Um convite.

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   O sol estava próximo de se por quando Glenn terminou o projeto da estátua. Aquele filho da puta realmente era muito ágio.
   Logo foi tomar seu banho e seguiu para de arrumar. Com uma camisa "social" branca com uma gravata preta — ele não estava tão social quanto parece. Os dois primeiros botões da camisa estavam abertos e a gravata bem solta, até a altura do primeiro botão fechado — , uma bermuda muito rasgada, seu chapéu-coco que combinava bastante com aqueles putos cachos negros e um tênis, pegou seu longboard e seu violão e seguiu até o shopping.
   Ele só andava quase sempre desleixado, mas sempre limpo. Como dizia ele: "eu sou grunge e não porco".
   Chegando lá, já havia escurecido. Seguiu logo até o terraço. Billy o havia recomendado a animar a lanchonete que domina o terraço.
   O esquema era sempre o mesmo: o músico convidado pagava R$50,00 reais à lanchonete e as pessoas que quisessem pedir uma música dariam R$10,00 reais ao músico e esse dinheiro seria dele.
   Ali, no canto da parede havia um pequeno palco de ferro com direito a iluminação individual, mesa de som, um banco alto, microfone e pedestal.
   Logo que se sentou uma garçonete se aproximou com uma prancheta e ele a pagou.
   — Chegou cedo. — disse a garçonete.
   — Eu posso ficar aqui até o shopping fechar, não é?
   — Sim.
   — Então quão mais cedo eu chegar, mais eu lucro.
   — Esperto. Mas por enquanto não há muita gente.
   — Não tem problemas.
   — Tudo bem. Boa sorte aí.
   — Obrigado.
   Então a garçonete se retirou.
   Logo que terminou de preparar seu violão, logo se pôs a cantar.
   Começou com algo bem básico. Cantava Pais e filhos - Legião Urbana.
   As poucas pessoas que estavam ali o observavam atentas. Elas sentiam que ele não simplesmente cantava. Cada gesto, careta, sacudida ou pausa era algo especial, como se ele cantasse com o coração.
   Logo que terminou, fez uma pequena pausa de um minuto e começou a tocar Patience - Guns N' Roses. Já que havia visto que haviam alguns fãs de rock por ali. Que logo ao ver ele terminar seguiram até ele e o pediram para tocar Smells Like Teen Spirit - Nirvana, essa era uma das músicas que ele conhecia bem até de mais.
   O tempo passara e ele arrecadava seu dinheiro e a lanchonete lotava.
   Ele tocava Meu novo mundo - Charlie Brown Jr. quando algumas pessoas bem vestidas e com bíblias nas mãos entraram e se acomodaram.
   Foi inevitável a troca de olhares quando ele percebeu que era Ashley. Ela o encarava como se estivesse viajando junto com ele na música.
   — O que houve Ashley? — perguntou o pai dela virando o olhar para Glenn — Quer pedir uma música?
   — É... sim. — respondeu ela com uma doce e aguda voz.
   — Pois vá. Pegue. — disse novamente o pai dela tirando uma cédula de R$10,00 reais do bolso e dando a ela que timidamente seguiu até Glenn.
   Ele não havia terminado a música, então ela ficou ali em pé o encarando. Ele olhava para o céu aberto e estrelado daquela noite e viajava naquilo. E ela? Adimirada pelo amor que ele soltava na música.
   No final da música, ele a olhou e sorriu enquanto cantava as últimas palavras e ao terminar ela pronunciou-se:
   — Quero pedir uma música. — disse Ashley em um tom tão baixo e tímido que Glenn não pode ouvir bem.
   — Poderia falar um pouco mais alto, por favor?
   — Quero pedir uma música. —  repetiu ela em um tom mais alto.
   — Diga.
   — Porque eu te amei.
   — Tom Carfi?
   — Ele mesmo.
   — Essa música é muito linda. Boa escolha. — disse Glenn pegando o dinheiro e pondo no bolso.
   Ashley foi se sentar após sorrir para ele e ao ouvir ele começando a tocar.
    — Que música pediu, filha? — perguntou o pai de Ashley ao ver ela se sentar.
   — Eu estava no céu, junto com os anjos no trono de glória... — começou Glenn a cantar.
   — Essa hino é lindo. — disse o pai de Ashley.
   O tempo passara e Glenn já estava se ajeitando para ir a outro canto, o restaurante estava quase vazio quando Ashley, seu pai e seus companheiros se levantaram e seguiram até ele.
   — Você tem talento, meu jovem. — disse o pai de Ashley tomando a frente do grupo — o dom que Deus lhe deu é realmente esplêndido.
   — Muito obrigado pastor. Mas isso não é presente de Deus, é fruto de todo meu esforço.
   — E você não acredita em Deus?
   — Todos acreditamos no que queremos. Somos livres, não é mesmo?
   — Sim, meu rapaz. — houve um minuto de silêncio enquanto Glenn arrumava suas coisas e logo que terminou o pastor continuou — Está de saída? Podemos lhe acompanhar?
    — Não vejo problemas nisso.
    Eles começaram a caminhar juntos até a saída. Ashley o olhava pelo canto do olho enquanto ele debatia com o seu pai sobre religião.
    — Já assistiu o filme "Deus não está morto"? — perguntou o pastor.
    — Sim senhor. Umas 3 vezes.
    — Gostou de como ele prova a existência de Deus?
    — Ele não prova a existência de Deus.
    — Como assim?
    — O garoto é desafiado pelo professor. Eles debatem. O professor morre. E por fim, eles cantam. Em momento algum houve a prova da existência de Deus.
    O pastor ficou em silêncio até eles chegarem no portão.
    — Pastor? — perguntou Glenn.
    — Oi.
    — Ore por mim. Preciso muito de oração.
    — Orarei sim.
    Glenn pôs seu longboard no chão e subiu.
    — Glenn. — disse o pastor.
    — Oi?
    — Temos vagas para músicos na congregação. Sinta-se convidado a participar sempre que quiser. A igreja precisa de músicos como você.
    — Obrigado senhor, pensarei nisso. — respondeu ele.
   Glenn, após dar a resposta ao pastor, olhou para Ashley e acenou com a cabeça e sorriu. Então se virou e partiu.
    — Olha Ashley. — disse o pastor encarando Glenn.
    — Oi? — perguntou Ashley voltando a si. Ela viajara no sorriso de Glenn.
    — Esse rapaz tem futuro. Ele sim será um grande homem. Mas que pena que está perdido nas trevas.
   

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⏰ Última atualização: Jan 09, 2018 ⏰

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A Ascensão de Glenn OwenOnde histórias criam vida. Descubra agora