mais o mesmo e tinha certeza de que nunca mais poderia ser.

- Vamos, está demorando demais aí dentro – gritou o policial do lado de fora da porta.

Kai apressou-se, enxugou as lágrimas, pegou suas antigas roupas e saiu depressa do banheiro. Não falou nada, apenas entregou suas roupas para o policial e ficou quieto.

- Vamos – o policial pegou em seu braço e o levou.

Era um extenso corredor, e nele haviam muitas celas, em cada cela ficavam dois detentos, um turbilhão de pensamentos invadiam a mente de Kai, e todos eles eram ruins. A medida que Kai e o policial Daniels passavam na frente das celas, vários presidiários espiavam pela pequena janela que ficava na parte superior das portas.

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