Ira.

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 Era uma vez, um reino cheio de luz e bondade. Neste reino, vivia um jovem rapaz e assim como todos que ali habitam, era cheio de amor e alegria e todos o chamavam de Pequeno Príncipe. O reino prosperava e as criaturas mágicas podiam viver livremente nos bosques e florestas, até que algo terrível aconteceu. Possuído por inveja e ira, o irmão do pequeno príncipe o apunhalou com uma faca. O rei, desesperado, buscou a ajuda de todas as criaturas do reino para que salvassem seu filho, mas nunca houve nada parecido e não sabiam como salvá-lo. Olhando para seu filho assassino, o rei tentou entender o porque de assassinar alguém com seu próprio sangue e revoltado, ele disse:

- Por que matastes teu próprio irmão? Sangue de teu sangue! Por que não o trazes de volta a vida?

O rei não entendia o conceito de morte como outrora. As pessoas em seu reino apenas completavam suas vidas e tornavam-se estrelas no céu, mas seu pequeno príncipe fora cedo, nunca neste reinado isso havia acontecido. Com os olhos fixos aos de seu pai, o filho assassino profanou:

- Tu nunca me amaste como amara meu irmão. Minha existência era a sombra de sua glória. Eu o matei, para que tu saibas a dor de ter aquilo que amas ser tirado de ti. Não o trago a vida, porque não provém de mim este poder. Mas acalma-te, teu filho, teu amado filho, ressurgirá um dia. E trará toda paz de volta para este mundo, mas até lá meu pai, eu reinarei em seu nome. Travarei uma guerra contra teu povo, destruirei tua paz e deleitarei no sangue de tuas filhas. Farei tudo o que abominas. E tu meu pai, apenas observarás e aguardarás o retorno de meu irmão. Por que assim tu dissestes: - " Viva meu filho, cresça e comande meu reino. Quando fores um homem, meu reino será seu. Quando souberes o poder da paixão, poderá comandar meu povo, quando estiveres consciente da razão, poderá tomar minha espada e o poder que a ela pertence, para que enfim, eu possa descansar." Agora meu pai, eu sou um homem... tu poderás descansar.

E então, o filho assassino fincou sua faca no coração de seu pai e o reino foi tomado pelas trevas. Todo o sangue e suor que o rei tivera para poder manter a paz e o amor em seu reino, fora erradicada pelo nascimento de seu primogênito. A morte que fora exilada de seu reino, agora fazia parte daquele mundo. As criaturas mágicas que outrora andavam livremente, temiam ser caçadas, e esgueiravam-se pelas cavernas. O medo tomou conta daquele reino e a morte os acompanhou durante todo o reinado do rei assassino. Após dez mil anos, o rei assassino foi envenenado e nenhum de seus súditos soube curá-lo. Ele implorou para que sua criada, a morte, lhe poupasse a vida. E ela o fez. A morte o curou de sua enfermidade, mas o enjaulou em um abismo que ele jamais pudera sair, até que o homem a quem empunhar sua espada, possa libertá-lo. Disposta a montar a ordem no reino, a morte se decretou soberana. Ela dividiu o reino entre os seres que possuíam luz e os que possuíam as trevas, para aqueles que foram corrompidos pelas trevas, mas ainda possuíam a luz em seu interior, ela os exilou, na esperança que pudessem livrar suas almas deste mal. Os seres de luz foram enviados para uma terra fértil, pacífica e limpa, como seus corações. Os seres das trevas, alimentados pelo rei assassino, foram colocados em uma terra morta, suja e escura, como seus corações. Com o reino em ordem, a morte cumpriu seu papel e conforme fora ordenada por seu criador, vagava por todas as terras e reinos, com o dever de julgá-los por suas ações em vida. Aguardando dia após dia a volta do pequeno príncipe e mantendo o equilíbrio entre os mundos, até a profecia se cumprir.

Isso realmente aconteceu, vovó? – Disse Diana, enquanto se enroscava no cobertor de pele de ovelha. A mulher a beijou a testa e confirmou: - Sim, minha pequena. A muito tempo atrás. Nós somos o fruto desta divisão. – Auriana esboçou um delicado sorriso e sussurrou: - Bons sonhos, querida. – Ela inclinou-se novamente e beijou o rosto da pequena criança, deixando seus caracóis prateados deslizarem por seu corpo. Ela observou a pequena dormir e admirou sua beleza e inocência. Diana era provida de cabelos com lindas ondas castanhas, semelhantes a areia do mar, iguais as de seu pai. Era de um branco pálido e olhos tão azuis quanto o azul do céu, tais como o de sua mãe. Auriana fixava seu olhar na marca no ombro de Diana e tentava entender o que levou a este ato desesperado de Nadine e porque ela não a contou. Por dez anos, Auriana se perguntara o que teria acontecido se ela pudesse evitar os acontecimentos e em todas elas, sua única conclusão era: " Não há como desfazer o que já fora predestinado."

NO FACES.Where stories live. Discover now