Vinte e oito anos depois, o jovem príncipe Siddhartha, agora um homem crescido, morava em uma majestosa cidadela junto do pai e seu povo. Diz a lenda que ele conheceu, se apaixonou e casou com uma linda moça, ou melhor, uma princesa, que se chamava Yashodhara.
A vida de casado não foi diferente à Siddhartha do que era antes. Ele gozava dos inúmeros confortos e prazeres que lhe eram propiciados pela riqueza de seu pai, único possuidor do poder político e econômico na cidadela. Como sempre, Siddhartha fazia o que queria, quando queria, onde queria e na presença de quem desejasse.
Dentre as atividades de rotina, sua predileta era lutar. De porte atlético, vigoroso e sempre com ótima disposição, Siddhartha praticava luta diariamente com seus amigos através de um jogo chamado "Kabadi", uma espécie de arte marcial semelhante à luta greco-romana (que viria a surgir séculos depois). Siddhartha havia se tornado um excelente guerreiro, honrado, digno e muito respeitado por todos aqueles com quem convivia.
Enfim, sua vida era extremamente luxuosa e privilegiada.
Segundo a lenda, no exato dia em que completou vinte e nove anos de idade, Siddhartha recebeu de seu pai 3 enormes palácios: um para o verão, outro para o inverno e mais outro para a estação das chuvas. Dessa forma, o rei Suddhohana esperava poupar seu filho de todo sofrimento e preocupação inerentes à existência.
Porém, em certo dia, durante uma manhã ensolarada, Siddhartha ouviu uma maravilhosa canção de harmonia encantadora. A princípio ele não conseguiu identificar de onde a música vinha, sendo assim, ele resolveu caminhar em determinada direção para tentar localizar a origem daquela melodia que lhe era tão gratificante.
A canção era entoada em uma língua estranha e desconhecida a ele, e por isso soava assim tão misteriosa. O que ela dizia? O que significava?
Enquanto Siddhartha prestava total atenção na melodia, sua esposa Yashodhara surgiu sorrateiramente de uma viela escura. Ela caminhava com lentidão, mas não demorou a perceber a figura do marido que tinha o semblante demonstrando uma mórbida curiosidade. Ela então se dirigiu ao marido para que talvez pudesse prestar algum auxílio.
– Yashodhara, que canção sensacional é essa?
– É de uma terra longínqua, meu príncipe. Evoca as belezas do país que a autora conheceu quando criança. As montanhas, vales, florestas e lagos que ela nunca poderá esquecer.
Siddhartha sentiu-se confuso e também surpreso, uma vez que não se lembrava de ter ultrapassado os muros daquela cidadela e, portanto, nunca havia visto nada além. Ele achou estranha a menção de tais lugares, o que lhe causou um grande senso de descobrimento.
– Se tais lugares que você diz são tão belos quanto à música que ouço, então preciso conhecer o que há além deste lugar.
– Meu príncipe, eu ouvi dizer que só existe sofrimento além desses muros.
– O que quer dizer com sofrimento?
– Seu pai foi quem me disse, meu príncipe. E não deve ser mentira. Lembre-se que ele nos deu tudo o que poderíamos desejar. Para quê visitar outros lugares quando estamos rodeados de tanta beleza?
– É verdade, nós temos tudo, e tudo parece tão perfeito. Então, que sentimento é esse que estou sentindo? Se o mundo é assim tão belo, por que será que nunca o vi? Ainda não vi a minha própria cidade. Tenho de ver o mundo com meus próprios olhos!
Siddhartha ansiava conhecer o mundo; desbravá-lo assim como um marinheiro sedento por aventura.
Não demorou muito para o rei Suddhohana descobrir aquela ambição desmedida de seu filho. Como sempre foi obcecado por sua proteção e segurança, mandou preparar tudo devidamente para que nada que Siddhartha visse em sua viagem o perturbasse ou aborrecesse.
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O Renascimento de Buda
SpiritualHá uma lenda na Índia, transmitida de geração em geração, de que Buda renasceria na Ásia após 2.500 anos do seu retorno ao Mundo Celestial (Nirvana). Essa é uma espécie de profecia que ainda pode ser ouvida em muitos lugares ainda nos dias atuais.