Capítulo 2- Obediência

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Eu permaneci deitado sobre o piso, olhando para seu olhar faiscante. Subitamente, senti borboletas dentro da minha barriga, meus batimentos cardíacos aceleraram e certamente se eu falasse minha voz seria trêmula. Era o medo, meu velho inimigo.

Diresh sorria sarcasticamente. enquanto se aproximava, ele estava com os olhos fixos nos meus e com os punhos prontos para realizar um ataque. Quando ele estava a poucos centímetros de min ele parou e disse:

-Eu lhe avisei para manter distância dela, Thomas, mas você me ignorou e agora terá que arcar com as consequências

-Ela nunca ficaria comigo, Diresh, você sabe disso!

Diresh ignorou o que eu disse e pulou em cima de min. A cada soco que ele dava o seu semblante ficava mais sombrio e meu rosto mais machucado até que senti um líquido quente escorrendo do meu nariz.

Eu segurei a camisa dele e o empurrei, ele caiu e tornou a se aproximar de min, mas eu me levantei do chão e comecei a andar para trás com meus olhos fixos nos dele.

Quando ele chegou perto, eu tentei socar o seu rosto, porém ele se desviou e segurou meu pescoço com força, fazendo meus pés saírem do chão.Eu tentava desesperadamente tirar as mãos dele de min, mas eu não conseguia e eu já estava ficando com pouco oxigênio. Tentei evocar algumas palavras:

-Dires...Largue-me- ele obedeceu e me jogou no chão novamente, porém, ele franziu as sobrancelhas, como se estivesse confuso e tornou a se aproximar de min- Saia daqui e fique longe de min, Diresh!- Ele também me obedeceu, como um cão que segue as instruções de seu dono, Diresh  ficou calado, olhando para min, virou-se em direção a porta e saiu do banheiro- Eu fiquei perplexo com o modo que ele saiu . Foi como se por um momento eu tivesse hipnotizado o Diresh.

Peguei papel higiênico no banheiro e limpei o sangue que estava no meu nariz, meu reflexo no espelho apenas mostrava um pouco de inchaço perto do meu olho direito e  um corte pequeno no meu lábio inferior.

Entrei na sala de aula e a professora de filosofia estava escrevendo no "quadro negro", enquanto todos os alunos estavam sentados. Ela não notou minha chegada, assim como os alunos não notaram os machucados no meu rosto. A sala estava como de costume. Os alunos que sentavam no fundo da sala conversavam, e todos que estavam mais próximos do quadro escreviam, embora às vezes se vissem distraídos com conversas.

Sentei-me ao lado de Brenda e atrás de Diresh que estava ao lado de Teresa. Quando me sentei, Diresh se levantou subitamente , como se minha presença o incomodasse. Teresa trocou um olhou para min e depois para ele e então perguntou para onde ele iria,Diresh apenas disse que iria para o fundo da sala, porque queria ficar longe de min.

Brenda, olhou para min com um sorrisinho meigo e perguntou:

- O que você fez com el... Seu rosto está machucado, o que aconteceu?

- Ele me bateu no banheiro, porque eu tinha conversado com Teresa- Brenda fez menção de se levantar da cadeira, na qual estava sentada, com intenções nada amigáveis para com Diresh  e ao mesmo tempo falou:

- Não vou tolerar isso, Tommy!- eu segurei o braço dela e retruquei:

- Brenda, fica sentada ai. Isso pode te prejudicar

- Mas ele te machucou, Tommy, não podes virar o saco de pancadas dele. Você não fez nada de errado, não merece ser tratado desse jeito.

-Eu sei e não quero que você se envolva nisso.

-Sou sua amiga, por isso não posso fingir que não está acontecendo nada.

-Não finja, Brenda, eu entendo que você se preocupa, mas fique calma, sei o que estou fazendo- ela ficou pensando por um momento e finalmente me respondeu com um sorrisinho um pouco sem graça.

