Capítulo 3
O quão fria minha alma se torna quando penso na possibilidade de um homem me rebaixar pelo meu sexo, chega a ser tão incompreensível quanto a mentalidade dele. Talvez seja devido a minha doce vontade em provar meus valores. Minha mãe dizia: "Chega de lutar utilizando voz para gente surda. Eles só escutam o que querem e a sua voz não ecoará diante de tanta repugnância...". Talvez os valores dela já estivessem mortos. Isso não me importa. O interessante agora é que tenho a oportunidade de crescer a mentalidade. A mentalidade do que é certo para mim mesma.— Prepare as suas roupas e prenda esse cabelo. O rei quer te conhecer pessoalmente. Tente não revelar sua voz de mulher, ou todos nós seremos degolados antes do fim da safra. — Edgar entrou na minha clausura.
— Talvez não antes de eu degolar ele primeiro. —Retiro a espada de cima da rocha.
— Seja antagônica, mas não contra o rei. Sua coragem e bravura tem que nos render dinheiro e não problemas.
— Desde qual era eu tenho o direito de obedecer um rei? As lei implantadas são sugeridas aos homens. Mulheres são as escravas devido ao seu pecado de não ter nascido com duas bolas.
— Mas você não é uma mulher. Não aos olhos dele.
— Eu sou uma mulher e preciso manter a minha essência.
— Se isso fosse realmente importante para você, não estaria sendo comandada por um homem e não teria aceito minha proposta de ter que negar o seu gênero. — Brevemente irritada. Eu pude perceber. E foi provavelmente isso que o fez me virar as coisas e sair da clausura sem mais.
Enquanto eu estiver viva, estarei provando minha capacidade de ser mais do que um homem pode me julgar. Ser comandada por eles e aceitar a proposta de negar meu gênero nada mais é do que parte de um plano, o que não me faz menos mulher. Se eu estivesse morta naquele cativeiro, não teria valores a provar. De qualquer forma, não adianta falar nada. Minha voz não ecoará e irá se isolar apenas aos meus ouvidos. Então vamos fazer um jogo de surdos. O que os ouvidos não ouvem os olhos contemplam. E a espada sente.
O imensurável portão respingado de ouro foi aberto por dois guardiões de lança. Minha entrada seguiu após a do meu patrocinador. Forrada por uma armadura de prata, mantive meus passos firmes como um guerreiro fraco de luta. Sem peitos grandes, nem cochas protuberantes; não me é exigido muito para esconder quem eu sou, mas meus olhos de leoa intrigam o rei me aguardando em seu trono e por isso desvio o olhar constantemente.
— Vossa majestade. — Edgar se ajoelhou curvando a cabeça, mas diferente dele, me mantive de pé, o que fez ele soar de olhos arregalados. — Guerreiro Ana... — Ele cochichou.
— Tudo bem, Patrocinador. — O rei levantou de olhos em mim. — Levante-se.
Ele verdadeiramente me deixou com medo. Era gordo, olhos puxados, bem alto e não oscilava a direção do olhar fixados em mim. Não pude hesitar em levar minha mão direita até a espada, mas a tremedeira dos meus dedos revelavam minha tensão perante ele.
— O que o rei espera de um gueiro feito eu? — pergunto pressionando firmemente a minha espada.
— Veio a mim algumas mensagens. — Ele segurou a mão nas costas e andou para o lado. — Tem gente lhe achando um lutador incrível, Sabia? Conte-me... O que acha de ser um de meus pro-governo?
Edgar arregalou os olhos. Essa proposta poderia tirar dele 70% de todo o lucro, todavia eu não precisaria mais dormir em cativeiros, pois, acima de tudo, o conforto e a nobreza é oferecido para o guerreiro dessa patente. Serei levada para arenas de outros reinos em virtude de representar este, em nome do rei. Terei lucro, terei saúde, mas não terei vida. É como um pacto com o diabo.
— Me recuso.
Edgar novamente arregalou os olhos.
— Bravo, de sua parte. — O rei retornou para a minha frente. — Desde sua entrada aqui, pude perceber que pouca coisa lhe intimida. Mesmo eu sendo a sua maior autoridade.
— Não lhe julgo..., Majestade, mas o medo é o que me trás aqui. Não quero morrer, o que me faz não quero perder uma luta. — Retiro a mão da espada. — Porém se é aqui dentro que trago dinheiro e reconhecimento, por que me tirar e levar para onde não lhe trará nada além do que outros guerreiros já trazem?
— Suas armas e habilidades trazem mais do que isso. Há tempo que não vejo uma única pessoa derramar tanto sangue na arena. — O rei me dá espaço para uma outra sala. — Permita-me lhe apresentar a cozinha. Teremos um belo jantar hoje a noite.
Do topo da colina, Taurus retirou o binóculo dos olhos quando eu e o rei saímos de vista. Ele estava certamente cumprindo bem com o plano. Manter distância e aguardar para saltar a cerca assim que eu der o sinal. Mas o problema é que ele não estava na colina das muralhas, estava na base de segurança. Ao lado do palácio do rei. Com a sua espada.
Noite — 19/01/5902
A quantidade de pessoas ali presente, todas bem vestidas e com sua tarsa em mão, me trouxe a sensação de felicidade, de que era isso que me faltava. Vestido feito homem, mantive minha postura ereta. Meus cabelos longos não diferiam muito da dos guerreiros, mas a minha falta de barba deixava uma sensação diferente aos convidados na sala. Alguns mascarados passavam como se este fosse um baile de máscaras, já outros só pareciam estar de máscara mesmo. Como o Edgar, por exemplo.
— Ana! Estou bonito?
— Parece que veio comprar batatas.
— O rei me pediu para vestir um terno cinza. Aqui é bem diferente do que eu imaginei.
— Nunca veio aqui?
— Não. Você é a primeira pessoa que me trás aqui.
— Edgar? — Se aproximou um homem de cartola e com uma tarsa de vinho na mão.
— Frederik? Pensei que já estivesse morto!
— Não, não, não, Edgar! Me aposentei depois que meus dois guerreiros trouxeram muitos lucros ao nosso rei. O que anda fazendo? Vamos para o bar e me conte tudo.
Eles retiraram-se me deixando no meio daquela gente toda. Mas minha surpresa veio junta a entrada de Taurus usando uma meia-máscara.
— Taurus? — cochichei para mim mesma enquanto dava o primeiro passo em aproximação a ele.
— Ana! — O rei veio a minha frente. — Aí está você, meu rapaz. Venha, quero que conheça meus filhos e os meus discípulos.
Taurus claramente não sentiu a minha presença e foi diretamente para o meio daquelas pessoas olhando para todas as direções.
...(Acho que tá ficando muito extenso... Esse mesmo capítulo continuará em outra página)...
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Ao renascer das cinzas || Pela glória do sangue derramado
Action- Onde há dor, há fogo; onde há esperança, há dificuldades. É dessa forma que a corda da vida se mantém instável para aqueles que percorrerem por cima achando ser a maior atração desse circo, estando no fim, embaixo, a coações daqueles que estão nem...