Desculpa por não ter te visto, o problema foi o Sol. Ele ofuscou minha visão. Ele estava bem do seu lado e não conseguia tirar os olhos dele. Quando ainda caminhava ao longe, até achei que fosse você, mas depois que prestei atenção nele, eu nem consegui mais lembrar que havia outra pessoa. Não se ofenda, por favor, não fiz por mal, mas a luz era tão intensa, tão bonita.
O que eu vi de tão especial? Eu vi minha vida toda, revivi todos os momentos. Como era óbvio, cada passo que eu dei foi para encontrar aquela suprema musa celeste. Eu vi o mundo todo, o universo todo, como se a infinidade da matéria, com sua infinidade de combinações, estivesse parada observando aquele encontro, o infinito toda olhava para o Sol. o centro do universo, e me via contemplado aquela infinita beleza na primeira fileira.
E de onde eu estava eu podia ver de uma forma que só eu seria capaz de enxergá-la. Não era só uma boca, um pescoço, um colo, era o ângulo de que eu via. Como se o Sol fosse feito para a minha contemplação. A combinação da minha altura com a dela, faz com que cada imagem dela seja única para mim. Olhá-la assim é como fitar o precipício em pé na beira do penhasco, hipnotizante, quero mergulhar.
Ela daí se ela mexe assim com todos? Os outros não me importam. Como eu posso desejar que o Sol não aqueça outros corações? Se quando ela clama por amor, há outros para atendê-la, que ela seja feliz com isso. Só se pode amar em liberdade, não a possuo, apenas vivemos um amor juntos. Dentre todos os relacionamentos possíveis em nossas vidas esse é o único que temos em comum, e para nós nos basta. Não preciso da vaidade de dizer que ela é só minha, só preciso que ela seja minha do momento em que nossos lábios se tocam até o momento em que dizem até a próxima. A próxima, sempre vem, assim vivemos cada um de nossos dias.
Desculpa mesmo por não ter te visto, espero que um dia você esteja tão cega como eu. Não há do que ter pena, acredite, o amor possível é sempre o mais belo amor.
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100 dias para mudar uma vida
Non-FictionPor vezes sentimos a necessidade de nos recriarmos. Para isso precisamos olhar para frente, mas também para trás. 50 lembranças e 50 novidades para encerrar um ciclo.