Capítulo 1

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Para Todas as amigas/leitoras, eu nem sei, amo tanto o carinho que recebo, vocês me dão tanta força para seguir em frente. Essa é a história de uma Brasileira, ela representa todas nós, vai ter um pouquinho do nosso jeito na Maria Clara, sintam-se TODAS mergulhando no universo DE MARTINO. são vocês lá. Vivendo esse amor.

Feliz Aniversário Adeleine Xavier - Inhumas PE, toda sorte do mundo. seja muito feliz. Parabéns!


Maria Clara

O cheiro do peixe sendo cozido na panela de barro se espalha pela casa. Mesmo com todas as janelas abertas para receber a brisa e aplacar um pouco o calor ainda é o cheiro do tempero de minha mãe que predomina.

Cresci com esse perfume de peixe fresco assando ou sendo cozido. O tucupi regando os pratos que mamãe vende aos trabalhadores no modesto restaurante que serve almoço apenas nos fundos de casa.

Meu pai trabalha na fazenda de búfalos, sempre trabalhou como peão a lidar com os búfalos todos os dias desde os doze anos. Não sei direito se um dia ele vai conseguir se aposentar, meu pai e minha mãe amam a vida simples que escolheram viver aqui na ilha.

Marajó é tudo que conheço do mundo, Não por muito tempo. Atravesso o piso encerado a mão por mim que brilha reluzente e encontro minha mãe remexendo as panelas na cozinha.

─ Dá uma olhada na caldeira, vê se já pode colocar os tomates. – Mamãe me pede e destampo a panela. O perfume se espalha ainda mais.

─ Sim. Vou colocar. Acha que vou encontrar esses nossos temperos por lá? – Os olhos dela marejam no mesmo instante, mamãe usa o pane de prato para secar as lágrimas e sorrio. Vou morrer de saudade disso.

─ Pode por favor não me lembrar que é seu último dia em casa?

─ Dona Sara Santos, eu não vou morrer, vou apenas passar uns meses fora.

─ Do outro lado do rio Amazonas é passar um tempo fora. Em Belém, deixar Marajó e atravessar o oceano Atlântico é me deixar.

─ Mãe! – Eu a envolvo pelo pescoço e a encho de beijos. – Vou ter muita saudade. Muita saudade mesmo. Vou telefonar, escrever. Vamos estar mais perto do que pensa, mãezinha.

─ Seus tios estão vindo se despedir, os primos, todo mundo. – Sorrio. Vai ser aquela festa de primos que não conheço, parentes que nunca vi, todos achando que fiquei rica por que estou indo para a Itália.

Minha família sempre foi simples, vivemos nesse lugar escondido e esquecido, não por Deus, por que ele caprichou. Pará é só beleza, só alegria e gente do bem, mas não posso me enganar sobre os problemas e a desigualdade gritante.

Talvez por isso e pelo meu desejo de conhecer mais, saber mais, eu esteja indo embora em busca de sonhos que para alguém criado nesse pequeno mundo de pesca e búfalos não pareça possível.

Eu amo cozinhar. Amo tanto quanto minha mãe, sua comida é famosa na região, turistas vem aqui conhecer seus pratos. Artistas, estrangeiros, todo tipo de gente se mistura aos trabalhadores nas mesinhas velhas e descascadas para saborear a comida honesta e barata.

Aprendi com ela a cozinhar, ela não vai além da comida típica da nossa região, mas eu não, eu quis conhecer mais e aprendi sobre tudo que nós brasileiros gostamos e quero ir além, quero saber mais. Quero aprender mais.

Itália não foi uma escolha especial. Eu escolhi muito mais por conta da língua, aprendi italiano no projeto solidário que a senhora Greta Giardini fundou na cidade há cinquenta anos. O projeto leva seu nome, apoia crianças carentes da região, ensina, arte, culinária e italiano. Foi lá que aprendi.

Série Família De Marttino - Doce do Amor (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora