Diana.

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O que é a vida afinal? O que é estar vivo? São perguntas que me faço todas as vezes que me recordo da ausência de minha mãe e de como ela foi brutalmente assassinada por um louco. Meu pai uma vez me disse que minha mãe era muito amada em nossas terras, mas por ser tão bela, instigava inveja a quem a avistasse. Que culpa ela teria? Ela não pediu para ser bela, não é? Durante toda a minha vida, fui condenada a viver enjaulada em um castelo frio e escuro, a anos não vejo meu pai e o que me trás paz é saber que minha cuidadora e avó por consideração, ainda permanece comigo e enche meu peito de amor e serenidade. Tenho curiosidade de conhecer o mundo afora, de visitar o vilarejo no horizonte e de viver novas aventuras, como nos livros que li. Talvez as coisas tivessem sido diferentes se eu tivesse nascido em outro lugar ou em outra época, mas pensar nisso é relativo. Talvez se eu não tivesse nascido nesta vida, eu perderia minha avó e pensar por este lado me trás uma angustia devastadora. Por isso Diana do futuro, lembre-se das coisas que a fizeram suportar até aqui e siga em frente. Arrisque-se, sonhe e seja perseverante, quem sabe um dia você finalmente aprenda a viver.

Escrevendo novamente, Diana? – Indagou Auriana enquanto repousava a bandeja de com uma travessa de aço em seu centro, repleta de pequenas rodelas de carne de búfalo assadas. O cheiro da comida contagiou todo o quarto, carne de búfalo era o prato preferido de Diana e Auriana sabia disso. Disposta a compensar os dias de tristeza que Diana havia passado por conta da falta que seus pais estavam fazendo em sua vida, Auriana a guiou até a bandeja e sussurrou ao ouvido da moça: - A muito você se manteve forte, minha pequena criança. Coma, sei que você gosta. Não permita que a tristeza derrube você. – A voz de Auriana soava como cânticos celestes, era suave a apaziguadora, repleta de bondade e amor. Tomada por esses sentimentos tão puros, Diana finalmente sentou de frente para a bandeja posta em sua escrivaninha e tragou as rodelas de carne, uma a uma saciando a fome voraz que ela relutava a não findar. Contente com o progresso, Auriana desceu rapidamente para cozinha e após alguns minutos trouxe consigo uma jarra com suco de cereja, algo que Diana também adorava. Seu coração se enchia se felicidade ao vê-la comer e finalmente estampar um sorriso no rosto, já se fazia oito anos desde que Henry vendeu sua própria alma para livrar Diana da maldição e desde então Diana nunca mais o viu. Aliado a este sentimento de felicidade, a preocupação e a tristeza estavam começando a tomar espaço no coração de Auriana. Amanhã será o vigésimo aniversário de Diana e ela temia que o pior realmente pudesse acontecer. Pensando nisso, Auriana despediu-se de Diana e a deixou com uma pilha de livros para ler, com a promessa de que logo voltaria.

Auriana estava aflita, não sabia como poderia ajudar sem os seus poderes. Sem muitas opções, Auriana dobrou seus joelhos e rezou para que alguém a ouvisse, alguém que ela sabia que podia confiar:

- Trinitatis. – Sussurou a senhora, enquanto unia suas mãos acima da cabeça. Uma aura de um azul celeste brilhava ao seu redor, enquanto pequenos flocos de luz a rondavam. Suas mãos tremiam e seus olhos estavam marejados de lágrimas. Seus lindos olhos dourados brilhavam em meio aquela luz cegante, seus fios prateados pareciam fios lunares, seu sorriso parecia o de uma mãe cheia de esperança e fé. Um anel de luz se formou em volta da mulher, que com a voz carregada preocupação e saudade, proclamou:

- Reconheço que não fui tua melhor guerreira e nem que cumpri minha missão como devia. Mas eu suplico que salve a pequena Diana deste fim cruel. Sei que não é certo mudar aquilo que já está predestinado, mas a menina não tem culpa dos erros de seus pais. Rogo para que com o perdão que a eles foram investidos, possam findar esta maldição. Se necessário for, eu troco minha vida pela a de Diana. Por favor... apenas... deixem-na a salvo. Eu imploro que a salvem.

Sobrepondo aquele céu azul e limpo, uma onda de nuvens escuras o preencheu e a chuva viera logo em seguida. Curiosa, Diana correu até a varanda e se perguntou como de repente começou a chover, se o céu estava tão limpo. Dando de ombros, ela estendeu sua mãos e brincou com as gotas de água que caíam do céu. A água que caia em suas mãos, foram tomando forma e serpenteando toda a extensão de seu braço, até o ombro. Sua marca brilhara em azul e expelia uma fumaça negra. Assustada, Diana correu para se olhar no espelho e avistou sua marca brilhando em azul e já não possuía uma coloração negra. Aquilo a deixou completamente confusa e cheia de dúvidas, sendo uma delas o porque de sua marca reagir a chuva, já que desde criança ela brincava na chuva e isso nunca havia acontecido. Em busca de respostas ela correu até Auriana e não acreditou no que viu. Auriana estava no jardim, seu corpo todo brilhava e seus cachos prateados estavam flutuando. A chuva não a tocava, era como se ela estivesse em uma bolha luminosa. Sorrateiramente Diana se aproximou e indagou:

- O que está acontecendo vovó?

- Diana... – sussurrou, surpresa com a aparição inesperada de Diana.

- Minha marca não para de brilhar, você está brilhando, o que está acontecendo aqui? Todo esse tempo eu nunca presenciei tanto luz nesse castelo.

- Eu não acredito! – Disse Auriana com os olhos cheios de lágrimas e as mãos levadas a boca. Ver aquela marca brilhar era o sinal de esperança que ela imaginava receber.

- Vovó? Pode me dizer porque está agindo assim? E por que está brilhando?

- Vamos sair da chuva, pequena criança. Vou lhe contar tudo.

E ela contou, cada detalhe da confusa e impiedosa história do nascimento de Diana. Como sua mãe teve dificuldades em ter filhos e por isso pediu a ajuda de um ser místico para que pudesse ajudá-la, como fora atormentada por anos após seu nascimento e com o coração vazio e a mente devastada, ela findou sua existência se jogando ao abismo. Como o amor de seu pai o levou a fazer loucuras, vendendo sua própria alma para possuir poderes necessários para salvar sua esposa e filha e como o preço foi tão alto que o fez se arrepender. Diana não continha sua tristeza e pesar por sua própria existência, não conseguia acreditar que para ter existido todas as pessoas que ela amava tiveram que se sacrificar. Não conseguia entender porque Auriana omitiu toda essa história por tanto tempo e como ela poderia findar este ciclo de maldições e sacrifícios. Em prantos, ela pediu para que a levassem e em troca trouxessem seus pais de volta, ela pediu para que nunca tivesse existido e gritou para os sete ventos que tudo que aconteceu era sua culpa.

Senhor, senhor! A menina, algo aconteceu com a menina. – Disse o anão com língua de cobra.

Nada aconteceu com a menina. – Afirmou o homem com um sorriso no rosto. Ele levou suas madeixas castanhas para trás e após puxar a moeda do bolso de seu sobretudo, exclamou: A marca finalmente foi ativada! – Risonho e com um olhar de satisfação, ele caminhara até um pequeno altar e encontrou um pequeno púlpito com uma taça dourada vazia acima do mesmo. A moeda brilhava em tons purpúreos mas foi tomando uma cor avermelhada, conforme o homem derramava seu sangue sobre ela. A cada gota derramada sobre a moeda, a marca definhava, até que finalmente ele cessou o banho sangrento na moeda e a marca havia sumido. O liquido emergindo na taça estava negro e borbulhante, o homem esboçou um sorriso maligno e impiedoso, pôs sua mão em cima da taça e invocou:

- Das pútridas paredes do inferno, eu te invoco. Nos confins da sepultura, eu te invoco. Desperte criatura das trevas!

Está na hora de cumprir com sua promessa.


NO FACES.Where stories live. Discover now