A curiosidade matou o gato.

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Os dois foram se soltando e a música já não era tão estranha, nem ligavam pras pessoas ao redor, assim como elas também nem ligavam pra eles.
Depois de um tempo se divertindo, Frisk puxou o esqueleto pelo braço e eles foram pra um canto menos movimentado comer e tomar alguma coisa, rindo de tão bobos que estavam.
Nem se tocavam onde o resto do povo estaria e nem queria saber disso. A conversa e a companhia estava tão boa que se esqueceram... Muitas piadas bobas e risos engraçados, até que a garota cansou de ficar ali, em pé no meio de gente estranha.
"Vamo embora... Não tem mais nada pra fazer..."
"Mas e o Asriel e a Chara?"
"Eles sabem o caminho de casa. Devem estar se divertindo... Se é que você me entende..." Ela fez aquela carinha e ele riu, aceitando o convite.

No caminho, Frisk tirou os sapatos e foi descalça pra casa. O vento estava frio, então Sans emprestou sua jaqueta, colocando-a por cima de seus ombros.
"Não, não precisa..." Ela ficou vermelha.
"Precisa sim..."
"Mas que clichê eihn?" Fri disse rindo, corando fofa e aceitando a gentileza. Ela se virou pra frente dele o esqueleto piscou, dando de ombros.
"Não é tão clichê assim..."
"É sim! Aí eu vou acabar ficando com a sua jaqueta, você vai usar essa desculpa pra ir atrás de mim e etc..."
"Eu?? Você ia usar essa desculpa pra isso também, não vai se excluindo mocinha..."
Ele se aproximou, segurando-a pela cintura e encostando seus corpos mais perto pra deixá-la quente. Eram tão íntimos que nem ficavam sem graça com esse tipo de brincadeira... Até consideravam aquilo amizade colorida... Mas só dentro de suas cabeças, secretamente.
Ela empurrou-o pro lado, rindo mais das gracinhas do que de vergonha. Frisk não é do tipo que fica com vergonha fácil...

Quando chegaram em casa, Frisk ia abrindo a porta e ele já ia voltar pra buscar o irmão, mas a menina pensou mais um pouco e o puxou pra dentro, de repente.
"W-wow?! Oi?!" Ele se surpreendeu com a atitude repentina.
"Para. Precisamos conversar."
"Ok...?" Um arrepio subiu-o a espinha e ele suspirou. Já tinha uma certa ideia sobre o que ela iria dizer.

A humana trancou a porta e segurou a mão dele, indo até a sala e os dois sentaram no sofá.
Fri respirou fundo e sentou mais perto, ficando de joelhos no macio. Sans se encostou nas almofadas de trás dele.

"Eu... Eu quero saber... de você."
"Ah ok... Meu nome é Sans e..."
"Não! Não! Isso eu sei! Eu quero saber se é só zoeira sua ou..."
"Zoeira?? Do que que cê tá falando?"
"Se você curte de verdade ou se só tá... 'Pegando'!"

Ele fez uma careta de 'Sério mesmo que você tá perguntando isso?' e depois corou olhando pra baixo. Segurou no braço da menina e olhou nos olhos brilhantes castanhos dela.

"Agora eu tô pegando."
"Ma- Sans! Isso é sério!!"
"Pô, porque que você tá preocupada com isso??"
"Porque eu quero saber!"
"E isso importa? Importa mesmo saber o... 'nosso status'? O que você vai fazer com essa informação?"
"... Nada... Eu só... Não ia me apegar muito..."

Silêncio. Ele se aproximou, passando uma mecha do cabelo curto da garota pra trás da orelha dela. Frisk sentiu um arrepio, mas um arrepio bom, um tipo de sensação boa que só ele passava pra ela e ela adorava sentir. Sans deu um sorrisinho de canto e a menina suspirou mais alto, revirando os olhos e evitando contato visual.

"Eu queria saber pra isso não acabar profundo demais... Se no caso... Talvez você só me veja como sua amiga..."
"Heh... Você é minha amiga... Minha melhor amiga... Isso não é um talvez."
Frisk sorriu carinhosamente, mas depois fez uma carinha um pouco triste.
"...Mas não quer dizer que estamos presos desse jeito..." Ele continuou com a face levemente azulada.
"O... Que você quer di-dizer??" Ela engasgou com as próprias palavras.
"Bem... Ehm..." Ele, como se tocasse do que tinha dito, arregalou as orbes e tentou buscar alguma outra coisa pra falar por cima daquela burrada.

