Início da safra

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Capítulo 1

Por mais que uma mulher pudesse segurar uma arma, nada além do medo seria expressado no sorriso sarcástico de um homem. Mas o tempo agora é outro. Perdida em meio a tudo isso que eles chamam de "o supino para a sobrevivência", não me rogo a contemplar em meio da sabedoria me implantada a algum tempo atrás. É preciso mais do que uma mão forte para levantar a espada; a partir da primeira cabeça que você degola, sua consciência decai junto a aquela cachoeira de sangue registrada em seu arsenal de conquistas. Pois é. Conquista. Aqui o derramar das águas vermelhas é reconhecido como o mais valioso ouro que alguém pode encontrar. A diferença? É que o sangue é você quem derrama... dos outros.

Nona-feira - 20/13/5901

Ao contrário do que se pensa, nem tudo aqui é um mar de desgraça. Nessa sela em que estou, minhas roupas estão sendo costuradas por um homem bonito, que será morto na arena por minhas mãos, enquanto minha comida é recheada de proteínas da mais pura safana nórdica. Apesar da ave ter a carne meio-amarga, aprecio como uma lagosta das eras passadas.

— Ana? Tenho te dado meu dinheiro para conseguir as melhores armas desde sua primeira pisadura na arena de fogo. Mas seu desempenho caiu bastante desde que teve o descendente de Atenas como seu fiel companheiro.

— Cala a boca, velho. Como meu patrocinador, você deveria saber de minha necessidade pra descansar. Estou todo dia me desempenhando naquelas batalhas. O que espera mais de mim? Produção de ouro?

Edgar se tornou o meu patrocinador quando fui levada ao cativeiro junto a minha mãe. Para eles, mulheres são uma maldição. Entretanto uma divida com o meu falecido pai na arena, fez Edgar sancionar um acordo comigo. Eu serei um homem e lutarei na arena por ele.

— Nós fizemos um acordo, Ana. Você tem até o fim desse mês para me arrecadar o dobro de sua última safra. — Ele se virou dando-me as costas. — Pelo breve que não chega, treine e faça meu contrato valer a pena.

Girando a espada que acabo de tirar do fogo, não compreendo se a sensação que eu sinto é de matar ele e por um fim logo nisso tudo ou continuar esperando para ver até onde a minha vida vai (a espada tombou ao chão). Culpa de eu quase ter quebrado a mão direita na última arena. Ser ambidestro pode ser uma benção nesse caso. Mas, ainda assim, preciso das minhas mãos se for preciso escalar a muralha.

— S-suas roupas estão costuradas, guerreiro Ana. — Entrega-me-as o costureiro.

— Lindas para serem rasgadas novamente. — Dou-lhe as costas assim como outrora. Mas dessa vez será a última. Terei sua cabeça registrada em meu arsenal e suprirei o desejo de meu patrocinador. Parece que este é o meu desejo. Por hora.

Próx. capítulo: A Origem do medo.

Ao renascer das cinzas || Pela glória do sangue derramadoOnde histórias criam vida. Descubra agora