- Certo, Tommy, se precisar de algo, saiba que eu estou sempre disponível

- Obrigado, querida

Eu olhei disfarçadamente para Teresa, ela parecia triste com o que tinha ocorrido, no entanto, ela não se pronunciou. Pelo contrário, ela fingiu ignorar tudo e ficou escrevendo no seu caderno.

Eu não copiei o que a professora de filosofia, Marine, escreveu. Apenas fiquei pensando no que tinha ocorrido e no que se passava na cabeça do namoradinho de Teresa. A professora falou sobre concepções de liberdade: Livre-arbítrio, determinismo etc. Mas eu não conseguia prestar muita atenção na aula. Aquela mudança súbita de comportamento do Diresh era intrigante. Por que de repente ele parou de me bater e resolveu se afastar de min, ao invés de me ameaçar, para que eu ficasse longe de sua namorada?Eu não sabia, mas estava prestes a descobrir. Depois de alguns minutos mergulhando nos meu pensamentos , finalmente ,  as palavras de Marine conseguiram minha atenção:

-Vamos dividir a sala em grupos para falar sobre liberdade. Para evitar confusões, eu tomei a liberdade de escolher os integrantes de cada grupo. O primeiro grupo vai falar sobre determinismo e seus integrantes serão: Brenda, Thomas, Marcos e Diresh- Ela continuo a falar dos outros grupos e eu voltei a pensar no que ocorrera comigo.

Após a professora ter falado os integrantes de cada grupos. Os alunos começaram a organizar as cadeiras em pequenos círculos. Eu apenas  deixei minha cadeira mais próxima de Brenda e esperei Marcos e Diresh vir.

Marcos veio até nós e nos cumprimentou. Ele se sentou e perto de Brenda e ficamos calados por alguns segundos até que Brenda resolveu quebrar o gelo.

-Acho que seu amigo não virá,Tommy

- Por que não?- perguntou Marcos

- O Tommy brigou com o Diresh, que parece que não está com vontade de ficar perto do Tommy

- Você o deixou tão assustado que ele tem medo de chegar perto de você, Thomas- Marcos disse num tom de brincadeira, Brenda riu e ele prosseguiu- Diresh! venha sentar conosco, ta com medo do Thomas agora?- Isso fez com que eu me sentisse um pouco assustado, eu não queria que o Diresh pensasse que eu estava  provocando-o , mas a resposta dele me surpreendeu.

- Não te interessa, Marcos! O Thomas me mandou ficar longe dele e eu ficarei. Isso não quer dizer que eu tenha medo dele, não sou um maricas. Eu só estou obedecendo o Thomas- Todo mundo ficou em silêncio por alguns segundos. Porque o Diresh ,desde que o conheci, foi um cara orgulhoso que parecia intocável pelas regras. 

- Diresh , sente-se perto do seu grupo agora!- Ordenou Marine

-Não, eu...não posso

- Eu estou mandando, Diresh, se você não for eu vou te mandar para a sala da psicóloga- Marine cruzou os braços e ficou esperando Diresh obedecê-la, mas ele permaneceu sentado. Ela suspirou- Se você não vem por que o Thomas não deixa então já sei qual é a solução para este problema. Thomas manda ele se sentar próximo de ti- Todos na sala riram, com exceção de Teresa, Diresh e eu que segurei minha risada- Rápido, Thomas, manda ele fazer isso- Eu percebi que ela não estava brincando e , apesar de achar aquilo ridículo, eu olhei para Diresh e ordenei:

-Diresh, sente-se perto de min- Ele me obedeceu novamente. Isso me deixou mais intrigado, porque ele não parecia estar brincando, na realidade, ele expressava raiva. Enquanto, ele se encaminhava até min alguns alunos riram e outros demonstraram surpresa ou curiosidade. Quando Diresh sentou-se ao meu lado ele sussurrou no meu ouvido:

- Eu não sei que truque  você usou para que eu te obedecesse, Thomas. Mas, se o que queria era me deixar mais irritado, então fez bem- Sim, Querido Diário, aparentemente, eu hipnotizei o Diresh. 

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