"Você tá se entregando? Se entregando pra quê? Pra mim?? Eu não vou te levar pra lugar nenhum, mulher..." Ele mudou de assunto com a agilidade de um lince e um sorriso debochado, escondendo o rubor.
"N-Não! Eu não disse que tô me entregando pra você! Eu quis dizer pro relacionamento! E você... Você mudou de assunto!!"
Frisk avançou mais perto dele, num gesto ameaçador, mas Sans já é acostumado com garotas ameaçadoras.
"Hey hey, calma ae..."
"Não, não, não! Me explica esse negócio direito rapaz!"
"O quê?? Olha, eu só vim aqui porque você me chamou. Você que queria conversar, saber dos meus pensamentos pessoais sobre você e tals..."
"E eu não posso saber??"
"Que parte do 'Pessoal' você não entende?"
"Mas é sobre mim! E se você tiver algo que eu também tenho!?"
"O quê por exemplo?"
"Amh... Ehm... E se a gente... Compartilhar um sentimento??"
Frisk pegou uma mecha do cabelo e brincava com os dedos.
"Isso não é desculpa pra forçar o outro a falar de "sentimentos'!"
"A-ah?? Eu não tô te forçando!!... Eu tô te forçando?"
"Um pouco?"
"Pff... Você tá com vergonha! Sans, nossa amizade sempre foi muito franca e verdadeira! Nós não temos segredos, temos?"
Ele hesitou em falar, olhando outro ponto qualquer e Frisk voltou a ficar vermelha... De raiva.

"O-o quê?? Você... Você esconde segredos de mim?? Pensava... Pensava que..."
"Que o quê?? Eu ia contar tudo o tem na minha cabeça a cada segundo??" O esqueleto elevou a voz, já muito estressado com a garota. Ela percebeu isso na hora e arregalou os olhos brilhantes e puxados, numa expressão de surpresa e decepção...

"Tem muita coisa que você não sabe sobre mim, Frisk. E muita coisa que eu acho de você e te escondo porque não acho que você deva saber ainda... Não é porque nós fizemos aquela promessa boba e cada um fica liberado pra fazer um interrogatório quando quiser..."

Frisk sentiu uma sensação nova... Ruim. Muito ruim. Seu coração acabou de ficar machucado.
"B-boba? Você... A-acha que foi bobeira?"
Ele bufou, tentando não parecer frio demais, ou muito cruel. Estava bem chateado mas Frisk parecia perplexa e de coração partido. Ele não queria agravar mais aquela situação... Afinal, ele não queria fazê-la chorar, nem em sonho...
"Nem sempre você tem o mesmo pensamento de uma pessoa..."
"..." Frisk permanecia calada, juntando determinação pra controlar aquele sentimento ruim que tomava conta de um outro, tão bom e gostoso que ele passava antes...

"E eu pensava uma coisa de você... Você era minha amiga... E eu prometi pra uma amiga... Depois eu pensei de novo... E uma coisa nova apareceu, uma coisa nova e boa... Mas agora..."
Ele levantou, pegando a jaqueta de novo. Frisk levantou rapidamente, tentando rever na cabeça o que tinha feito de errado. Não queria que acabasse assim!

"Agora eu não sei se penso o mesmo de antes..." Ele olhou os olhos castanhos, já não tão brilhantes, e ficou ali parado. Não sabia se ia embora, evitando coisas piores, ou ficava ali, tentando reverter aquela situação horrível.

Frisk queria logo desabafar de uma vez, pra acabar logo com isso e impedir que o pior acontecesse, mas tinha um pé atrás. As mãos à boca se soltaram devagar e quiseram ir em direção à ele... A menina deixou-se ir, mas a expressão dele não era a das melhores.
Ele queria muito abraçá-la... Mas depois do que ela disse...

Pensou duas vezes, ela podia só estar preocupada com o próprio coração... Isso não era tão egoísta assim era? Ele sabia que Frisk era sensível com o emocional dela mesma e dos outros, e por causa disso, ela já teve péssimas experiências nesse assunto de... Amor.
Claro, depois de tanta coisa, é óbvio que qualquer um ficaria bastante temeroso quando se visse em outro relacionamento. O mostro sabia disso e não queria de maneira nenhuma machucá-la ainda mais...
Mas aquele pensamento era tão egoísta pra ele... Ela sequer se preocupou com o que ele sentia... E eram emoções fortes. Os dois tem emoções muito fortes mas evitam o máximo de se deixar levar por elas, mantendo seus rostos impassíveis, quase sem expressões, pelo menos pros outros.

"Sans... Eu..."
"Não, não diz nada. Eu já sei... Mas acho que isso é como se dois cegos se ajudassem a atravessar a rua... Não vai dar certo... É melhor..."
O coração de Frisk que quebrava em pedacinhos, mas ela tentava ao extremo não parecer chorosa.
Sans também estava triste. Na verdade, mas chateado do que triste. Mas resolveu relevar, esperar abaixar a poeira e os dois se acalmarem. Talvez tenha sido efeito da festa, do sono...
"... É melhor você ir dormir... Amanhã... Amanhã a gente se fala..."
Ele tirou as mãos gélidas de Fri de seu casaco e foi em direção à porta, pegando a chave na bancada.
"O-ok... Entendo..."
Ela abriu a porta pra ele e os dois se entre olharam no vão, um esperando alguma coisa do outro, alguma desculpa, alguma outra declaração...
"Boa noite..." Sans suspirou, tentando não parecer movido.
"Boa... Noite..."
Ele saiu e a garota ainda ficou olhando uns minutos, se certificando de que ele estaria bem indo buscar o irmão Papyrus.
"C-cuidado!"
"Ok..."

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⏰ Última atualização: Nov 29, 2017 ⏰

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