VII

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Sai do estúdio por volta dás 17 horas, peguei um taxi e informei ao motorista a localização destinada. Era estranho, mas eu me sentia tensa, por que eu estava tensa? Coloquei os fones de ouvido e ativei minha playlist no celular, o que me ajudou a relaxar. Fechei os olhos, repousei a cabeça no banco do carro. Pensei em Rafa, me veio à idéia de ligar pra ela à noite, seria justo ao menos tentar me desculpar. As canções tocavam aleatórias, suavizando minha mente, alimentando a minha alma. Meus olhos cerrados me deixam levar pra fora da realidade atormentada pela minha culpa. Eu que outrora fui tão insensível com relação às mulheres me encontro passiva de arrependimento. Afasto os pensamentos conflitantes me concentro na melodia e na letra de uma nostálgica canção, um deleite pra meus ouvidos, quase sonhei

_ Chegamos! _ Ouvi aquela voz grave mesclada a canção e abrir os olhos _ É aqui.

Olhei pela janela do carro, era ali, a livraria (ou seria cafeteria?). Paguei a corrida, agradeci e sair do taxi. Estava em frente a um estabelecimento devidamente arquitetado, uma fachada ampla com letreiros em destaque e bem sugestivo "Café e Poesia". Empurrei a porta de vidro e entrei. O seu interior era ainda mais fascinante, ambiente arejado e com um aroma que transmitia calmaria intercalado ao cheiro delicioso de café, havia mesas de madeira cada uma com duas caldeiras, estantes com livros de variados gêneros, um balcão semelhante aos de padaria com iguarias e petiscos, ao fundo maquinas de café, e por fim uma musica aprazível em volume moderado.

Procurei por um rosto entre os diversos que estavam ali; funcionários, estudantes, professores e outros apenas apreciadores. Não a vi em parte alguma, pensei em enviar uma mensagem, me acomodei em uma cadeira colocando a mochila no colo, peguei o celular, enviei a mensagem informando que eu havia chegado e fiquei aguardando. Passaram-se cerca de dez minutos e não houve um retorno. Levantei de onde estava e fui até umas das estantes, percorri os olhos em busca de algo do meu interesse. Dizem que alguns escolhem livros pela capa, eu diferente desses aprecio títulos, e um titulo que soava um tanto poético me atraiu a atenção: "Quando florescem os ipês...", do autor brasileiro Ganymédes José, tratava-se de um conto juvenil de edição única com pouco mais de cento e vinte paginas. Li a sinopse, folhei-o avaliando alguns trechos, certamente se tratava de uma boa obra, capaz de prender a atenção a partir do primeiro trecho. Concentrei-me em um desses trechos, foi uma das coisas mais linda que já li apesar de um pouco mórbido:

"Eu gostaria de ser enterrada debaixo de um ipê,sabe?Deve ser gostoso a gente ficar dormindo na terra quentinha,escutando cada flor caindo...caindo...caindo...cobrindo tudo..."

Estava totalmente concentrada no livro que não percebi quando ela se aproximou e parou diante de mim.

_ Faz tempo que você chegou?_ Dei um sobressalto e notei que ela estava muito próxima a mim, eu não tinha me dado conta da sua presença até ela falar.

_Você costuma sempre a aparecer assim? _ Perguntei ainda sentindo minhas faces queimarem. Ela sorriu, como uma criança que rir de uma travessura, com toda certeza era o sorriso mais lindo que meus olhos já viram.

_ Desculpa se te assustei! Parece que você gostou deste. _ Apontou para o livro.

_ Sim! Parece ser muito bom! _ Sorri e ela retribuiu _ Acho que vou comprar.

_ Isso é ótimo! Já provou o café?

_ Não, ainda não.

_ Vem comigo! _ Ela afastou-se e seguir atrás, contemplei-a discretamente, até mesmo naquele uniforme ela ficava linda.

Ela foi para trás do balcão, olhou pra mim exibindo aquele sorriso que me desconcertava, eu estava tensa novamente e não deixei transparecer, ao menos achava que não.

Ela entregou-me um cardápio com uma variedade de café, além de petiscos. Optei pelo expresso e alguns pãezinhos de queijo. Sentei em uma das mesas, voltei a folhear o livro enquanto apreciava o café e os pãezinhos, entretanto já não tinha o mesmo interesse na obra, não naquele momento, meus olhos teimavam em se direcionar naquele balcão. Ela era como um imã que atraia o meu olhar, aquelas palavras expressa no papel já não faziam sentindo, a minha mente já não absorvia o seu conteúdo, estava centrada apenas naquele rosto que meus olhos ansiavam em mirar a todo o momento. Ela afastou-se do balcão e veio em minha direção, fingir está concentrada na leitura. Ela se aproximou e sentou-se em frente a mim dando aquele sorriso (Mas por que diabos ela tinha que sorrir? Isso acabava comigo!) apenas sorri de volta.

_ Então, o que achou?_ Perguntou-me

_ Diferente de tudo que já conheci _ E realmente era _ É tudo tão... harmonioso!

_ Me dá certo prazer trabalhar aqui.

_ Imagino que sim.

Comi o ultimo pãozinho, que por sinal estava delicioso, e terminei minha xícara de café. Ela me fitava sem dizer uma palavra e isso me deixou sem jeito, detestava me sentir assim, mas não conseguia evitar. Numa tentativa de amenizar minha tensão quebrei aquele silêncio.

_ Que horas você sai?

_ Bom..._ Ela olhou pra o grande relógio fixo a parede _ Daqui a vinte minutos

_ Está com fome?

Ela franziu o cenho, mas por fim respondeu:

_ Um pouco, mas por quê?

_ Eu estava pensando se você... se você talvez _ Droga Lavínia mantenha a tranqüilidade _ Se você não aceita jantar comigo ao fim do expediente?

Ela sorriu como se achasse algo engraçado, arqueou as sobrancelhas e por fim falou:

_ Não quero fazer você esperar.

_ São apenas alguns minutos, não será um problema. _ Ela olhava para um ponto qualquer, certamente pensando em uma resposta _ Posso aguardar do lado de fora se preferir.

_ Pode aguardar aqui mesmo, prometo que não vou demorar!

Com certeza aquilo era um "sim". Ela sorriu e levantou, meus olhos a acompanharam até ela sumir atrás do balcão.

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